História - O melhor do bairro de Praça Seca, Rio de Janeiro, RJ

HISTÓRIA

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A jaqueira centenária da Rua Baronesa em frente a Rua Içá é do tempo do Dr. Bernardino Marques da Cunha Bastos, falecido em 1910, engenhero responsável pelos arruamentos da região. A árvore ficava dentro da sua propriedade, que ia até a Rua Japurá, na época chamada de Rua Adelaide, em homenagem à sua esposa.

 

Coreto da Praça Seca, construido em 1928, a armação veio da Praça Onze de Junho.

 

 O Vale do Marangá


Apresentação

A memória oral exerce profundo domínio nos lugares com densidade demográfica que não se altera ao passar dos anos. Nessas localidades, mesmo não tendo nada escrito, a história permanece intacta, já que vai passando de boca em boca pelas gerações. Nos lugares com acentuado índice de crescimento, onde a população se renova constantemente, acontece exatamente o contrário, pois seus habitantes não são uma grande família como nos lugarejos, mas sim um ser urbano, completamente descompatibilizado do conjunto. Aí a memória oral é fraca, e, com o tempo, tende a desaparecer.
Há muito tempo este tipo de problema vem acontecendo na Praça Seca, onde grande parte da população desconhece seu passado. Atualmente, é difícil encontrar os descendentes dos pioneiros da região, pois a maioria já não mora mais no bairro. Era mister, então, conversar e captar tudo de cada uma dessas pessoas, e, depois, unir os múltiplos dados, para formar uma só história. Tudo isso seria feito na base de entrevistas, pois a bibliografia sobre a Praça Seca é nula. Existem alguns livros que dedicam algumas páginas sobre o bairro de Jacarepaguá, mas, particularmente, sobre a Praça Seca, somente consultando mapas ou poucos documentos.
Dentro deste esquema, resolvi levantar a memória da região. A tarefa não me foi fácil, apesar de conhecer, a priori, muita coisa sobre o passado da praça e ter presenciado muitos acontecimentos, a partir da minha infância. No início da pesquisa, dei uma de detetive particular, a fim de localizar os principais descendentes das famílias pioneiras. Com obstinação, consegui encontrá-los. Todos me receberam bem e prestaram valiosa cooperação. Alguns, como foi o caso do Albano Raimundo (neto do Albano) e Machadinho (filho do Capitão Machado), além das entrevistas, forneceram muitas pistas, pelas quais, após investigá-las com sucesso, consegui ampliar bastante a pesquisa.
A comunicação com essas pessoas foi o grande apoio para a elaboração do livreto, pois só consultei livros para as primeiras páginas desta obra. Alguns órgãos públicos (Diretoria de Parques e Jardins, Serviço de Nomenclatura do Departamento de Edificações e o Museu da Imagem e do Som) também colaboraram.
Se antes de começar soubesse que daria tanto trabalho, talvez não tivesse começado. Mas foi bom eu não saber, pois estou orgulhoso em apresentar tão importante pesquisa.
 

Waldemar Costa - Jornalista profissional e morador da Praça Seca a partir de 1949. Freqüentador da praça (no Cine Ipiranga, onde sua mãe era bilheteira) a partir de 1944. 
                                                                   

Praça Seca, 1º de março de 1986

Waldemar Costa

                                                                                                            Índice

Parte 1 Origens, desenvolvimento e histórico de Jacarepaguá e da região da Praça Seca. A família Teles Barreto de Menezes. O Barão da Taquara e sua família. Dom Pedro II na Taquara. O transporte na região da Praça Seca no século XIX. O surgimento do trem e do bonde. Os primeiros loteamento da Praça Seca.

Parte 2 Os pioneiros da região da Praça Seca: Cândido Benício, Emília Joana e Albano, Maria Luiza e Capitão Menezes, Jerônimo Pinto, Geremário Dantas, Lauro Müller, Capitão Machado, Gastão Taveira, Victor Parames, José Luciano Carneiro, Garcez e Lauro. O pavilhão da esquina da Dr. Bernardino com Pedro Teles.

Parte 3 As grandes reformas da Praça Seca. Estação meteorológica. A FEB recebe a Bandeira Nacional na Praça Seca, antes de embarcar para a Itália. As primeiras edificações e os habitantes pioneiros da praça. As ruas da região e quem foi homenageado nessas ruas. As adutoras do Guandu, nas ruas Baronesa e Albano.

Parte 4 Os primeiros estabelecimentos de ensino da Praça Seca: as escolas Marquês do Paraná, Bahia e Haiti. A inauguração da Escola Honduras. As primeiras escolas particulares: Instituto Tamandaré, Instituto São Luís, Educandário N. S. da Vitória e Externato Geremário Dantas. Década de 1960: o surgimento de diversas escolas públicas e particulares. A Biblioteca Regional. A Igreja N. S. do Sagrado Coração, na Rua Barão. A Igreja Batista da Praça Seca.
 

Parte 5 O futebol. O campo da Associação em plena praça. O Albano. O Parames. O Marangá. Clubes da região da Rua Pinto Teles. O Aceal, Pracinha e o Papai FC. Os jogadores do futebol profissional que moraram na região da Praça Seca, em diversas épocas.
 

Parte 6 Os clubes sociais: Rex, Jacarepaguá TC, Country Clube de Jacarepaguá, o ciclismo e o Velo Clube. Outros clubes: 28 de Agosto, Planalto e Associação do Touring. As escolas de samba: Corações Unidos, Vai se Quiser, União de Jacarepaguá e Império do Marangá.

Parte 7 Os cinemas da Praça Seca. Os filmes rodados na região. "Matar ou Correr", o filme que marcou época, com Oscarito, Grande Otelo e outros artistas da Atlântida, filmado na Rua Barão. Histórico da grande área urbano no início da Rua Barão.
 

Parte 8 O 26º Distrito Policial e seu delegados. Os famosos moradores da região: Godofredo de Matos, Braguinha, Dalva de Oliveira, Rosana Ghesa, Guerra Peixe, Pixinguinha, Gurgel do Amaral, Mário Martins Ribeiro, Raul Caneco, Argemiro Bulcão, Armindo da Fonseca e Joaquim de Oliveira Júnior. Os grandes nomes da política na Praça Seca, a partir do século XIX.

Parte 9 O comércio da Praça Seca na década de 1940. As sinucas: Bernardino, Mau Cheiro e Tenente Nélson. O Sapo, falso candidato a vereador. A rapaziada da praça nos anos 50 e 60. A brincadeira do lago e o Champanhota. O grande torneio de futebol das turmas da praça em 1955. O Bar Maracangalha. A transformação atual da Praça Seca.

 

Parte 1

A região cortada pela Rua Cândido Benício chamava-se nos séculos passados e até início do século XX de Vale do Marangá. Essa várzea é formada a leste pelos morros da Bica, Inácio Dias e da Reunião. A oeste pelo Morro do Valqueire, pertencente à Serra do Engenho Velho: e, ainda, com isoladas elevações conhecidas como Morro da Chacrinha (na Estrada Comandante Luís Souto), Morro Santa Rosa (situado entre as ruas Cândido Benício e Francisco) e Morro do Silveira (na Rua Quiririm). No século XIX, o Morro da Bica (hoje, Fubá) tinha o nome de Marangá.

A palavra marangá vem do tupi-guarani e significa campo de batalha ou lugar de combate. A origem desse topônimo remonta os tempos do Brasil colonial. É possível que alguma das batalhas entre portugueses e índios, estes fugindo do litoral para o sertão, ocorreu na região da Praça Seca. Outra hipótese é sobre a expedição de 1710 do francês Jean François Duclerc, que desembarcou em Guaratiba e fez penosa marcha pelo caminho de Jacarepaguá, onde teve muitas perdas em combates, antes da derrota final na entrada da cidade do Rio de Janeiro. Historiadores afirmam que ele passou pelo local da atual Estrada Grajaú-Jacarepaguá, pois lá foram encontrados, durante sua construção, canhões franceses daquele período. Porém, o francês tinha cerca de mil homens e um guia preto conhecedor profundo de Jacarepaguá. Assim, é viável que Duclerc enviasse outra frente pela atual Rua Cândido Benício, e ali acontecesse lutas de resistência. Talvez, uma das duas hipóteses seja a causa da origem do topônimo Vale do Marangá. (1)

A colonização das terras de Jacarepaguá começou no final do século do descobrimento do Brasil. Após a fundação da cidade do Rio de Janeiro em 1565 por Estácio de Sá, sobrinho do Governador Mem de Sá, e a expulsão definitiva do Francês Villegagnon, outro sobrinho de Mem de Sá governou o Rio de Janeiro: Salvador Correia de Sá. Filho de Felipa de Sá, irmã de Mem de Sá, e de Gonçalo Correia de Sá, ele exerceu o cargo de governador em dois períodos: de 1567 a 1572 e de 1578 a 1598. Quase no final do seu último governo, em setembro de 1594, concedeu aos filhos Martim e Gonçalo duas sesmarias em Jacarepaguá. A sesmaria do Gonçalo Correia de Sá compreendia as terras desde a Barra da Tijuca, passando pela Freguesia e Taquara, até o Campinho. A sesmaria do Martim Correia de Sá era do Camorim até o Recreio dos Bandeirantes, incluindo a grande faixa litorânea. O Gonçalo ocupou sua sesmaria no ano da concessão, fundando engenhos de açúcar. O Martim, ao contrário, dedicou-se a política, inclusive, foi governador do Rio de Janeiro nos períodos de 1602 a 1608 e 1629 a 1632. Por isso, deixou praticamente abandonada a sesmaria de Jacarepaguá. Esses fatos são os responsáveis pela transformação rápida das terras do Gonçalo em complexo urbano, enquanto as do irmão Martim até os dias de hoje ainda têm grandes vestígios rurais.

O topônimo Jacarepaguá deriva-se de três palavras do tupi-guarani: yakare (jacaré), upa (lagoa) e guá (baixa) - "a baixa lagoa dos jacarés". Na época do descobrimento e da colonização, as lagoas da Baixada de Jacarepaguá eram repletas de jacarés, daí o nome. Quando Gonçalo Correia de Sá fundou os primeiros engenhos na atual Freguesia, começou a surgir habitações nas imediações, principalmente onde hoje é a Porta D"Água (Largo da Freguesia). Esse povoado recebeu o nome de Jacarepaguá, em virtude da proximidade das lagoas. Ao passar dos anos, as terras vizinhas também foram chamadas pelo mesmo nome. Nas primeiras décadas do século XVII, a Porta D"Água possuía razoável densidade populacional. Na época, Gonçalo Correia de Sá desmembrou parte da sua sesmaria em foros, surgindo, assim, grandes propriedades. Numa delas, na fazenda do Padre Manuel de Araújo, ergueu-se, também no século XVII, no alto de um penhasco, a Igreja Nossa Senhora da Pena. Com o desenvolvimento do lugar, foi criada, em 6 de março de 1661, a freguesia de Nossa Senhora do Loreto de Jacarepaguá. Essa freguesia foi a quarta do Rio de Janeiro. A primeira foi a freguesia de São Sebastião, instituída no dia 20 de janeiro de 1569, quatro anos após a fundação da cidade. A segunda, em 1634, foi a da Candelária. E a terceira foi a freguesia de Irajá em 1644. A matriz da freguesia de Nossa Senhora do Loreto foi construída em 1664 pelo Padre Manuel de Araújo.

As terras de Jacarepaguá eram ligadas com a freguesia de São Sebastião (atual Centro da Cidade) pelo caminho da Fazenda de Santa Cruz (propriedade dos jesuítas). No século XVIII, a fazenda passou a pertencer à Coroa Portuguesa, quando era governador do Rio de Janeiro Gomes Freire de Andrada, o Conde de Bobadela. Então, o caminho recebeu o nome de Estrada Real de Santa Cruz, cuja denominação durou até 1917, no governo do Prefeito Amaro Cavalcânti, quando seu longo trecho mudou para outras designações, muitas existentes nos dias de hoje: Rua São Luís Gonzaga, Avenida Suburbana (2) , Rua Coronel Rangel (em 1950, mudou para Avenida Ernâni Cardoso), Estrada Intendente Magalhães (em 1962, cedeu parte para a atual Avenida Marechal Fontenele), Avenida Santa Cruz e Avenida Cesário de Melo (nome dado em 1930 a antigo trecho da Avenida Santa Cruz). A Estrada Intendente Magalhães, inclusive, foi trecho inicial da antiga Estrada Rio São Paulo de 1928 a 1950.

Na altura da antiga Fazenda do Campinho, de propriedade de Dona Rosa Maria dos Santos no século XIX, existia um entrocamento, que deu origem ao Largo do Campinho nos tempos coloniais. Esse cruzamento ligava a Estrada Real de Santa Cruz a duas regiões distintas: com a freguesia de Irajá ao norte e com a freguesia de Nossa Senhora do Loreto ao sul, pela antiga Estrada de Jacarepaguá (atual Rua Cândido Benício). Após o Tanque, o viajante seguia pela Estrada da Freguesia (hoje Avenida Geremário Dantas). A Estrada de Jacarepaguá atravessava todo o Vale do Marangá, que por isso também acabou fazendo parte de Jacarepaguá. O vale era passagem obrigatória dos tropeiros e carruagens, que se dirigiam da freguesia do Loreto para Irajá ou para a cidade. O Largo do Campinho estava na rota dos que vinha de São Paulo e Minas Gerais em direção ao Rio de Janeiro. Lá existia famosa estalagem, onde hoje é a garagem e posto de gasolina Rio- São Paulo. Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, pernoitou diversas vezes nessa hospedaria. Inclusive, no dia 9 de maio de 1789, dormiu lá pela última vez, quando se dirigia da Vila Rica (hoje, Rio Preto) para o Rio de Janeiro. No dia seguinte foi preso na Rua dos Latoeiros (atual Rua Gonçalves Dias) e nunca mais retornou pela sua tão conhecida Estrada Real de Santa Cruz. Só saiu da prisão para o enforcamento no dia 21 de abril de 1792.

As duas sesmarias de Jacarepaguá passaram a ter um único proprietário ainda no século XVII. Após a morte de Gonçalo Correia de Sá, a sua mulher e filha, respectivamente, Dona Esperança e Dona Vitória, venderam as terras do esposo e pai, em 1634, para o General Salvador Correia de Sá e Benevides, filho de Martim Correia de Sá e sobrinho de Gonçalo. O general também herdou a outra sesmaria, com o falecimento do pai em 1636. Assim, ele ficou dono absoluto de toda a região, inclusive o Vale do Marangá. O General Salvador Correia de Sá e Benevides, depois da compra da parte do seu tio Gonçalo, passou a morar na casa-grande do Engenho D"Água, que ficou sendo a sede de todas as propriedades. Naquele tempo, Jacarepaguá já estava bastante dividido em foros. Na segunda metade do século XVII, ele fundou, no Vale do Marangá, a Fazenda do Engenho de Fora, situada na antiga Estrada de Jacarepaguá. O engenho de Fora estendia-se pelo lado esquerdo da estrada, do Campinho ao Tanque, incluindo as áreas dos atuais morros da Bica (Fubá), Inácio Dias e Reunião. A sede ficava numa colina atrás do atual IPASE, no Mato Alto. Junto dela, edificada no século XVII, também existia a capela de Nossa Senhora da Conceição. No século XIX, essas construções desapareceram. No mesmo lugar, em 1894, foi construída a Vila Albano por Albano Raimundo da Fonseca Marques, que ainda exista e pode ser vista da Rua Cândido Benício.

O General Salvador Correia de Sá e Benevides faleceu em Lisboa aos 94 anos de idade, em janeiro de 1688, trinta anos depois de ter sido governador geral do sul do Brasil. Deixou as terras de Jacarepaguá para o filho Martim Correia de Sá e Benevides, que foi o primeiro Visconde de Asseca e alcaide-mor do Rio de Janeiro. Mais tarde, no século XVIII, o quarto Visconde de Asseca, também com nome de Martim Correia de Sá e Benevides e neto do General Sá e Benevides, herdou as propriedades. O quarto Visconde de Asseca, nascido em Jacarepaguá em 1698 e falecido em 1777, foi o responsável pelos primeiros vestígios de povoamento da região da atual Praça Seca. Nos meados do século XVIII, foi aberto um caminho secundário para ligar a Estrada Real de Santa Cruz com a Estrada de Jacarepaguá, a fim de diminuir o percurso entre o Engenho de Fora e as terras dos Magalhães, que margeavam as Estrada de Santa Cruz, do Campinho até Realengo. O último dono dessa fazenda foi o Tenente-Coronel Carlos José de Azevedo Magalhães. Em sua homenagem o logradouro recebeu em 1917 o nome de Estrada Intendente Magalhães. Ele foi o candidato mais votado para a Intendência Municipal (atual Câmara dos Vereadores) no ano de 1899.

No ponto da bifurcação do novo caminho com a Estrada de Jacarepaguá surgiu um largo, que recebeu o nome de Largo do Asseca, em homenagem ao dono das terras da região, o quarto Visconde de Asseca. Por metaplasmo popular houve a supressão das duas primeiras letras, e o lugar ficou conhecido como Seca, inclusive também por ter a primeira camada do solo constituída de areia. Mesmo depois de ampliada, a localidade sempre foi chamada de Praça Seca. O caminho que deu origem ao local foi designado, mais tarde, de Estrada do Macaco, em virtude de limitar parte da fazenda do mesmo nome. A Estrada do Macaco pode ser reconhecida hoje em dia pelo seu antigo trajeto: Rua Quiririm, desde a esquina da Estrada Intendente Magalhães até a Rua Luís Beltrão. A partir dessa rua até a Praça Seca. Com a morte do quarto Visconde de Asseca em 1777, as terras do Vale do Marangá (fazendas do Engenho de Fora e do Macaco) passaram a pertencer à família Teles Barreto de Menezes, ancestrais do Barão da Taquara.

Antes de comprar o Engenho de Fora e outras terras em Jacarepaguá, a família Teles Barreto de Menezes era proprietária da Fazenda da Taquara. No século XVII, o dono era Francisco Teles Barreto de Menezes, juiz de órfãos e casado com Dona Inez de Andrade Souto Maior.

No século XVIII, o domínio da fazenda passou pelos descendentes primogênitos até chegar a outro Francisco Teles Barreto de Menezes, bisavô do Barão da Taquara, que morreu no dia 13 de dezembro de 1806, alguns dias depois do falecimento da esposa, Dona Francisca Joaquina de Oliveira Brito, ocorrido em 6 de dezembro de 1806. O casal deixou seis filhos herdeiros: Luiz Teles Barreto de Menezes (avô do Barão da Taquara), Ana Inocência Teles de Menezes, Maria Rosa Teles de Menezes, Catarina Josefa de Andrade Teles, Mariana Penha França Teles e Escolástica Maria de Oliveira Teles. Procedendo-se o inventário, coube como legítima proprietária das terras da Fazenda da Taquara a inventariante Dona Ana Inocência Teles de Menezes. Ela casou-se com João Alves Pinto, que morreu em 28 de fevereiro de 1828. Em 16 de novembro de 1836, também faleceu Dona Ana Inocência Teles de Menezes. Como não teve filho e com os irmãos falecidos, deixou como única herdeira a sua sobrinha Dona Ana Maria Teles de Menezes, filha de Luiz Teles Barreto de Menezes e Dona Maria Felicidade de Gama Freitas.

A Dona Ana Maria Teles de Menezes era casada com Francisco Pinto da Fonseca, português e comendador da Ordem da Rosa. O casal teve dois filhos: Dona Francisca Rosa da Fonseca Teles de Menezes e Francisco Pinto da Fonseca Teles, que mais tarde recebeu o título de Barão da Taquara. Dona Ana Maria faleceu em 31 de outubro de 1840, um ano após o nascimento do Barão da Taquara. Assim, o Comendador Francisco Pinto da Fonseca tornou-se dono absoluto da Fazenda da Taquara e de vários engenhos espalhados em Jacarepaguá, que os antepassados da esposa haviam adquirido através dos anos., inclusive o Engenho de Fora e a Fazenda do Macaco, no Vale do Marangá. O Comendador Pinto faleceu em 23 de fevereiro de 1865, legando todas as propriedades agrícolas para o filho Francisco Pinto da Fonseca Teles, o Barão da Taquara.

O Barão da Taquara nasceu em 25 de outubro de 1839. Quando assumiu a direção da Fazenda da Taquara tinha apenas 23 anos de idade e tornou-se dono da maioria das terras de Jacarepaguá. Possuía muitos engenhos. Os principais, além do Engenho da Taquara, eram o Engenho D"Água e o Engenho de Fora. Desde menino, era assíduo visitante da Quinta da Boa Vista, pois seu pai era guarda-roupa do Imperador Dom Pedro II. Assim, manteve laços fraternais com a família imperial, inclusive o Imperador foi seu padrinho de batismo. Mais tarde, Dom Pedro II freqüentou a Fazenda da Taquara, acompanhado da esposa, Imperatriz Dona Teresa Cristina, onde passaram muitas férias anuais. A irmã do Imperador, a Princesa Dona Leopoldina, também se hospedou na fazenda, para se recuperar de doença grave. Em 1864, o Barão da Taquara foi distinguido com o título de Moço Honorário da Imperial Guarda-Roupa. Em 1865, foi nomeado Tenente-Coronel e Comandante do 7º Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional, onde atuou durante a Guerra do Paraguai. Pelos relevantes serviços prestados nessa guerra, recebeu o título de Comendador da Ordem da Rosa. O Imperador Dom Pedro II outorgou-lhe o título de Barão da Taquara em 21 de outubro de 1882, por sua dedicação ao povo de Jacarepaguá.

O Barão da Taquara realmente pode ser considerado o Patriarca de Jacarepaguá. Além das terras que doou aos empregados e amigos, ele manteve muitas escolas e consertava logradouros públicos, como aconteceu na antiga Estrada de Jacarepaguá, no Vale do Marangá. Ainda muito jovem, ele casou-se com Joana Maria Penna, com a qual nasceram os três primeiros filhos: Emília Joana, Maria Luiz e Jerônimo Pinto. Cerca de vinte anos mais tarde, em 3 de maio de 1881, esposou Dona Leopoldina Francisca de Andrade, que no ano seguinte passou a ser chamada de Baronesa da Taquara, em virtude do título recebido pelo marido. A Baronesa nasceu no dia 1º de agosto de 1862. Seus pais (José Nogueira de Souza e Ana Teresa de Andrade Souza) possuíam grandes propriedades em Santa Cruz. Foi lá que conheceu o Barão da Taquara, que, além da terras de Jacarepaguá, tinha campos de criação de gado em Santa Cruz. Com a Baronesa da Taquara, nasceram mais dois filhos do Barão: em 1882, Francisco Pinto da Fonseca Teles; e, em1884, Ana Teles. Esta casou-se com Alfredo Rudge e teve três filhos: Francisco José, Elza e Raul. Francisco Pinto da Fonseca Teles, que se formou em medicina, casou-se com a sobrinha Maria Emília Marques, filha de Emília Joana. Desse matrimônio, nasceu um único filho: Francisco Taquara da Fonseca Teles.

O Barão da Taquara faleceu aos 78 anos de idade, no dia 30 de agosto de 1918, em sua residência da cidade, no Largo do Paço (atual Praça 15 de Novembro). No dia seguinte, houve missa de corpo presente na capela da Fazenda da Taquara. À tarde, foi sepultado no Cemitério do Pechincha no jazigo da família. Ao seu enterro, além da grande massa popular, compareceram membros do governo republicano, ministros e representantes da câmaras federal e municipal. As terras da região da Praça Seca, ele legou para os filhos da primeira mulher: Emília Joana, Maria Luiza e Jerônimo Pinto. Para a Baronesa e os dois filhos com ela, deixou as terras da Taquara, Freguesia e do resto da grande planície de Jacarepaguá. A Baronesa da Taquara continuou, durante décadas, com o trabalho filantrópico do marido.. Era chamada de "a mãe dos pobres". Ela faleceu aos 97 anos de idade, no dia 23 de dezembro de 1960. Seu filho, Francisco Pinto da Fonseca Teles, morreu anos antes, no dia 31 de julho de 1955. Sua filha, Ana Teles Rudge, faleceu aos 85 anos de idade, no dia 8 de dezembro de 1969. Atualmente, as antigas terras do Barão da Taquara estão loteadas e densamente povoadas. Mas existem as casas-sedes da Fazenda da Taquara e do Engenho D"Água, que foram tombadas pelo Patrimônio Histórico e pertencem aos seus descendentes. A casa da Fazenda da Taquara fica na Estrada Rodrigues Caldas. A casa-sede do antigo Engenho D"Água situa-se numa colina perto da Cidade de Deus, fim da Estrada do Gabinal e início da Avenida Alvorada.(3)

As carruagens, diligências, tropas de cargas e solitários ou grupos de cavaleiros eram os meios de transportes normais para os habitantes da região da Praça Seca chegar à cidade, através da Estrada Real de Santa Cruz. A partir de 1858, com a construção da Estrada de Ferro Dom Pedro II (rebatizada em 1889, com a Proclamação da República, com o nome de Estrada de Ferro Central do Brasil), o trem passou a ser a melhor opção para essa população. Considerado a grande novidade do mundo do século XIX, o trem possuía velocidade espantosa para a época. Era de vagões de madeira e locomotiva impulsionada a vapor, que foi logo apelidada pelo povo de "maria fumaça". Com a presença do Imperador Dom Pedro II, a estrada de ferro foi inaugurada no dia 29 de março de 1858, inclusive também a estação de Cascadura, a mais próxima de Jacarepaguá. Essa estação ficava exatamente no ponto em que a Estrada Real de Santa Cruz cruzava com a estrada de ferro. Por longos anos, no local existiu uma cancela. Em 1930, no Governo do Presidente Washington Luís, foi construída a atual ponte. A inauguração da estação de Madureira foi anos depois, já na República, no dia 15 de junho de 1890.

O trem de fato revolucionou o modo de vida das populações afastadas do centro da cidade. Antes, só se locomovia para longe, a fim de tratar assuntos importantes ou trabalhar. A partir da chegada do trem, esses habitantes passaram a usá-lo em busca do lazer em lugares distantes. Em 1868, junto à estação de São Francisco Xavier, o Conde Herzberg fundou o Jockey Club. No início, eram realizadas quatro corridas de cavalos anuais, com a presença da família imperial. O povo de Jacarepaguá servia-se do trem, para ir ao hipódromo. O próprio Barão da Taquara, apaixonado pelas corridas, ia de trem com a família. Ele, inclusive, possuía cavalos no prado. Um com o nome de Macaco venceu inúmeros páreos. Em 1884, o Barão participou da fundação do Derby Club, outra entidade do hipismo, juntamente com o Dr. André Gustavo Paulo de Frontin. O Derby Club ficava situado onde hoje é o Estádio do Maracanã. Com a fusão do Jockey Club e Derby Club surgiu o atual Jockey Clube Brasileiro, na Gávea.

O primeiro trecho da estrada de ferro iniciava no Campo de Sant"Anna e terminava no Pouso de Queimados. Alguns trens, porém, só iam até Cascadura e voltavam para a estação do Campo, numa operação giratória vagão por vagão. Mais tarde, no final do século XIX, foi inaugurada a estação de Dona Clara, que acabou com o sistema giratório, pois a linha férrea saia da sua rota normal, para fazer uma grande curva em torno dessa estação, que ficava onde hoje é a Praça Patriarca, em Madureira. Essa estação foi construída na antiga chácara de Dona Clara Simões. Todas as terras de Madureira, do Campinho até a Estrada da Portela, pertenciam a Dona Rosa Maria dos Santos, era a Fazenda do Campinho. Dona Rosa faleceu em 1846. Ainda em vida, dividiu parte da sua propriedade a parentes e pessoas amigas. Uns que receberam lotes foram o inventariante Domingos Lopes Cunha e o amigo de Dona Rosa, Vitorino Simões. Mais tarde, Domingos Lopes casou-se com a filha do Vitorino, a Dona Clara Simões. Em 1937, com a eletrificação da Estrada de Ferro Central do Brasil, a estação de Dona Clara foi desativada, já que os trens elétricos não precisavam dar a volta.

Em março de 1875, o acesso de Jacarepaguá para a estação do trem melhorou bastante, com a implantação dos bondes de tração animal, que partiam de Cascadura e atravessavam o Vale do Marangá, pela antiga Estrada de Jacarepaguá (hoje Rua Cândido Benício). A Companhia Ferro-Carril de Jacarepaguá (como era chamada) foi construída e explorada por Etiene Campos. Primeiramente, os bondes ligavam Cascadura ao Tanque. Depois, houve prolongamentos para a Freguesia e Taquara. Na época dos bondes puxados a burro, a vegetação do Vale do Marangá era muito espessa, e o clima bastante frio. O lugar hoje conhecido como Mato Alto era chamado de Sibéria, no século passado. Inclusive, no inverno, em todo o trecho da Estrada de Jacarepaguá, o nevoeiro era tão denso que nas manhãs, mesmo com sol, era difícil ver do bonde as pessoas na calçada. Na época, quem dirigia o bonde era chamado de cocheiro. Ele conhecia os horários dos habitantes da região, parava nas portas das casas, tocava a sineta e esperava o passageiro chegar.

Em abril de 1911, a Light comprou a companhia de bondes do Etiene Campos. Nesse mesmo ano, eletrificou alguns trechos. Nos bondes elétricos, a pessoa que dirigia é claro que não podia ser denominado cocheiro. Passou a ser conhecido como motorneiro. Quem cobrava as passagens era o condutor

Em 1912, um ano após a eletrificação, o bonde de Jacarepaguá serviu de cortejo fúnebre do líder republicano, Senador Quintino Bocaiúva. Ele possuía uma chácara no subúrbio, na estação de Cupertino, que atualmente tem o seu nome. A casa ainda existe, numa colina da Rua Goiás, quase em frente à estação. Antes de morrer, Quintino pediu para ser enterrado no Cemitério de Jacarepaguá. O féretro vaio da cidade. Primeiro, no trem da Central. Depois, no bonde de Cascadura até o Pechincha, acompanhado pelo então Presidente da República, Marechal Hermes da Fonseca. Os bondes marcaram época na região. Antes, só existiam eles. Depois, surgiram os lotações e, a seguir, os ônibus. O bonde 90 era o Taquara. O Freguesia era o 91. Em condições extraordinárias, colocava-se na linha o bonde 89, Largo do Tanque. O Praça Barão da Taquara era o 88 e ia até o Méier, após subir a ponte de Cascadura. Os outros retornavam de Cascadura e faziam o ,contorno num terreno da Rua Nerval de Gouveia. Os bondes de Jacarepaguá foram desativados no Governo de Carlos Lacerda em 1964.

O Engenho de Fora começou a perder sua unidade no princípio da segunda metade do século XIX com a abertura da Estrada do Marangá (hoje Rua Pedro Teles), que cortava grande parte do engenho. Não chegava a ser perfeita paralela à Estrada de Jacarepaguá, pois se aproximava mais de semicírculo em relação a outra. Iniciava na própria Estrada de Jacarepaguá na altura onde hoje é a Rua Capitão Menezes e terminava na mesma estrada onde atualmente se localiza o IPASE. A Estrada de Jacarepaguá, que nos primeiros tempo tinha seu lado esquerdo de ponta a ponta as terras do Engenho de Fora, nos meados do século XIX já possuía grandes áreas desmembradas, que davam fundos para a Estrada do Marangá. No lado direito, se localizava a Fazenda do Macaco, que formava quase um triângulo com as estradas de Jacarepaguá, Macaco (hoje Rua Quiririm) e Real Santa Cruz (hoje Intendente Magalhães).

O primeiro loteamento no antigo Vale do Marangá, em lotes bem menores, foi realizado no início da década de 1890 pelo Barão da Taquara. Foram abertas sete ruas e a Estrada de Jacarepaguá passou a ser chamada de Cândido Benício, homenagem do Barão da Taquara ao amigo e político mais votado nas eleições de 1892 para a intendência municipal, que residia naquele logradouro. Três das novas ruas ficavam perto do Largo do Campinho do lado direito da Rua Cândido Benício, atravessando parte das terras da Fazenda do Macaco: Comendador Pinto, Ana Teles e Pinto Teles. Em 1900, estas ruas foram prolongadas até o Morro da Bica (Fubá). As outras quatro ruas construídas pelo Barão foram: Baronesa, Barão, Emília (hoje Florianópolis) e Albano. Todas terminavam na antiga Estrada do Marangá. As ruas Albano e Emília começavam no lado esquerdo da Cândido Benício, pois os prolongamentos para o lado direito só foram realizados em 1906. As ruas Barão e Baronesa eram as únicas que na década de 1890 atravessavam a Cândido Benício. No meio das duas, também no início da década de 1890, o Barão da Taquara construiu grande praça no lugar do pequeno Largo do Asseca (ou Seca). Naquela época, passou a ser chamada de Praça 25 de Outubro, data do aniversário do Barão.

Entre 1906 e 1909, o Barão realizou outro loteamento no Vale do Marangá, bem mais amplo do que o primeiro, surgindo dezenas de ruas nas fazendas do Macaco e Engenho de Fora. O autor do traçado foi o engenheiro Bernardino Marques da Cunha Bastos, que era sogro do Gastão Taveira e do Januário Acácio (Rei da Banha). O Dr. Bernardino foi negociante de café e delegado de polícia de Jacarepaguá. Em homenagem ao plano de arruamento do Vale do Marangá, o Dr. Bernardino hoje é nome de rua no local. Um ano após terminar o seu trabalho, no dia 9 de outubro de 1910, Bernardino Marques da Cunha Bastos faleceu. Dos novos logradouros, a Rua Capitão Menezes era a maior e se estendia por grande parte da Fazenda do Macaco e Engenho de Fora. Uma parte desse loteamento, o Barão deixou para a sua filha Emília Joana, do Mato Alto até a Rua Capitão Menezes. A outra parte, da Rua Capitão Menezes até o Campinho, para a filha Maria Luiza. O filho Jerônimo Pinto ficou com as terras do Morro da Reunião, no Tanque. Na época do loteamento, todas as ruas eram de barro, inclusive a Rua Cândido Benício, apesar da linha do bonde, que foi pavimentada no final da década de 1920. A maioria, porém, só foi calçada nos anos 50. Na década de 1910, somente três moradores da região da Praça Seca possuíam automóveis: Gastão Taveira, Francisco Albano da Fonseca Marques e Lauro Müller. Num dia de muita chuva e também muita lama, o carro do Senador Lauro Müller ficou atolado na Rua Cândido Benício em frente à fazenda do Capitão Machado. Foi preciso uma parelha de burros para tirar o veículo da lama.

Parte 2

No início do século XX, O Morro Inácio Dias tinha bonito visual, com densa floresta e muitas nascentes. Lá embaixo, no Vale do Marangá, os pioneiros da região possuíam vida bem diferente dos dias de hoje. O cavalo era o auxiliar mais importante do homem. Tudo era feito com ele, inclusive passeios. As mercadorias eram entregues a cavalo: correios, leiteiros, quitandeiros, tripeiros e vassoureiros. Muitas pessoas que hoje são nomes de ruas viveram e confraternizaram-se entre si na região da Praça Seca nessa época. Eles viram surgir o loteamento do vale e, ainda vivos, a homenagem de Ter os nomes vinculados às ruas, devido ao pioneirismo.

A casa onde morou Cândido Benício da Silva Moreira ainda existe. Atualmente, funciona o Educandário Nossa Senhora da Vitória (4), na Rua Cândido Benício número 2.610, em frente ao IPASE. Quando o Cândido Benício construiu aquela casa, em 1885, o logradouro ainda se chamava Estrada de Jacarepaguá. Na década seguinte, por iniciativa do Barão da Taquara, a rua recebeu o nome atual, em virtude dos serviços prestados ao povo de Jacarepaguá pelo jovem médico e político Cândido Benício da Silva Moreira. Ele nasceu em Niterói. No dia 9 de novembro de 1864. Concluiu, com brilhantismo, o curso de humanidades do Colégio Dom Pedro II e se formou pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1885. A tese de doutorado foi apresentada no dia 5 de setembro de 1885: "Estudo Crítico das Operações Reclamadas pelas Coartações Uretrais". Essa tese foi publicada pela Tipografia Carioca e existe um exemplar na Biblioteca Nacional. Foi interno no Hospital da Misericórdia da Corte, e, depois de passar em diversos hospitais, exerceu os cargos de delegado da Inspetoria Geral de Higiene e delegado de higiene de Jacarepaguá.

No dia 30 de outubro de 1892, Cândido Benício recebeu nas urnas verdadeira consagração popular, sendo eleito para o primeiro Conselho Municipal do Distrito Federal. Tomou posse no dia 2 de dezembro de 1892, em sessão de gala do conselho, presidido por Cândido Barata Ribeiro. Depois disso, ainda vivo, sentiu a gratidão popular ao ser dado seu nome à rua onde morava. Cândido Benício faleceu bem jovem aos 33 anos de idade, no dia 19 de dezembro de 1897. O féretro saiu da sua residência na Rua Cândido Benício para o Cemitério do Pechincha, com a presença, entre outras personalidades, do Barão e Baronesa da Taquara. Cândido Benício era casado com Dona Ana (Nicota), descendente da família Rangel de Vasconcelos, de muita tradição em Irajá. O pai de Dona Ana foi D"Antas Rangel de Vasconcelos, antigo intendente (vereador) do Distrito Federal. O seu avô foi o Coronel Rangel de Vasconcelos. A Avenida Ernâni de Cardoso antes se chamava Coronel Rangel em sua homenagem. O irmão de Dona Ana, Carlos D"Antas de Vasconcelos, inclusive, batizou o seu filho com o nome do cunhado: Cândido Benício Rangel de Vasconcelos, que foi promotor da justiça militar. Carlos tinha mais duas filhas: Clarinda e Carlinda.

Emília Joana, nascida na Fazenda da Taquara, no dia 6 de outubro de 1861, foi a primeira filha de Francisco Pinto da Fonseca Teles, que, mais tarde receberia o título de Barão da Taquara. Sua mãe, Joana Maria da Penna, faleceu muito jovem. Quando Emília Joana se casou com o português Albano Raimundo da Fonseca Marques, foi morar no antigo Engenho de Fora, propriedade do pai, o Barão da Taquara. O Albano, no mesmo lugar da antiga sede do engenho, edificou a Vila Albano em 1894, bem mais moderna do que a construção anterior. O Albano nasceu em Portugal no dia 29 de agosto de 1852, veio para o Brasil com apenas 13 anos de idade e faleceu, na Vila Albano, em 18 de agosto de 1903. O casal teve seis filhos, todos nascidos na região da Praça Seca: Francisco (o Chiquinho), Maria Emília (a Mocinha), Albano (o Juca), José (o Zezé), Leocádia (a Cidinha) e Antônio (o Toninho). Como os filhos, Emília Joana também tinha apelido: Miloca.

O primogênito Francisco Pinto da Fonseca Marques nasceu quando Emília Joana tinha 19 anos de idade, em 1880. O Chiquinho casou-se com Joana França. Dessa união nasceram três filhos: Albano Raimundo, Maria Cristina e Marina (esposa do Ministro Álvaro Dias), todo foram morar na Zona Sul do Rio de Janeiro. Francisco Pinto faleceu aos 42 anos de idade em 17 de novembro de 1922. A Maria Emília (a Mocinha) casou-se com o tio, Francisco Pinto da Fonseca Teles, filho do Barão e a Baronesa. O casal teve apenas um filho: Francisco da Taquara da Fonseca Teles. O Zezé, outro filho de Dona Emília, casou-se com a irmã do Washington Bueno, Dona Consuelo Bueno da Fonseca Marques, que tiveram um filho: Paulo Bueno. O Antônio (o Toninho) também deixou uma neta para a Dona Emília: Marília Geanini da Fonseca. Juca e Candinha permaneceram solteiros. A Candinha, inclusive, morou com a mãe até ela falecer. Em 1918, com a morte do Barão da Taquara, Emília (já viúva) herdou parte da antiga Fazenda do Engenho de Fora. As terras foram vendidas aos poucos. Quando Dona Emília Joana morreu no bairro do Flamengo no dia 18 de março de 1949, aos 87 anos de idade, não possuía mais nada na Praça Seca.

As propriedade do Mato Alto, incluindo a Vila Albano, foram vendidas no final da década de 1930, por intermédio do seu filho Zezé, ao jornalista da extinta A Noite, Geraldo Rocha. Este, em dezembro de 1943, revendeu a grande área para o IPASE. Somente a partir de 1956, no Governo de Juscelino Kubitschek, começou a construção do atual conjunto habitacional. Em 1958, chegaram os primeiros moradores. Em 1962, houve grande invasão, quando muitas famílias ocuparam os apartamentos vazios. Em 1978, o IPASE passou a pertencer ao INPS (atual INSS). Assim, todas as terras do Mato Alto fazem parte do patrimônio do IAPAS, mas o conjunto não deixou de ser conhecido como IPASE do Mato Alto. Em abril de 1944, meses após o IPASE comprar a área, o Instituto convidou José Floriano de Souza Portas para morar na Vila Albano, a fim de tomar conta das terras. Atualmente, sua viúva, a octagenária Dulce de Abreu Porta, ainda mora lá com os filhos e mais cinco família de funcionários do IAPAS (5). Dona Dulce é filha de Celestino Fortunato de Abreu, antigo comerciante da região da Praça Seca, no início do século XX. O Celestino possuía um armazém na esquina das ruas Dr. Bernardino e Japurá. Em 1924, ele vendeu o prédio, quando passou a ser a carvoaria, que existe até os dias de hoje (6).

Dona Maria Luiza da Fonseca Menezes, irmã de Dona Emília, portanto, filha do Barão da Taquara com Joana Maria da Penna, era casada com Jerônimo Alpoim da Silva Menezes, o Capitão Menezes. O Barão da Taquara deixou para o casal a outra parte do Engenho de Fora, da atual Rua Capitão Menezes até a Rua Comendador Pinto, e a antiga Fazenda do Macaco, inclusive, o Morro Santa Rosa (localizado no final do Beco Mário Pereira). O Capitão Menezes nasceu em Portugal e faleceu aos 72 anos de idade em 1923. A Dona Maria Luiza nasceu na Fazenda da Taquara em 1865 e faleceu no dia 22 de fevereiro de 1935. Ambos, morreram numa casa que ainda existe na Rua Cândido Benício número 650, que eles construíram na década de 1910, após o grande loteamento das terras. Até a morte de Dona Maria Luiza, ao redor desse prédio, havia grande área arborizada, que ia até a esquina da Rua Pinto Teles. O imóvel era conhecido como sítio do Capitão Menezes.

O Capitão Menezes e Dona Maria Luiza tiveram três filhos: Jerônimo, Bernardino e Joana. Jerônimo era pianista e compositor. Ele faleceu muito jovem, na gripe espanhola em 1918. Bernardino vendeu muitas das terras, após a morte do pai em 1923. Ele casou-se com Arinda Sarres e teve um único filho: Sérgio da Fonseca Menezes. Bernardino faleceu em 26 de março de 1952. Sua esposa e filho morreram recentemente. A filha do Capitão Menezes chamava-se Joana, mas era conhecida pelo nome de Jane. Foi uma das moças mais bonita de Jacarepaguá nas primeiras décadas do século XX. A Jane casou-se com o delegado de polícia Washington Bueno. O casal teve três filhos: Luciano, Osmani e Maurício. O Washington Bueno faleceu em 17 de maio de 1939. Anos depois, a Joana (ou Jane, como gostava de ser chamada), voltou a se casar com Carlos Afonso Botelho Filho, com o qual não teve filhos. A Jane faleceu em 3 de junho de 1949. Os seus três filhos morreram recentemente. Dois deles têm descendentes na região da Praça Seca. A esposa do Osmani, Dona Mercedes Surrage Bueno, reside na Rua Japurá, com as filhas Jane e Ângela Maria. Essas filhas do Osmani vem a ser trinetas do Barão da Taquara e bisnetas do Capitão Menezes e Dona Maria Luiza. No IPASE do Mato Alto, moram Dona Geralda, esposa do Luciano; e os filho Roberto, Sérgio e Sônia Regina, que também são trinetos do Barão da Taquara e bisnetos do Capitão Menezes e Dona Maria Luiza. O Maurício, quando solteiro, morou com a avó na Rua Cândido Benício, mas, depois de casado, residiu sempre na Baixada Fluminense. Com a esposa Carmem, que é irmã de Dona Geralda, teve cinco filhos.

O terceiro filho do Barão da Taquara com Joana Maria da Penna foi Jerônimo Pinto da Fonseca, que nasceu em 1873 e faleceu em 14 de abril de 1930. O Barão deixou para ele a parte das terras do Engenho de Fora situada no Tanque, inclusive o Morro da Reunião. O Jerônimo Pinto foi um dos primeiros administradores do Cemitério do Pechincha. Casou-se com Elvira Barbosa da Fonseca, com a qual teve oito filhos: Francisco, Fausto, Nélson, Lauro, Maria José, Olímpio, Dulce e Sílvia.

Um dos primeiros desmembramentos do Engenho de Fora se deu na Estrada de Jacarepaguá, perto do Largo do Campinho. Nos dias de hoje, pode-se identificar essas terras pelas seguintes dimensões: ao fundo, o morro; na frente, a Rua Cândido Benício: e nas laterais, as ruas Francisco Gifoni e Comendador Pinto. O foreiro dessa propriedade foi mo agricultor Lodovico Teles Barbosa, plantador de café daquela área. O Ludovico foi bisavô do Geremário Dantas, famoso morador daquelas paragens, desde a infância no final do século XIX até as primeiras décadas do século XX, quando se tornou político bastante conhecido. O terreno do atual Externato Geremário Dantas, inclusive, foi doado, após sua morte, para as irmãs da Sociedade das Filhas de Nossa Senhora do Sagrado construir esse estabelecimento de ensino. Antônio Geremário Teles Dantas nasceu no dia 24 de setembro de 1889, na Fazenda do Valqueire, que era cultivada pelo seu avô materno, Francisco Teles (o Chico Teles). A Fazenda do Valqueire ficava na Estrada Real de Santa Cruz (hoje Intendente Magalhães).

Em 1927, os proprietários da fazenda (a propriedade era alugada ao Chico Teles) realizaram o loteamento da área, com ruas largas e nomes de flores, que continuou com a designação de Valqueire.

Na época do nascimento do Geremário Dantas, seus pais já residiam na Rua Cândido Benício, mas a mãe (Dona Francina Teles de Morais Barbosa) foi para a fazenda ao aproximara a hora do parto. O pai do Geremário, Francisco Dantas de Morais Barbosa, foi professor em Jacarepaguá. O casal teve outro filho: Francisco Prisco Dantas, que faleceu em 1955. O Francisco Prisco morou numa casa, por ele construída em 1919, ao lado do atual Externato Geremário Dantas, mas que na época era uma casa vizinha da residência dos pais. Esse imóvel, que até a década de 1980 ,tinha uma oficina de automóveis nos fundos do terreno, foi vendido pelos descendente de Francisco Prisco em 1985, e derrubado no mesmo ano. No segundo casamento do seu pai, com Anália Paranhos, o Geremário teve mais quatro irmãos: Anália, Moacir, Zenaide e Francisco. Todos habitaram, com Geremário e o pai, a casa da Rua Cândido Benício. O Geremário foi advogado, jornalista e escritor. Escreveu muito livros sobre café e política. Foi intendente (vereador) municipal e secretário de fazenda do antigo Distrito Federal (Rio), nos governos dos prefeitos Alaor Prata e Antônio Prado Júnior. Em 9 de julho de 1925, casou-se com Maria da Glória de Sá Freire Dantas, filha do político Milcíades Mário de Sá Freire (prefeito no Governo de Epitácio Pessoa de 1919 a 1920).Depois de casado, Geremário Dantas foi morar na Rua José Higino, na Tijuca, bairro em que residiam os pais da esposa. O casal só teve um filho: Francisco Geremário de Sá Freire Dantas. O Geremário morreu em Petrópolis em 20 de fevereiro de 1935, vítima de leucemia. No dia seguinte, foi sepultado no Cemitério do Pechincha. Um ano depois, em 1936, a antiga Estrada da Freguesia passou a ser chamada de Avenida Geremário Dantas. Sua esposa, Maria da Glória, faleceu em 1975 aos 82 anos de idade, e ocupa o mausoléu ao lado do marido, no Pechincha.

Outro político que habitou o Vale do Marangá nas virada do século XIX para o XX foi o senador Lauro Severiano Müller. Nascido em Florianópolis e diversas vezes governador de Santa Catarina, ele possuía duas moradias no Rio de Janeiro (a capital federal), pois, além de senador, foi Ministro da Viação no Governo do Presidente Rodrigues Alves de 1902 a 1906. Uma residência era nas Laranjeiras. A outra na atual Rua Florianópolis, onde hoje é a Beneficência Portuguesa. O logradouro, que se chamava Emília, passou a ser Florianópolis, após a morte de Lauro Müller em 1926, numa homenagem à cidade em que nasceu. A Rua Emília só não recebeu seu nome, pois já existia na região a Rua Lauro Müller (atual Rua Dias Vieira), onde ele possuía um sítio.

A propriedade do senador Lauro Müller na Rua Emília somava cerca de 150 mil metros quadrados, na qual o ministro construiu, no final do século XIX, uma casa assobradada com cinco janelas de frente, onde se avistava todo o Vale do Marangá (hoje em dia, nesse prédio funciona a secretaria e administração dos sanatórios da Beneficência). Lá o senador catarinense viveu com a família, nas duas primeiras décadas do século XX. Ele era casado com Dona Luiza Andrade Müller e tinha três filhos: Lito, Laurita e Antônio Pedro. Além desses, existia um filho de criação, Galdino José da Silva, que herdou fração das terras do lado da Rua Albano. A maior parte das terras (127 metros quadrados) Lauro Müller vendeu em 27 de outubro de 1923, para a Beneficência Portuguesa. A entidade manteve o casarão e edificou, em diversas épocas, os atuais anexos. Quatro desses pavilhões(um misto, dois femininos e um masculino) formam o sanatório de gereatria. Os outros dois (um masculino e outro feminino) são do sanatório de psiquiatria. Ao fazer esses seis blocos, a Beneficência acompanhou a arquitetura do prédio antigo. O sanatório de gereatria foi inaugurado em 1980, ocupando o lugar do sanatório de tuberculose, que a Baneficência transferiu para outro bairro.

O sítio do Lauro Müller na atual Rua Dias Vieira foi comparado em 1903 em área desmembrada do Engenho de Fora e pode ser reconhecido nos dias de hoje por dois retângulos. Um formado pelas atuais ruas Dias Vieira, Espírito Santo e Carlos Gros, tendo ao fundo o morro. O outro, pelas ruas Dias Vieira, Espírito Santo, Capitão Menezes e Maricá. Lauro Müller vendeu essas terras em 1923 à Companhia Proprietária Brasileira, que as revendeu em loteamento.

Outro ilustre habitante do Vale, no início do século XX, foi o Capitão Francisco da Silveira Machado, que possuía um sítio na Rua Cândido Benício, com 58 mil metros quadrados. O Capitão Machado era sobrinho do General Pinheiro Machado, o maior político brasileiro dos primordios da República. Pinheiro Machado visitava muito as terras do sobrinho na Praça Seca, onde passeava quase sempre montando o cavalo Pachá. O general teve morte trágica em 1915: apunhalado pelas costas por Mauro Paiva, no saguão do Hotel dos Estrangeiros. O Capitão Machado, gaúcho como o tio, nasceu em 1864. Estabeleceu-se em Jacarepaguá em 1900, na Estrada do Pau Ferro, no Pechincha. Depois, em 1902, veio para a Rua Cândido Benício, onde expandiu o trabalho de criador e negociante de animais (burros e cavalos). Vendia os cavalos ao exército e os burros, à prefeitura. Dos cavalos fora de venda, para seu uso, o mais famoso foi mo Pachá, que ganhou o 1º Prêmio da Exposição Internacional de 1908, realizada na Praia Vermelha. O treinador do Pachá era o João Felizardo Alves, o João Paradela. O Pachá morreu em 1921 e foi enterrado na própria fazendinha do capitão. As terras do Capitão Machado ficavam situadas desde o atual Supermercado Leão (7), na esquina da Rua Capitão Menezes com Rua Cândido Benício até junto às lojas do Osório, na esquina da Rua Dr. Bernardino. Os fundos davam para a Rua Pedro Teles. As áreas hoje ocupadas pelo Jacarepaguá Tênis Clube e diversas casas da Rua Capitão Menezes também faziam parte da fazendinha.

O Capitão Machado faleceu aos 67 anos de idade no dia 17 de março de 1931. Sua família continuou com as propriedades até 1938, quando começaram os fracionamentos. A área da Rua Capitão Menezes e Beco Mário Pereira (inclusive, onde é hoje o Jacarepaguá Tênis Clube) foi loteada pela Companhia Territorial Riachuelo. Os desmembramentos que deram origem à Rua Guaporanga foram feitos pelo antigo Banco Oliveira Roxo. A outra grande área, onde ficava a casa-sede da fazendinha, foi vendida a Marcelino Martins Filho, exportador de café. Em 1953, o Marcelino loteou essas terras, surgindo as ruas Dr. Jacundino Barreto e General Vóssio Brígido. A primeira residência desse loteamento foi a do Comandante Francisco Frota, na Rua Dr. Jacundino Barreto, que ficou pronta em 1956. Baltazar, um dos filhos do Capitão Machado, até a pouco tempo morava no que restou das terras do pai, em uma casa antiga no meio de grande terreno, em frente ao Jacarepaguá Tênis Clube. Na década de 1970, ele vendeu esse imóvel, onde foi construído enorme edifício na Rua Cândido Benício número 1.201, inaugurado em 1979. O Baltazar atualmente mora na Zona Sul. O Salvador Machado (o Machadinho), que foi comissário de polícia muito conhecido no bairro, é o único filho do Capitão Machado que ainda reside na região, na Rua Capitão Menezes. Outros filhos: Francisco, que mora no Engenho de dentro; Andreia e Idalea. (8)

O principal responsável pela descaracterização rural da Praça Seca foi sem dúvida o Gastão Taveira. A partir dos primeiros anos do século XX, com suas edificações, inaugurou a era urbana da praça. Dono de grande área, em dois lados da Rua Cândido Benício, do Morro Santa Rosa até a Rua Pedro Teles, ele mandou construir dezenas de imóveis para alugar, alguns ainda existentes. Em 1910, construiu série de casas na Rua Cândido Benício, da esquina da Rua Dr. Bernardino até o atual Edifício Charlie Chaplin; e na Rua Dr. Bernardino até a esquina da Rua Pedro Teles, inclusive, as três vilas que batizou com nomes das filhas mais velhas: Astrogilda, Mafalda e Zuleika. Em frente ao atual Edifício Charlie Chaplin, ergueu famoso sobrado em 1911. Bem antes, porém, em 1901, o Gastão edificou sua residência ao lado do futuro sobrado. O terreno onde mais tarde surgiria o Esporte Clube Parames também fazia parte das suas terras.

O Gastão Taveira nasceu em Portugal em 1877. Aos oito anos de idade, acompanhou seus pais (Joaquim e Leopoldina Taveira) na imigração para o Rio de Janeiro. Anos depois, começou a trabalhar num quiosque na Praça Mauá. Alguns fregueses eram negociantes de café. O contato com eles fez com que aprendesse as artimanhas do ramo. Tornou-se excelente exportador de café e ficou rico ao comprar todo o estoque do café brasileiro e revender para os Estados Unidos. Foi nesse período que adquiriu as terras da Praça Seca e as edificou. O Gastão Taveira casou-se com Dona Julieta da Cunha Bastos Taveira, filha do Dr. Bernardino Marques da Cunha Bastos, autor do projeto das ruas da Praça Seca. O Dr. Bernardino também era negociante de café e proprietário de terras na região da Praça Seca. Morava com o genro na Rua Cândido Benício. O Gastão, além da filhas Astrogilda, Mafalda e Zuleika, teve mais dois filhos, que nasceram após a construção das vilas da Rua Dr. Bernardino: Dulce e Bernardino. Vítima de broncopneumonia, Gastão Taveira faleceu aos 41 anos de idade em 1918. Mais tarde, por causa da inexperiência da família, seus descendentes perderam os imóveis para Ernest Simon, que vendeu tudo para o Banco Francês. Em 1924, o Victor Parames Domingues comprou do Banco Francês todas as propriedades do Gastão Taveira na Praça Seca.

O Victor Parames Domingues nasceu na Espanha em 1872. Com apenas 13 anos de idade, veio para o Brasil trabalhar num botequim. Mais tarde, um tio lhe deixou como herança um armazém em São Cristóvão. A partir daí, iniciou fortuna. Em 1924, comprou os imóveis da Praça Seca e os alugou como fazia o Gastão Taveira. O Parames casou-se com Dona Emília e teve cinco filhos: Leotilde, Victor, Isaura, Laurinda e Afonso. A Isaura, que casou com o político e médico Gabriel Capristrano Júnior, foi a única da família que morou nas terras do pai, no antigo sítio do Gastão Taveira, na Rua Cândido Benício. Na década de 1960, nesse sítio, foram realizadas inúmeras festas da Fundação da Beneficência Espanhola. O Victor Parames Domingues faleceu aos 67 anos de idade em 1939. A partir desse ano, o seu filho Victor Parames Fortes passou a administrar os imóveis até 23 de maio de 1985, quando também faleceu.

O Victor Parames Fortes, em 1956, derrubou parte do sobrado e levantou o edifício, onde atualmente, entre outras lojas, existem a Drogas Mil e os laboratórios de análise. Os apartamentos foram vendidos, e as lojas alugadas. Depois, no início da década de 1960, demoliu o que restou do sobrado, a fim de construir o prolongamento do edifício, mas houve problema com a imobiliária e a obra nem sequer começaria. Somente em 1977 é que o BANERJ abriu sua agência nesse local e paga aluguel à família do Parames. Também na década de 1970, o Victor Parames Fortes vendeu algumas terras da Rua Pedro Teles, inclusive o terreno onde ficava o Esporte Clube Parames; e a grande área da Cândido Benício, onde morou a irmã Isaura com o Dr. Capistrano Júnior. As casas da Rua Dr. Bernardino (as que imitam tijolinhos) ele reformou e retornou a alugar. Além desses imóveis, continuam pertencendo à família: os prédios comerciais da esquina das ruas Dr. Bernardino e Pedro Teles, inclusive a biblioteca; as casas velhas da Rua Cândido Benício, a partir do curso de idiomas até quase esquina da Rua Dr. Bernardino; e as lojas comerciais do prédio em frente ao Edifício Charlie Chaplin, inclusive o BANERJ.

No lugar do Edifício Charlie Chaplin existiu grande área que ia até a Rua Pedro Teles, cujo proprietário, no início do século XX, foi José Luciano Carneiro, também dono do terreno da esquina da praça, onde em 1908 construiu os prédios da padaria Marangá (hoje restaurante Bola Branca), Café Recreio da Praça e da atual farmácia Droga Musa. Na área do futuro Edifício Charlie Chaplin, o José Carneiro ergueu um casarão. Ele locou todos esses imóveis, pois continuou residindo em Cascadura, na Rua da Pedreira. Falecendo em 1929, deixou as propriedades para os filhos: Luciano Carneiro (muito conhecido como Carneirinho) e Maria José Carneiro, que prosseguiram no regime de locação. Entre outros, foram inquilinos no casarão da Cândido Benício: Dr. Manuel de Morais, o Gerard Rocha Duarte (Azinho) e o Cândido Camacho (cabo eleitoral de prestígio na região). Em 1936, Dona Maria José Carneiro casou-se com Frederico Garcez e foi morar no Méier. Em 1945, o casal veio para o casarão da praça, mas não ocupou o terreno dos fundos, que estava arredado pelo português João José. Este transformou a área locada em fértil chácara, com frente para a Rua Pedro Teles (atualmente, no local, existe a vila seiscentos).

O chacareiro João José era casado com Dona Nazareth. Os filhos (Augusto, Toninho, Davi e Esmeralda) freqüentavam a praça e eram conhecidos na região. O Garcez, já no final da década de 1950, entrou na justiça com ordem de despejo para o João José. Porém, este ganhou na primeira instância. Na noite desse dia, o João José festejou e espocou foguetes em direção ao telhado do Garcez. Depois, entretanto, a própria justiça deu ganho de causa ao Garcez, e português abandonou as terras. Em 1960, a antiga chácara foi loteada, e começou a surgir a vila número 600 da Rua Pedro Teles. Em 1968, o casarão da Rua Cândido Benício foi demolido. No local, inaugurou-se, em 1973, um posto de gasolina da Petrobrás, que durou até 1979, quando foram iniciadas as obras do Edifício Charlie Chaplin. Após a demolição do casarão o Garcez com a esposa Maria José, foi morar na Rua Marangá e, depois, mudou-se para Copacabana. Os descendentes do casal são donos da maioria das lojas do Edifício Charlie Chaplin, em virtude da permuta do terreno com a construtora. Também continuam proprietários das três lojas do outro lado da rua: Bola Branca, Café Recrei9o da Praça e Droga Musa.

Na Rua Pedro Teles, ao lado oposto das terras do José Luciano Carneiro, havia outra grande área, que se estendia até à Rua Japurá e pertencia a quatro irmãs cearenses: Maria Ricardina, Maria Henriqueta, Alzira e Henriqueta. Elas, quando se transferiram do Catete para a Praça Seca, na década de 1910, trouxeram um sobrinho ainda pequeno, que, mais tarde, se tornaria o proprietário das terras: Lauro de Matos Mendes. As tias do Lauro morreram bastante idosas no início da década de 1950. Assim, ele herdou a propriedade. Em 1958, loteou a área, com casas de frente para a Rua Pedro Teles e as três vilas, atualmente números 497, 529 e 595, todas também da Rua Pedro Teles. Após o loteamento, foi morar na Rua Marangá, onde faleceu aos 85 anos de idade no dia 22 de novembro de 1980.

Na mesma Rua Pedro Teles, também na década de 1910, Francisco Moreira Felgueiras construiu, na esquina com a Rua Dr. Bernardino, uma pitoresca residência, muito conhecida através dos tempos como pavilhão ou castelinho. Na década de 1930, alugava o pavilhão. Foi nessa época que morou ali o Francisco Sales, pioneiro na profissão de repórter-fotográfico e chefe de reportagem do jornal integralista "A Ofensiva", dirigido por Plínio Salgado. O Francisco Sales era irmão de Liberalina Sales da Silva, casada com o poeta Aníbal Teófilo. Foi o Francisco que criou a filha do casal (Elisa), após a morte de Aníbal Teófilo, assassinado pelo escritor Gilberto Amado, no salão nobre do Jornal do Comércio. A Elisa, mesmo depois de casa, continuou com o tio no castelinho da Rua Pedro Teles. Seus filhos (Aníbal, Alcindo, Arnaldo, Armando, Alcélio e Alberto) foram criados no enorme terreno do imóvel, que media 12 mil metros quadrados e possuía até um campos de futebol. Em 1936, caiu um raio na torre do prédio, destruindo-o parcialmente e provocando revoada de andorinhas, que faziam ninho no sótão. No início da década de 1940, o Felgueiras vendeu o imóvel para Adriano Batista de Carvalho. Durante a mesma década morou ali o Amílcar, irmão de Adriano. Os dois eram da Bahia e hospedaram no pavilhão o ator baiano Zé Trindade, quando este veio para o Rio de Janeiro. O Adriano loteou o terreno em 1949, quando o pavilhão foi derrubado e surgiram as duas vilas e diversos prédios.

Parte 3

A Praça 25 de Outubro, atual Praça Seca, no começo do século XX, mais parecia terreno baldio, com altos e baixos e muitos buracos. Quando chovia, tornava-se verdadeiro pântano por dias seguidos. Em 1901, com carros puxados a burros, o Gastão Taveira mandou aterrá-la e aplaná-la, criando-se ali, mais tarde, o campo de futebol da Associação. Em 12 de setembro de 1918, no Governo do Prefeito Amaro Cavalcânti, o nome passou a ser Praça Barão da Taquara, em homenagem ao barão, que havia falecido em agosto daquele ano. A Praça Barão da Taquara foi por muitos anos a maior em área do antigo Distrito Federal, com 27.904 metros quadrados. Atualmente, é a Segunda do município, pois perde, desde 1957, para a Praça Primeiro de Maio, em Bangu, que tem 32.742 metros quadrados. A primeira grande reforma aconteceu em 1928 no Governo do Prefeito Antônio Prado Júnior. Somente foi restaurado o lado direito. O outro apenas capinado e plantada as atuais mangueiras. Com a urbanização, acabou-se com o campo da Associação, mas a praça ganhou o bonito e atual coreto, que (com exceção da parte de alvenaria) foi trazido pelo Prefeito Prado Júnior da antiga Praça Onze de Junho. A praça também foi ornamentada por jardins, cercados por bancos, colocados no logradouro pela primeira vez.

A Segunda grande reforma foi feita em 1936, iniciadas pelo Prefeito Pedro Ernesto Batista e terminada, no mesmo ano, pelo Prefeito Cônego Olímpio de Melo. As obras foram praticamente do lado oposto do coreto, que, em 1928, ficou sem urbanização. Esse lado da praça estava bastante abandonado na ocasião, com mato bem alto e as poças d"água formando imenso brejo. Com a nova remodelação, a Praça Barão da Taquara rejuvenesceu e tornou-se uma das lindas da capital federal, com 5.198 metros quadrados de área gramada. Os arquitetos de 1936 (David Xavier de Azambuja e José da Silva Azevedo Neto) orientaram seu trabalho em estilo francês, principalmente os três caramanchões. O lago (menor do que o atual) e a escultura do casal de meninos com guarda-chuva aberto. Essa estátua, por muito tempo, foi o cartão de visita da praça. Era muito linda, toda de bronze: o menino segurava o chapéu, com muito cuidado, para não molhar a menina, enquanto ela com pano (retratado em bronze) na cabeça repousava o braço no ombro dele (o cabo era realmente um cano. A água subia e descia pela superfície do chapéu, imitando a chuva). Essa obra de arte sumiu misteriosamente. No final da década de 1950, uma feia e grande jarra a substituiu. Atualmente, no mesmo lugar ocupado pelos meninos de bronze, existe uma escultura de uma moça romana. Outro aspecto interessante da reforma de 1936 foi a colocação de bancos de ferro com tampo de madeira maciça, que também desapareceram. No centro da cidade, Praça Tiradentes e Rua São José, tem bancos iguais, mas não se sabe se foram transferidos daqui para lá.

A terceira grande reforma da praça foi em 1977, quando foi aumentado bastante o tamanho do lago, construindo chafarizes e uma casa de máquina para seu funcionamento. Também foram colocados os bancos de madeira, o que tornou a praça funcional, mas sem o romantismo e beleza da reforma de 1936. Em 1979, o Prefeito Israel Klabin mudou o nome de Praça Barão da Taquara para Praça Seca. Alegando que o último topônimo era mais conhecido. Uma atitude lamentável e que desrespeita a memória do Barão, que vivo fez muito pela população de Jacarepaguá. Tudo podia continuar com era antes: o nome de Praça Barão da Taquara e o apelido Praça Seca, pois nunca ninguém se confundiu ou se prejudicou com tal situação. (9)

O busto do Barão foi inaugurado no dia 29 de outubro de 1939, com a presença do Prefeito Henrique de Toledo Dodsworth. A solenidade fez parte das comemorações do centenário de nascimento do Barão da Taquara, que nasceu em 25 de outubro de 1839. A cerimônia foi transferida do dia 25 de outubro, uma Quarta-feira, para o dia 29 de outubro, que caiu num Domingo. Durante uma semana, houve muitas festas em Jacarepaguá, para recordar a data. A fim de organizar os festejos, foi criada grande comissão, presidida pelo Dr. Gurgel do Amaral, sendo os demais membros os seguintes: Ernâni Cardoso, Pádua Vasconcelos, Onofre Oliveira, Edmundo Bitencourt, Pedro Leitão de Aquino, Adalberto Gardel, Nélson de Barros Vieira do Couto e Manoel Ventura da Fonseca e Silva. O busto do Barão foi feito pelo escultor Benevenuto Berna.

Durante vinte anos, no período de 1946 a 1966, a praça possuiu uma estação meteorológica, localizada no meio do gramado, quase em frente ao atual Supermercado Leão (10). Foi uma época em que a Praça Barão da Taquara era constante no noticiário jornalístico, por apresentar as mais baixas temperaturas da cidade. A mínima registrada foi de 8.6 graus no dia 20 de junho de 1952, quando chegou a cair granizo. O piso da praça ficou branco, coberto de pedras de gelo. Recentemente, em janeiro de 1980, também caiu gelo na praça, mas com menos intensidade. Outra temperatura muito baixa apontada pela estação meteorológica da praça foi em 13 de outubro de 1947, cujo termômetro acusou 8.8. A região da Praça Seca também teve problemas com a natureza em janeiro de 1966, quando o Grande Rio sofreu com as chuvas, que provocaram muitas tragédias. No ano seguinte, em fevereiro de 1967, aconteceram novas enchentes, provocadas pelas chuvas, que, como no ano anterior, foram verdadeiros aguaceiros dias seguidos.

No início da década de 1940, foram colocados os trilhos para os bondes dar a volta pela praça do lado onde hoje é o Country Clube de Jacarepaguá. Algum tempo após a inauguração desse retorno, um bonde descarrilou, na esquina da Rua Barão com a praça, e entrou na bilheteria do Cine Ipiranga. Noa anos da década de 1930, havia um desvio na própria Rua Cândido Benício, nas imediações onde hoje é o Supermercado Sendas. A operação era demorada, mas sem causar complicações devido ao diminuto trânsito da época. Na década de 1960, após os bondes saírem do tráfego, um ficou bastante tempo em exibição pública na praça, em frente ao Country Clube, mas foi destruído pelo vândalos.

No tempo em que a praça não estava urbanizada e só existia o campo de futebol da Associação, ficaram famosas as missas campais, que o Francisco José de Souza, o Chico do botequim, mandava realizar no local. Na década de 1930, o Deputado Ernâni Cardoso também promoveu grandes festas com holofotes, coisa rara na época. Durante a II Guerra Mundial, o povo de Jacarepaguá entregou a Bandeira Nacional para a tropa da Força Expedicionária Brasileira, numa cerimônia na Praça Barão da Taquara. Essa bandeira percorreu os campos de batalha da Itália, empunhada pelos soldados da FEB, inclusive na tomada do Monte Castelo. Na volta, no Dia da Vitória, a bandeira fez parte do desfile na Avenida Rio Branco. Muitos dos pracinhas moravam na região da Praça Seca. O Hélio, da Rua Florianópolis, atualmente oficial de justiça (11), por exemplo, foi um dos sobreviventes do torpedeamento do navio Itagiba em 1942. Algumas ruas da região são homenagens ao heróis da II Guerra Mundial: Comandante Luís Souto, Comandante Simião, Sargento Luís Pires e Sargento Sebastião Chaves. A Rua Tenente Frederico Gustavo, antes chamada Travessa Itapuca, é em memória do aviador da FAB, Frederico Gustavo dos Santos, que morreu em combate no dia 13 de abril de 1945. Seu avião foi abatido por estilhaços do depósito de munições que ele mesmo explodira. Quando terminou a guerra, houve carnaval na praça, com muitos blocos. A antiga Escola de Samba Corações Unidos, por exemplo, desfilou da Rua Pinto Teles até a Praça Barão da Taquara.

Nas primeiras décadas do século XX, toda a área em frente da praça do lado o0nde hoje está o coreto era grande pasto de criação de carneiros do Major Barreto, que ocupava um quarteirão inteiro até a Rua Gastão Taveira. Depois, o major desmembrou e vendeu grandes lotes, quando começaram a surgir as edificações. Antes da inauguração da Escola Honduras, existia no mesmo local a residência do dentista Dr. Sílvio Ferreira. Ao lado, na esquina da Rua Baronesa, o Professor Manoel Castilho, fundador do Instituto Tamandaré, fez sua residência. Depois, alugou para o Gerard Rocha Duarte (Anzinho) e para o Dr. Fiuza de Cerqueira. Atualmente, reside ali o comerciante José Gonçalves, que demoliu a casa velha e levantou a atual. O prédio do outro lado da Escola Honduras, o Edifício Nair, foi construído pelo Dr. Otacílio Dantas Barbosa dos Santos, que o batizou com o nome da esposa: Nair Pires Ferreira. O Dr. Otacílio era primo do Geremário Dantas. Sua mãe, Maria Dantas Barbosa dos Santos, era irmã do pai do Geremário, o Professor Francisco Dantas.

Na praça, onde hoje é a Escola Armando Lombardi, morava o fiel da alfândega Joaquim Gonçalves Fernandes Pires, no início do século XX. Foi ele que também construiu a casa ao lado da escola, que foi derrubada para dar lugar a atual agência do Banco Bamerindus (12). Nessa casa, na década de 1930 e início da de 1940, residiu a Dona Sofia. Depois, ela foi ocupada pela família Montenegro Cairrão, cujos irmãos Marialvo, Mauro e Marlene são descendentes por parte materna do Joaquim Pires. Outros da progênia do Pires, habitavam o outro lado da praça: Dona Narcisa (mãe do Vavá), onde hoje é o Edifício Solar da Praça (ao lado do antigo Supermercado Leão); e o Mário Pires, que ainda mora numa residência da Igreja Batista (13). Ainda na década de 1930, ao lado da casa da Dona Sofia, existia a chácara do Daniel. Esse lote, onde hoje tem um edifício, também pertenceu ao Américo Bebiano, proprietário do Cine Ipiranga. O dono do terreno do atual Country Clube de Jacarepaguá foi Eduardo Botelho, que o vendeu para o Afonso Nunes (famoso leiloeiro). Nas décadas de 1940 e 1950, o Botelho alugou a casa principal da sua área para Hermínio Pessoa da Silva. A outra parte, que ficava numa das laterais, foi locada para o espírita Machado. O terreno ao lado, hoje pertencente `Prefeitura, foi comprado, no início do século XX, pelo casal Ezequiel e Inácia Barbosa diretamente ao Barão da Taquara. A Dona Inácia era muito conhecida na região pelo Dom de rezadeira. Após sua morte, a propriedade passou para a filha Zilda Barbosa do Nascimento, casada com o português Antônio Manoel do Nascimento. Os filhos da Dona Zilda (Glória, Celso, Pinião e Ninico) foram criados na praça. O Antônio Nascimento faleceu em 1944; e a Dona Zilda, em 1965. Mas antes da morte de Dona Zilda, a família perdeu o terreno para a Prefeitura do antigo Distrito Federal, em 1957, por não pagar os impostos.
O atual edifício da Rua Barão número 933, em frente à praça, foi erguido na década de 1920 por Manoel Magalhães Bastos, no local onde existia uma vila de quartos. O Manoel Bastos também construiu as lojas comerciais da praça, na Rua Barão, com exceção do botequim na esquina com a Rua Cândido Benício (14), que foi feito por Souza Almeida, no começo do século XX. O prédio da Rua Cândido Benício, onde hoje está o Big Bar e a Sapataria Primorosa, bem como a vila São José, na Rua Cândido Benício número 2001, também foram levantados por Manoel Bastos. O imóvel da esquina da Rua Barão com a Cândido Benício, onde hoje funcionam as lojas do açougue, Lanchonete Ramalhense, Bel-Dete e relojoaria (14), edificados por Souza Mendes, foi o botequim do Francisco José de Souza, estabelecido ali a partir de 1910. O Chico, como era conhecido, morava nos fundo do atual açougue, com a esposa Maria Augusta dos Reis de Souza e os oito filhos: José, Elza, Sílvio, Francisco, Carlos, Mário, Orlando e Paulino, todos criados na praça. O Chico mandou vir de Portugal, ainda na década de 1910, o irmão da esposa, José dos Reis. Depois, nos anos da década de 1920, trouxe o outro da esposa, o Bernardino dos Reis. O José e Bernardino, mais tarde, após a morte do Chico, continuaram com o botequim. Do outro lado da rua, a série de lojas que tem na esquina o Sorvetão, foi construída também no início do século XX por Jorge Félix Faure. O seu filho, Dr. José Faure, muito conhecido na região, possuiu consultório médico ao lado da antiga farmácia, que já se chamou Farmácia Faure, e Drogaria Abolição. Outros filhos do Jorge Faure: Dr. Antônio, Glória, Amélia, João e Élida. A Élida ainda mora numa das duas casas da família na Rua Barão ao lado do Sovertão. A outra foi vendida para o Antônio Correia, antigo comerciante da Padaria Marangá (15). O Jorge Faure alugava as lojas, mas ocupou uma delas no ramo de artigos para a costura. Esse armarinho, depois, passou a ser dirigido pelo marido da sua filha Glória, o Francisco Chimeli.

A Rua Cândido Benício, que divide a praça ao meio, atravessa todo o Vale do Marangá, fazendo esquina com outras vinte ruas. Muitos homenageados desses logradouros, como o próprio médico Cândido Benício, residiram na região. Outros, talvez até nunca tenham passado por aqui. Vejamos quem foram as pessoas que emprestaram seus nomes para as ruas que cortam a Cândido Benício, do Campinho até o Tanque:

Rua Francisco Gifoni - farmacêutico famoso, que faleceu em 1934 aos 68 anos de idade. Pioneiro a introduzir no Brasil os extratos fluídos, que só existiam na Europa. Em 1935, o trecho inicial da Rua Teles recebeu seu nome.

Rua Comendador Pinto - Comendador Francisco Pinto da Fonseca, pai do Barão da Taquara.

Rua Ana Teles - Ana Teles Rudge, filha do Barão da Taquara.

Rua Pinto Teles - médico Francisco Pinto da Fonseca Teles, filho do Barão da Taquara. Rua Dias Vieira - João Pedro Dias Vieira, falecido em 1870. Foi Ministro da Marinha durante a Guerra do Paraguai. A rua recebeu seu nome em 1993. Antes, era Rua Lauro Müller.

Rua Capitão Menezes - Capitão Jerônimo Alpoim Menezes, casado com Dona Maria Luiza, filha do Barão da Taquara.

Beco Mário Pereira - Um grande erro. Esse logradouro foi em homenagem à parteira Maria Pereira, que morou ali no século XIX e primeiras décadas do século XX. Maria Pereira fez trabalho de parto em quase todas as pessoas nascidas naquele período na região da Praça Seca. Não se sabe quem trocou o nome de Maria por Mário.

Rua Guaporanga - planta brasileira medicinal da família das mirtáceas. A rua ia se chamar Aracuã (nome tupi de ave da família dos cracídeos), mas, por sugestão de um dos seus primeiros moradores, o farmacêutico homeopata Henrique Bandeira, pai do ex-massagista do Flamengo e Seleção Brasileira João Carlos Bandeira, foi oficializada como Guaporanga.

Rua Dr. Jacundino Barreto - engenheiro e professor. Foi responsável pelas obras de saneamento da Baixada Fluminense. Lecionou no Colégio Dom Sebastião Leme e foi diretor do Ginásio Santa Cruz. Faleceu em 1935. Foi dado seu nome à rua em 1953.

Rua General Vóssio Brígido - General Rodolfo Vóssio Brígido, nascido no Ceará. Foi professor de Português no Colégio Militar, onde começou a lecionar no início do século XX, quando era tenente. Faleceu em 1951. O fato interessante é que, após seu falecimento, alunos do Colégio Militar, num abaixo-assinado, pediram à Prefeitura Que a antiga Rua Universidade, que ficava perto do colégio, recebesse o nome do general, que foi seu primeiro habitante. Mas, sem que ninguém soubesse o motivo, essa rua foi oficializada com o nome de Deputado Soares Filho em 1953. No mesmo ano, passou a ser chamada de General Vóssio Brígido a rua da Praça Seca.

Rua Dr. Bernardino - engenheiro Bernardino Marques da Cunha Bastos, autor do projeto que traçou as ruas da região da Praça Seca. Morou na Rua Cândido Benício.

Rua Baronesa - em homenagem à Baronesa da Taquara.

Rua Barão - em homenagem ao Barão da Taquara.

Rua Florianópolis - lembra a capital de Santa Catarina, por causa do Ministro Lauro Müller, nascido em Florianópolis e que morou nessa rua. Antes, se chamava Emília, em homenagem à Dona Emília Joana Fonseca Marques, filha do Barão da Taquara.

Rua Albano - Albano Raimundo da Fonseca Marques, marido de Dona Emília. Estrada Comandante Luiz Souto - Luiz Felipe de Figueiras Souto, oficial da Marinha de Guerra, um dos 337 mortos no acidente com o Cruzador Bahia, no dia 4 de julho de 1945, durante a II Guerra Mundial. O antigo Caminho da Chácara recebeu seu nome em 1951.

Rua Godofredo Viana - senador pelo Estado do Maranhão, durante a década de 1930. Freqüentava muito a casa do Galdino José da Silva, na Rua Albano. Foi justamente por iniciativa do Galdino que o antigo Caminho do Sapê passou a se chamar Godofredo Viana em 1934.

Ladeira da Reunião - por causa do próprio Morro da Reunião.

Rua Nuporanga - antiga Rua Batista Pereira. Recebeu o nome atual em 1942 em homenagem à cidade de Nuporanga, em São Paulo. Nuporanga é palavra tupi-guarani que significa campo belo.

Rua Elvira da Fonseca - esposa do Jerônimo Pinto da Fonseca, filho do Barão da Taquara.

A Rua Pedro Teles, paralela à Cândido Benício, antiga Estrado do Marangá de Baixo, é em memória do tio do Barão da Taquara, Pedro Antônio Teles Barreto de Menezes, que foi irmão de Dona Ana Maria Teles de Menezes, mãe do Barão. A Rua Japurá tem o significado em tupi-guarani de mentira. No início do século XX, seu nome era Rua Adelaide (esposa do Dr. Bernardino). A Rua Içá também vem do tupi-guarani. Içá é um tipo de formigas cheias de ovos, que surgem em bandos na época do calor. Os indígenas comiam os içás fritos com um pouco de sal. Japurá e Içá são nomes de rios na Amazônia. A Rua Capitão Machado é em homenagem ao fazendeiro local, Capitão Francisco da Silveira Machado.

A Rua Maricá foi aberta em 1925, com apenas 200 metros após a Rua Capitão Menezes. Não tinha seguimento e terminava na Rua Lauro Müller (atual Dias Vieira). A Lauro Müller ia da Rua Cândido Benício até a Rua Araruama (hoje Espírito Santo). Essas três ruas são do loteamento de 1925, nas terras do Capitão Menezes. Em 1933, é que a Rua Lauro Müller passou a ser chamada de Rua Dias Vieira, estendendo-se novo trecho até a Rua Japurá, que também em 1933 teve prolongamento a partir da Rua Capitão Menezes. As aberturas desses logradouros acabaram com o antigo campo de futebol do Marangá. A Rua Araruama trocou o nome para Rua Espírito Santo em 1948. As ruas Maricá e Araruama tiveram esse nome numa alusão às duas lagoas do Estado do Rio de Janeiro. São palavras do tupi-guarani. Maricá significa espinheiro ou planta espinhosa. Araruama, comedouro ou bebedouro das araras. A Rua Maricá em 1935 teve grande prolongamento em direção ao Campinho, unido-se com a Rua Teles. A Rua Teles é bem antiga e vem desde o início do século XX. Ao contrário do que se pode pensar, ela não é homenagem à família do Barão, mas sim da ascendência do Antônio Geremário Teles Dantas, donos das terras daquele trecho na época da criação da rua.

A antiga rua Itapuca, antes conhecida como Rua 21 de Maio, passou a se chamara Gastão Taveira em 1948, numa justa homenagem, embora tardia, ao personagem de muita importância no desenvolvimento da região. A Rua Parintins na década de 1920 tinha o nome de Rua Lorina. A Estrada do Macaco dividiu-se em diferentes épocas, formando dois logradouros. Em 1934, surgia a Rua Luís Beltrão, originada pelo final dessa estrada (da atual Quiririm até a Parintins) e pelo Caminho do Valqueire. Em 1941, outro trecho da Estrada do Macaco, o mais longo, recebeu o nome de Rua Quiririm. A Rua Jerônimo Pinto lembra Jerônimo Pinto da Fonseca, filho do Barão da Taquara. A Rua Francisco recorda um dos netos do Barão, o advogado Francisco Taquara da Fonseca Teles, filho de Francisco Pinto da Fonseca Teles. A Rua Guarapes foi oficializada em 1933. Antes, chamava-se Elza, outra neta do Barão, Elza Teles Rudge, filha de Ana Teles Rudge. A Travessa Pinto Teles, no início do século XX, era Rua Maria Luiza, em homenagem à filha do Barão, Maria Luiza da Fonseca Menezes, esposa do Capitão Menezes.

Em 1954, nas ruas Luís Beltrão, Baronesa, Marangá e Capitão Menezes, realizaram-se escavações para colocações de enormes manilhas, com diâmetro de 1 metro e 75 centímetros, que foi parte da obra da Adutora Henrique Novaes, cujos percurso total é do Rio Guandu até a represa dos Macacos, onde abastece de água toda a Zona Sul. A adutora, na sua passagem, também fornece água para outras localidades, inclusive à região da Praça Seca, através do reservatório do Morro da Reunião, no Tanque. Quando a escavação da gigantesca vala chegou na esquina da Rua Cândido Benício, o trânsito foi desviado. Mas os usuários dos bondes tinha que fazer baldeação. Os bondes vinham de Cascadura até em frente ao atual Chopão (16). Ali os passageiros saltavam e pegavam outro bonde estacionado no meio da praça, a fim de continuarem a viagem à Freguesia ou Taquara. Houve muitos acidentes durante a construção da adutora na Praça Seca. O mais grave foi a morte de um operário, que trabalhava no fundo do valão na Rua Baronesa, em frente ao terreno do General Lauro Dias Barreto, quando houve um desmoronamento de terra em cima dele. A propriedade do General Barreto era onde existe os imóveis da Rua Baronesa números 716, 729, 730 (a vila) e 750 (a Academia Corpus). O terreno era bem grande, com um casarão no centro. Tinha duas frentes: na Rua Baronesa e na Rua Barão.

Há outra adutora do Guandu na região, que percorre totalmente a Rua Albano. Foi realizada no Governo de Carlos Lacerda e inaugurada em 1965 pelo então presidente do Departamento de Águas e Esgotos (atual CEDAE) Veiga Brito. Ao contrário da que passa pela Rua Baronesa, a adutora da Rua Albano foi escavada em túnel, cujas dimensões médias são de quatro metros de largura por três de altura. Ela também abastece a Zona Sul e tem diversas interligações no trajeto. Uma delas é na Rua Urucuia, com saída para a Henrique Novaes (Rua Baronesa), para o Juramento e para a Barra da Tijuca. No final da Rua Albano, desvia em direção à Rua Barão, onde atravessa o Morro Inácio Dias. No local, a partir de 1963, surgiram os primeiros barracos da atual Favela São José, levantados pelos operários durante a construção do túnel.

Parte 4

Mesmo em forma elementar, o ensino não existiu praticamente em Jacarepaguá, na primeira metade do século XIX. A população escassa, essencialmente agrícola, transmitia aos filhos conhecimentos sobre os segredos da fertilização da terra ao invés de instruí-los sobre cultura geral. Somente filhos de alguns fazendeiros é que recebiam instrução escolar. Mas as aulas eram nas sedes dos próprios engenhos, com professores particulares. A primeira escola pública de Jacarepaguá foi criada em 4 de janeiro de 1842. Provavelmente ficava na Porta D"Água, na Freguesia, que era o local mais povoado do bairro naquela época.

Na região da Praça Seca, as escolas primárias só apareceram no início do século XX. Um grande incentivador do ensino na região foi o pai do Geremário Dantas, o Professor Francisco Dantas de Morais Barbosa, conhecido como Chico Dantas. Foi diretor de várias escolas públicas. Na época, só havia o primário na Praça Seca. Quem quisesse prosseguir com o curso secundário teria que estudar no Centro da cidade ou na Tijuca, pois nos subúrbios não existiam tais estabelecimentos. O próprio Geremário Dantas se formou no Colégio Pedro II. Com a inauguração do Colégio Arte e Instrução pelo Professor Ernâni Cardoso em 1905, o problema melhorou. Mas muitos continuaram ainda a estudar na cidade em regime interno, pois o Colégio Arte e Instrução não absorveu toda a população necessitando do curso ginasial. O Colégio Souza Marques só foi fundado bem mais tarde, em 15 de janeiro de 1929.

Nas primeiras décadas do século XX, a Praça Seca contava com três estabelecimentos de ensino primário público: Escola Marquês do Paraná, onde ficou famosa a diretora Dona Mariquinha (ficava na Rua Baronesa número 308, onde hoje é o Edifício Solar Baronesa); a Escola Bahia, na Rua Cândido Benício, quase esquina da Rua Pinto Teles, no terreno do atual Centro Integrado de Educação Pública, mais conhecido como Brizolão; e a Escola Haiti, localizada onde hoje é a Escola Dom Armando Lombardi. Uma professora particular (filha do Júlio Bastos) a Dona Ilma Bastos era muito famosa na época. Ela dava aulas para pequena turma em sua residência na Rua Cândido Benício, atualmente ocupada pelo edifício número 1.270 em frente à Rua Guaporanga. O Instituto Pará de propriedade da Dona Idálea, porém, era o maior estabelecimento de ensino particular da época. Situava-se na Rua Cândido Benício, esquina com a Rua Ana Teles ao lado do convento das freiras. Hoje existe ali um prédio residencial com lojas comerciais.

Em 16 de maio de 1933, Manoel Alves Castilho fundou o Instituto Tamandaré e tornou-se o pioneiro do ensino secundário na região da Praça Seca. O prédio do colégio era no centro de grande área na Rua Baronesa, atrás da Padaria Marangá (atual Restaurante Bola Branca) e da casa antiga, onde hoje funciona a Clínica de Ortopedia e Reumatologia (17). O instituto ocupava exatamente o local onde hoje existe um pequeno edifício comercial e uma série de residências, inclusive as da vila. Na década de 1940, quando o proprietário era José Brandão Pereira de Azevedo, a Dona Darci Vargas (esposa de Getúlio Vargas) inaugurou uma seção regional da Legião Brasileira de Assistência no Instituto Tamandaré, que foi presidida por Dona Marina Dias, esposa do Ministro Álvaro Dias. Na época, o próprio Presidente Getúlio Vargas visitou o Tamandaré e distribuiu brinquedos para as crianças. A presença do Presidente da República na Praça Seca foi uma grande festa, principalmente quando desfilou em carro aberto pela Rua Cândido Benício. Em 1945, José Brandão transferiu os direitos do colégio para Cândido da Silva. Este, em 1955, o revendeu para atual proprietária, Marina Martins Ribeiro (18). No mesmo ano de 1955, a Dona Marina transferiu o colégio para a Rua Florianópolis número 1.360 (a casa do seu pai, Mário Martins Ribeiro). Anos depois, o Instituto Tamandaré passou a funcionar no atual local, na mesma Rua Florianópolis número 1.610.

Para substituir as três pequenas escolas municipais do início do século XX, foi construída a Escola Honduras, inaugurada em 7 de março de 1935 pelo Prefeito Pedro Ernesto e o Diretor do Departamento de Educação Primária, Dr. Anísio Teixeira. A primeira diretora foi a Professora Dulce Viana. A Escola Honduras é a mais tradicional da Praça Seca, com muitas professoras famosas, entre as quais a Dona Dyla, Dona Maria Paulina e as irmãs Fernandes (Alfredina, Edith, Jacira e Maria da Conceição), que moraram na esquina das ruas Cândido Benício e Florianópolis, onde hoje é a Adega Bosque da Praça.

Também na década de 1930, com a cobertura da casa da criança, os irmãos lassalistas (religiosos seguidores de São João Batista de La Salle) iniciaram em 1937 grande obra educacional em Jacarepaguá ao fundarem o Instituto São Luiz na Rua Barão, onde atualmente é o Colégio Sobral Pinto. Os seis pavilhões, incluindo a capela, salão de festas e oficinas para o ensino profissional, que ainda existem, foram feitos pelos irmãos na década de 1940. Em 17 de janeiro de 1953, o Instituto São Luiz da Rua Barão acabou, em virtude da transferência dos lassalistas de Jacarepaguá para Niterói, onde fundaram o atual Instituto Abel.

Na década de 1940, na esquina das ruas Dr. Bernardino com Marangá, havia a escola da Dona Arminda. Além das salas de aulas, ela dava aulas também debaixo de uma mangueira, quando o tempo permitia. Em 8 de março de 1954, o Professor João Fernandes da Cruz fundou o Educandário Nossa Senhora da Vitória, que ainda funciona no mesmo imóvel, na Rua Cândido Benício número 2.610, em frente ao IPASE (19). O prédio foi construído pelo médico Cândido Benício em 1885. Em 24 de agosto de 1955, também na Rua Cândido Benício, próximo ao Largo do Campinho, em terreno doado em testamento por Antônio Geremário Teles Dantas, foi inaugurado o Externato Geremário Dantas, que pertence às irmãs da Sociedade das Filhas de Nossa Senhora do Sagrado Coração.

O Professor Antônio Borges Hermida, famoso em todo o Brasil pelos livros didáticos de História, antigo morador da Rua Cauibi (hoje Rua Interlagos), na Praça Seca, fundou em 1969 o Ginásio Borges Hermida na Rua Cândido Benício. Em 1974, esse estabelecimento de ensino foi comprado pela Professora Maria Aparecida Fonseca Soares, que mudou o nome para Escola Técnica DET (Deus É Tudo). Em 1984, porém, passou a se chamar Escola Técnica Fonseca Soares. O motivo da troca de nome foi por causa do curso rival TED (Tempo É Dinheiro), que tinha patente registrada e queria acionar na Justiça a Dona Maria Aparecida.

A Escola Santa Edwiges foi criada em 1968 por Mesquita Bráulio. Depois, surgiu a SUSE, que chegou a atingir todo o complexo de ensino, desde as primeiras letras até o universitário. Outro estabelecimento de ensino superior da região foi o Centro Unificado Profissionalizante (CUP), que funcionou na Rua Albano de 1976 a 1982. Atualmente, essa faculdade tem sede na Lagoa, na Avenida Epitácio Pessoa, com o nome de Sociedade Educacional Cidade. Na Rua Albano, no local da antiga CUP, há uma firma de telecomunicações, a Cook Eletric.

No ano de 1968, também surgia o Centro Educacional SIMAVI, sob a direção do Professor Gil Ubiratan Pires Vieira, situado na Rua Cândido Benício e que durou até 1980. Nesse ano, no dia 17 de novembro, o Professor José de Freitas inaugurou o Colégio Atlas (de ensino técnico), que ocupa o mesmo prédio do antigo SIMAVI. (20)

Na década de 1960, no Governo Carlos Lacerda, foram reformados e inauguradas diversas escolas públicas da região da Praça Seca. Em 27 de agosto de 1962, foi inaugurada as reformas da Escola Evaristo da Veiga, na Rua Capitão Menezes, que foi fundada em 17 de maio de 1937 em homenagem ao grande jornalista brasileiro do século XIX Evaristo da Veiga. Outro prédio reformado foi do antigo Instituto São Luiz da Rua Barão que se transformou no Ginásio Sobral Pinto (criado por decreto em 5 de novembro de 1963, no mês em que o jurista Heráclito da Fontoura Sobral Pinto completava 70 anos de idade). O Ginásio Sobral Pinto começou a funcionar em 1964. Em 9 de setembro de 1964, foi inaugurada a Escola Municipal Dom Armando Lombardi, cuja primeira diretora foi a Professora Nely Cunha Marcelo. O prédio foi bastante ampliado e reformado e já abrigou em tempos passados a Escola Haiti e um posto de saúde escolar. Em homenagem ao político (Ministro do Trabalho no Governo do Presidente Dutra) e empresário da indústria de vidro Morvan Dias de Figueiredo foi fundada em 30 de março de 1965 a Escola Municipal Morvan de Figueiredo. Localizada na Rua Barão, junto ao INSS. No Governo Negrão de Lima, no dia 15 de dezembro de 1970, foi inaugurada a Escola Municipal José Joaquim de Queiroz Júnior, na Rua Guarapes, perto do local onde, nas décadas de 1940 e 1950, as irmãs francesas do Colégio Notre Dame possuíam sítio e davam aulas para as crianças da redondeza. Em 1985, o Governo Leonel Brizola construiu o Centro Integrado de Educação Pública em grande área na Rua Cândido Benício.

A Biblioteca Regional de Jacarepaguá, situada na Rua Dr. Bernardino, se originou por iniciativa da Professora Dyla Sílvia de Sá, que criou em 8 de maio de 1964 a Biblioteca Infantil Dyla de Sá. Até dezembro de 1965, funcionou na XVI Região Administrativa, na Avenida Geremário Dantas, no Tanque. A partir de 9 de setembro de 1966 foi para o IPASE, na Rua Cândido Benício. Em 1970, passou a ser chamada pelo nome atual e subordinada diretamente à Secretaria de Educação e Cultura. Em janeiro de 1978, a Biblioteca Regional mudou-se para a Rua Dr. Bernardino.

A religião sempre teve papel preponderante na educação da região, como vimos nos casos do Instituto São Luiz e o Externato Geremário Dantas. O convento da Rua Cândido Benício, quase esquina da Rua Ana Teles, foi erguido pelas irmãs franciscanas em 1929. Depois, em1941, os padres barnabitas da Igreja do Loreto compraram a instituição. Na gestão do Irmão João Batista Bísio foi criado um seminário que durou até 1945, anos em que os barnabitas venderam o convento para as irmãs carmelitas, atuais proprietárias.

A Igreja Nossa Senhora do Sagrado Coração da Rua Barão foi fundada em 22 de outubro de 1946, a pedido de religiosos da região, entre os quais as famílias Caseira, Bezerra e Chimeli. A princípio, a liturgia era celebrada na capela do Instituto São Luiz, sob a direção do padre barnabita João Cordeiro.


Padre Jerônimo Vernin, porém, no período de 1946 a 1952, tornou-se o verdadeiro pioneiro da obra católica da região da Praça Seca. Em 1947, adquiriu o terreno do atual local da paróquia, o que dá frente para a Rua Barão. Na época, havia uma pequena casa, em que antes havia sido um cassino. Os primeiros padres ocupara essa casa e, inclusive, chegaram até a atender rapazes, que desconheciam a mudança da finalidade do imóvel e procuravam pelas "menininhas".

Esse imóvel foi adaptado para ser a matriz provisória. Em 1952, os padres compraram o terreno da Rua Interlagos, onde edificaram a casa paroquial. Toda aquela área da Rua Barão, na década de 1930, era grande chácara. Ao ser loteada, abriu-se a atual Rua Interlagos, que, inicialmente, se chamava Rua Major Checheu e, depois, Rua Caiubi. Em 1956, com o Padre Alexandre Verlaar, iniciou-se a obra da atual igreja, que terminou praticamente na década de 1970, com o Padre Gilberto De-Roy. A paróquia da Praça Seca é responsável pelas capelas do Repouso Santa Maria (Rua Japurá número 555), Beneficência Portuguesa (Rua Florianópolis) e das escolas Padre Butinhá e Jardim São José, ambas na Rua Barão. Também mantém as Comunidades Eclesiais de Base, nos morros que circundam a região, onde existem capelas, com as de São José (no morro do mesmo nome), do Divino Espírito Santo (morro no final da Rua Espírito Santo) e de Santa Rosa (no morro do mesmo nome).

Em 21 de abril de 1939, membros da primeira Igreja Batista de Jacarepaguá, cuja sede era na Estrada do Pau Ferro, fundaram a Igreja Batista da Taquara, na Praça Seca. Os fundadores foram: Nestor Campos Matoso, Araci Matoso, Jacinto Siqueira, Francisco Siqueira, Américo da Silva Santos, Manuel Moura, Cecília Moura, Ana Macedo, Osvaldo Silva, Araci Silva, Sebastião de Souza, Joaquina Siqueira, Eusébio de Oliveira, Maria de Souza, Eurídice Paiva, Reinaldo da Silva, Emelina Rosa da Silva, Elan Jacinto, Petrina Jacinto e Eliude Jacinto. O primeiro pastor foi Álvaro de Castilho Barbosa. A sede inicial foi numa loja do antigo prédio assobradado do Victor Parames, ao lado do Distrito Policial (perto da entrada da Vila Garcia, que ainda existe). Em 30 de setembro de 1952, na gestão do Pastor Rafael Zambroitti, foi comprado do Coronel Brazini Fabrini o imóvel da Praça Seca. No mesmo local, a Igreja funcionou, provisoriamente, na casa antiga. Naquele ano de 1952, começaram as obras para a nova sede, que terminaram totalmente em 1979. A Igreja Batista da Praça Seca é confortável e possui dois enormes prédios, cada qual com dois andares. Um nos fundos, destinado à educação religiosa. No outro, na parte da frente, destaca-se o santuário, com capacidade para 800 pessoas sentadas. O pastor mais famoso é Davi Malta Nascimento, que assumiu a direção da Igreja em 21 de abril de 1955.

Parte 5

O futebol começou na região da Praça Seca quase ao mesmo tempo em que Oscar Cox o introduziu no Rio de Janeiro. Quando Gastão Taveira aterrou o lado, onde atualmente existe o coreto, deixando a praça bem plana, os habitantes aproveitaram e fizeram um campo de futebol . Naquele local, então, grupos de rapazes, liderados por Nélson da Cunha Bastos (neto do Dr. Bernardino e sobrinho do Gastão Taveira), fundaram a Associação Atlética de Jacarepaguá. Assim, durante as três primeiras décadas do século XX, uma multidão reunia-se, aos domingos, no campo da Associação, em plena a Praça Seca, para assistir ao novo esporte. No Governo do Prefeito Prado Júnior, em 1928, inclusive, com a construção do coreto, acabou-se com o futebol e com a Associação.

Apesar da existência do Parames, que foi fundado em 1925, parte da rapaziada sentiu um vazio com o fim do campo, pois já era hábito ir à praça jogar futebol. Esse foi um dos motivos que levou Galdino José da Silva a fundar Albano Futebol Clube, em 15 de Setembro de 1929. O primeiro campo foi na esquina da Rua Albano com Cândido Benício, onde hoje tem a loja de tintas. Depois, o campo foi para a Rua Barão, um pouco acima do atual Colégio Sobral Pinto, a partir do número 268. O presidente era o próprio Galdino. A secretária era sua filha, Maria Mália. E o tesoureiro, Waldemar Amazonas, irmão do conhecido detetive Waldir Amazonas. A primeira sede social do Albano foi na residência do Galdino, na Rua Albano número 2. Dali foi para o sobrado do Victor Parames, na Rua Cândido Benício ( no mesmo local que depois passou a ser cabeleireiro do Ruas ), onde acontecia intensa atividade social, com bailes nos finais de semana.

O Albano pode ser considera um dos maiores clubes de futebol de Jacarepaguá. Os times grandes do Rio, naquela época amadores, visitavam o campo da Rua Barão e tinha que lutar muito para não sair com derrota. Certa vez, no início da década de 1930, com Domingos da Guia, Nandinho e outros cobras, o Bangu jogou na Rua Barão. A partida estava muito equilibrada e deveria terminar em zero a zero. Mas, quase no final, surgiu falta na intermediária a favor do Albano. Talvez desconhecendo a potência do chute do Tesoura, Onça, o goleiro do Bangu, não quis barreira, mandou abrir. A violência do tiro livre, porém, o deixou imóvel, e a bola entrou no canto. Muito assustado, o Onça passou o resto do tempo a gritar para seus companheiros não deixar o Tesoura chutar, e o jogo terminou com a vitória do Albano por 1 a 0. O Albano possuía realmente um timaço. Com o evento do profissionalismo, muitos de seus jogadores foram para os clubes grandes, como foi a caso de Picolé, que jogou no São Paulo; Niversínio, que atuou no América. A formação base do Albano, nos primeiros anos da década de 1930, foi a seguinte : Jagunço; Dolego e Caneta; Agostinho, Gunça e Tesoura; Picolé, Antenor, Catraia, Niversínio e Vino.

Além do Parames, grande rival do Albano foi o Bandeirantes, cujo campo ficava onde hoje é a Escola Barão da Taquara, na Avenida Nélson Cardoso número 1.221. Outros tradicionais adversários eram o Rio de Janeiro e o Volante, ambos da Freguesia. O Albano encerrou sua atividades antes da II Guerra Mundial. A área do campo de futebol, que pertencia ao IPASE, foi comprada por Júlio Santiago, que foi oficial de gabinete do Presidente Getúlio Vargas, durante o Estado Novo. O Santiago, em 1945, revendeu parte do terreno para Josino Moreira Lima, antigo funcionário da Colônia Juliano Moreira. Na década de 1940, na Praça Seca, surgiu outro Albano, numa tentativa de reviver o homônimo famoso. Este Albano, apesar de vida efêmera, teve a glória de ser campeão de Jacarepaguá, num torneio promovido pelo jornal do Dourado Lopes, o Diário Trabalhista. Na década de 1950, antes da construção do conjunto do IPASE no Mato Alto, existiu o Vila Albano. Seu campo, atualmente, é utilizado pelo condomínio do conjunto habitacional.

O clube de futebol mais tradicional da região da Praça Seca, porém, foi o Esporte Clube Parames. Durante os 49 anos de existência, glorificou o nome emprestado pelo seu patrono, o Victor Parames Domingues. Nos anos da década de 1920, um grupo de jovens , com a idéia de criar um clube de futebol, procurou a família Parames, que cedeu o terreno da Rua Pedro Teles para ser o campo da nova agremiação, enquanto existisse diretoria constituída. Depois disso, no dia 3 de junho de 1925, na casa da Dona Clara Taranto ( onde hoje é a Biblioteca Regional ), na Rua Dr. Bernardino, foi fundado o Esporte Clube Parames, sendo escolhido para o cargo de primeiro presidente, Theobaldo Ferreira. Dona Clara Maria Taranto, falecida em 1936, foi a grande propulsora dos 10 anos iniciais do clube, inclusive, sua residência serviu como primeira sede. Ela veio morar na Rua Bernardino em 1917, depois de abandonar a cidade de São Paulo, com os filhos Orlando, Maruca e Aurora, após a morte do marido, Braz Maria Taranto. A partir de 1942, surgiu outro ponto tradicional de reunião do pessoal do Parames, no armazém do Alexandre, na esquina da Pedro Teles com Dr. Bernardino, quase ao lado da casa da Dona Clara.

Na década de 1940, paralelamente ao Esporte Clube Parames, existiu o Teatro Amador Zuleika, cujo o patrono era o filho do velho Parames, também chamado Victor Parames. A primeira sede foi na vila Zuleika, mas logo se transferiu para um barraco, num terreno baldio a lado do campo do Parames. O teatrinho editava até uma revista, com o nome de "O Farol". Os atores e Atrizes eram os seguintes: Alcebíades Nóbrega, José Ezequiel Alvin, Osvaldo Barreto, Sebastião Mota, Sebastião Miranda, Antero Silva, Isa Rodrigues, Edir Santos, Odete Nóbrega, Enir Mota, Arlete Dias, que fizeram muitas apresentações no instituto São Luiz, na Rua Barão. O Teatro Amador Zuleika foi fundado em 4 de agosto de 1946 e encerrou suas atividades na primeira metade da década de 1950.

Uma Pessoa notável na história do Parames foi Rizeiro Michel, que o acompanhou desde a fundação e ocupou diversos cargos na diretoria, inclusive, presidente e técnico do time principal. O Michel fez parte da diretoria do Francisco Lamboglia, que, na década de 1950, iluminou o campo de futebol, sendo que, na inauguração dos refletores, o Parames recebeu a visita do América. O Presidente Francisco Lamboglia foi quem construiu e inaugurou a sede do clube ( o prédio ainda existe na Rua Pedro Teles número 490 ), com os seguintes diretores: José Vieira, Júlio Barbosa, Darci Vieira e Paulo Monteiro. Outro grande nome foi Sebastião Mota, antigo jogador da década de 1930, e pai do Fernando Consul. Um personagem folclórico foi Chico Charuto. Houve época em que ele fazia tudo no clube: distribuía camisas, entregava bolas, alugava o campo e substituía diretores. Um fato triste foi a morte prematura do beque Adyr de Castro Sperlei, conhecido como Didico, que foi assassinado, na Rua Cândido Benício, num conflito entre turma rivais, na saída de uma batalha de confete do Jacarepaguá Tênis Clube, na semana em que antecedeu o carnaval de 1956. Didico levou uma facada do Amaral de Cascadura, que também feriu João Bagulho .

Como acontecia com o Albano, o Parames também recebia em seu campo os grandes times do Rio. Era a época do amadorismo, não havia profissionalismo. Em 29 de março de 1931, por exemplo, o Parames venceu o Flamengo por 2 a 1, na Rua Pedro Teles, com o seguinte time: Durval, Melo e Rufo; Souza, Cândido e Osvaldo; Jerônimo, Gloriano, Guerreiro, Egídio e Arapoty. A melhor equipe do Parames na década de 1940, porém, tinha está escalação: Miqueira; Casemiro e Casquinha; Sofia, Tesoura e Guerreiro; Motinha, Durval, Oton, Didico e Canelinha. Nos anos 40, o famosos Isaías, antes de jogar no Madureira e no Vasco, atuou no Parames, cuja a equipe era a seguinte: Cleso; João Tanque e Pimenta; Sofia, Ceci Caneta e Waldir Goiano; Carlinhos, Gabriel, Isaías, Durval e Ninho ( Cácio ). Durval também foi do Vasco e Boca Juniors de Buenos Aires. Em 1944, o Parames foi vice-campeão da terceira divisão da antiga Federação Metropolitana de futebol. Em 1945, conquistou o título de campeão da mesma divisão com Cleso; Niginho e João Tanque; Sofia, Mário Cabeleira e Waldir Goiano; Oliveira, Gabriel, Mineiro, Didico e Carlinhos. O técnico foi Rizeiro Michel.

Em 1952, o Parames venceu a Copa da Cidade do Rio de Janeiro, evento promovido pelo Diário da Noite e organizado pelo falecido cronista esportivo Arlindo Monteiro, com a seguinte formação: Morroagudo; Pimenta e Manuel; Tutuca, Arlindo e Vadinho; Carlos, Toninho, Sérgio Escola (artilheiro da competição ), Guilherminho e Grilo. O técnico foi Paulo Monteiro. Na década de 1950, formou-se outros excelentes times no clube, inclusive, é a da época a notável linha média: Waltenir, Zequinha e Celinho. Ainda nos anos de 1950, existiu, dentro do próprio Parames, a equipe Independiente, que ficou invicta durante seis anos e contava com Nair e Fernando Consul, que, depois tornaram-se profissionais. A escalação do Independiente era a seguinte: Zezinho; Dezinho e Pulu; Jairo, Mauro, Edvaldo; Ratinho, Nair, Fernando, Heraldo e Elói.

Em 1961, com equipe mesclada por quatro veteranos (Sérgio, Tutuca, Ha-mintas e Paulinho do Marangá),o Parames venceu o torneio da Fábrica Nacional de Motores, no campo do Piauí, na Raiz da Serra. Ou-tro titulo importante foi no Governo Carlos Lacerda, que organizou campeonatos de futebol nas regiões administrativas. 0 Parames foi tricampeão da Re-gião Administrativa de Jacarepaguá nos anos de 1961, 1962 e 1963. 0 time que disputou a competição em 1963 formou com Serginho; Nei, Amilcar, China e Pascoal; Leno e Bétis; Paulo, Maurício, Valdir e Elói.

No final da década de 1960 e começo da de 1970, o futebol do Parames quase não existiu, em virtude da crise surgida desde a saída dos principais desportistas para fundarem o Country Club de Jacarepaguá e não superada pelas últimas administrações. 0 clube praticamente só possuía atividade social, que na realidade era uma iniciativa de fora: os ensaios da Escola de Samba União de Jacarepaguá. Certo dia de 1974, desconhecidos disputavam animada pelada no campo de futebol. No final, as crianças dos arredores estupefatas presenciaram cena comovente: os próprios homens, que antes jogavam, armados de serrote, cortaram as balizas. Terminava assim, de maneira insólita, o Esporte Clube Parames. A última diretoria devolveu o terreno, após o clube tê-lo usado por 49 anos, ao Victor Parames Fortes. Este o vendeu aos donos do Parque de Diversões IV Centenário (nota para edição da Internet: atualmente ocupa o local (Rua Pedro Teles) o Residencial Porto Bello).

Esporte Clube Marangá foi outro clube de tradição no futebol da Praça Seca, fundado no inicio da década de 1930 por Everardo Eleutério da Silveira. A sede do Marangá era na Rua Japurá, na casa da D. Luiza Bebiana Guedes, que era avô do João Teles, Sebastião Teles (Didico), Genésio Teles (pai do Zoca) e Nélson Teles. 0 futebol do Marangá, como aconteceu com a escola de samba do mesmo nome, que surgiu mais tarde, era formado basicamente por descendentes da Dona Luiza, que faleceu aos 106 anos de idade em 1945. 0 primeiro campo de futebol foi perto da casa da D. Luiza, num terreno baldio onde hoje é o final da Rua Dias Vieira, esquina de Japurá. Depois, o Marangá foi transferido para a esquina das ruas Dr. Bernardino com Pedro Teles e lá ficou até começarem as obras do atual conjunto do IPASE, que foi inaugurado em junho de 1949.

Na época, naquele local, além do campo do Marangá, existia o casarão do Alberto Freitas, que ficava bem próximo da entrada da atual vila do conjunto residencial. Na Rua Dr. Bernardino, o Esporte Clube Marangá viveu seus melhores dias. Na década de 1940, o clube teve como presidente o maestro Joaquim Naege, que, aos domingos, trazia uma banda para motivar os jogadores, durante a partida. 0 craque do time era o garoto Décio, bisneto da Dona Luiza, que, mais tarde, jogou pelo São Cristóvão (de 1950 a 1962). Aliás, o Décio teve seu momento de glória, quando num jogo contra o Botafogo conseguiu marcar o insuperável Garrincha.

Na década de 1930, o torcedor da região da Praça Seca podia ir a pé assistir aos jogos oficiais da divisão principal da federação, pois o estádio do Madureira, antes de se transferir para a Rua Conselheiro Galvão, ficava na Rua Domingos Lopes, entre a Praça Patriarca e a Rua Dona Clara. Na época, havia muitos campos e clubes de futebol na região. 0 Ateniense foi um dos primeiros da planície da Rua Pinto Teles, fundado no inicio da década de 1930. 0 seu campo era na Rua Jerônimo Pinto em frente à Rua Mário, onde hoje existem as antigas casas da Light. 0 Ateniense acabou justamente quando começaram as obras dessas residências. Esse conjunto da Light ocupa o quarteirão formado pelas ruas Jerônimo Pinto, Major Ribeiro Pinheiro, Pereira Frazão e Trairi.

0 Sete de Setembro foi fundado em 1939 por José Ribeiro, o Zeca. 0 primeiro campo foi na esquina da Capitão Menezes com Jerônimo Pinto, onde atualmente há uma série de lojas comerciais. Depois, o Sete se transferiu para a Rua Pinto Teles. Após a morte do Zeca, o clube entrou em decadência até sua completa extinção em 1975, surgindo no local da sede da Rua Pinto Teles um centro espirita. Em 1942, Antônio Pereira Leite fundou o Continental Futebol Clube, que durou até 1955. 0 campo do Continental era o mesmo do Sete de Setembro, na Rua Capitão Menezes. 0 Nova América, cujo campo é no final da Rua Pinto Teles, surgiu em 1945. Ali perto, o ex-jogador Flávio Teixeira dos Santos criou, em 8 de outubro de 1952, o Esporte Clube Rio - São Paulo, juntamente com seus filhos Mauro, Jorge, Flávio e Jerônimo. Em maio de 1945, na Rua Comendador Pinto, inaugurou-se o Brahma Esporte Clube, que, durante muito tempo, só possuía o campo de futebol e um barracão. Hoje, existe na frente um prédio social bastante movimentado.

No início dos anos de 1930, bem próximo da Praça Seca, na esquina das ruas Baronesa com Parintins, o armazém do Couto foi sede de um time de futebol: o Esporte Clube Parintins. Trinta anos depois, em 1960, na mesma Rua Baronesa, porém, na esquina com Gastão Taveira, no bar do Américo nasceu o Papai Esporte Clube. 0 nome foi em homenagem ao Papai, apelido do Américo. A sede era na residência do Henrique Mota Lima, na Rua Tenente Frederico Gustavo. 0 maior rival do Papai foi o Esporte Clube Luís Beltrão, cujo campo, na Rua Urucuia, tinha o nome de Lagarto. No período de 1945 a 1950, a rapaziada da Praça Seca criou o Pracinha, um time bastante forte. Sua escalação era: Aluísio Maríns; Manelão e Lauro Migon; Moacir, Walter e Emídio Rebolo, Químico, Espírito, Celinho e Waldir (ou Nílton Faya). Na década de 1950, existiu outro Pracinha, com Antônio Faya e Léo Migon. Em maio de 1951, José Carlos Moreira da Rosa fundou o ACEAL - Associação Carioca de Ex-Alunos Lassalistas, juntamente com um grupo de antigos estudantes do educandário dos padres lassalistas da Rua Barão, o Instituto São Luiz. A sede do ACEAL era na Rua Cândido Benício número 901, onde residiu o vereador Rivadávia Maia (o prédio foi demolido). Além de animado setor social, o ACEAL possuía excelente time de futebol, que, no inicio dos anos de 1950, realizou vitoriosas excursões pelo interior de Minas Gerais. A novidade atual em relação ao futebol da Praça Seca é a concentração dos juniores do Flamengo, na Rua Barão número 1.374 (21).

Os clubes da região sempre foram celeiros para o futebol profissional. Muitos desses jogadores nasceram e cresceram no bairro. Outros vieram morar aqui, após deixarem o futebol, como é o caso do Flávio, pai do Jerônimo e fundador do Rio - São Paulo, que jogou no Bonsucesso, na década de 1920, no mesmo time de Gradin. 0 Agrícola foi outro que residiu na praça, após se aposentar, na Rua Caiubi (hoje Interlagos). 0 Agrícola atuou no São Cristóvão e na Seleção Brasileira, durante a década de 1930. Nessa década, Heimar, jogador do Parames e morador da Rua Florianópolis, formou linha atacante no Fluminense ao lado de Pedro Amorim, Romeu, Tim e Hércules.

Talvez, a maior revelação do futebol do Parames e de Jacarepaguá tenha sido o Nair, que atuou ao lado de Rivelino. 0 Nair saiu do Parames e foi para o Madureira. Depois, se transferiu para São Paulo, onde brilhou no Botafogo de Ríbeirão Preto, Portuguesa de Desportos, Coríntians e Seleção Paulista. Fernando Consul, companheiro de Nair no Parames e Madureira, também se projetou no futebol, com passagens pelo América do Rio, França e Ferroviário de Fortaleza. 0 Décio do Marangá, que atuou no São Cristóvão na década de 1950, foi outro valor surgido no futebol da região da Praça Seca. 0 Jerônimo do Rio -São Paulo, que iniciou carreira no juvenil do Fluminense, foi para Porto Alegre, onde defendeu o Internacional, de 1951 a 1960. 0 Jerônimo, inclusive, foi campeão pan-americano no México, em 1956, quando a Federação Gaúcha representou o Brasil. Outros moradores da Praça Seca foram: o Darci Faria, que atuou no Madureira e Bangu, na década de 1960; o Alcides, também do Bangu nos anos de 1960; e o Anderson (Zuruca) do Parames, que jogou pelo São Cristóvão de 1961 a 1964.

O goleiro Jonas Lopes, nascido e criado na Rua Baronesa, está enraizado no folclore do Vale do Marangá. Jonas atuou no Madureira, Vasco, Campo Grande e também fora do Pais, na Venezuela e El Salvador. Em todos esses clubes deixou marcada sua figura inesquecível, extrovertida e imprevisível. Na década de 1960, foi goleiro do Defensores de Aguila, da cidade de San Miguel, em El Salvador. Num jogo contra o Alianza, de San Salvador, o time mais forte daquele pais, o Jonas defendeu um chute de cabeça e saiu driblando os adversários até o meio campo, quando perdeu o controle da bola e o Alianza fez o gol. 0 time do Jonas perdeu por 1 a 0, e ele foi obrigado a deixar El Salvador.


Parte 6

Antes dos anos 30 a região da Praça Seca não possuía clubes de atividade social. Os bailes eram nas casas de família. Nas primeiras décadas do século, ficaram famosas as festas juninas realizadas pelo Gastão Taveira, na sua residência na Cândido Benício. Os portões eram abertos e o povo podia participar, comer de graça, receber fogos de artifícios e se divertir no enorme terreno todo ornamentado de bandeirinhas e com muitas fogueiras. Na década de 1930, na sede do Albano, havia bailes aos sábados, mas o Albano era mais de futebol do que social. 0 primeiro clube tipicamente social a surgir na região foi o Rex Basquete Clube.

Antes do Rex ser fundado, porém, houve verdadeira aventura de uma turma de rapazes amantes do basquetebol a procura de um lugar, para praticar esse esporte. Na Rua Pinto Teles, existiu o clube Ateniense, que nada tem a ver com o homônimo do futebol. 0 basquete do Ateniense era dirigido pelos irmãos Américo e Adelino Gomes. Depois, o pessoal do basquete fundou o Grupo Carioca, cuja quadra ficava nos fundos da residência dos irmãos Castro (José, Celso e Marco Aurélio), na Rua Cândido Benício, onde hoje ë a SUSE. Outros componentes do Grupo Carioca: Walter Viana, José Mendonça, Paulo Mendonça, Manoel de Morais, Alcebíades dos Anjos, Waldir Lira, Tancredo de Morais, Acrísio Amorim, Manuel Alves, Waldyr Miragaia, Darcy Diógenes, Mário Ascarruz, Paulo Costa e Sebastião de Oliveira. Esses pioneiros jamais poderiam pensar que um dos maiores jogadores de basquete do Brasil viria nascer na região da Praça Seca. Trata-se de Marcos Antônio Abdala Leite, conhecido no mundo inteiro como Marquinhos. Ele nasceu em 1951 na Rua Capitão Menezes número 414, nos fundos da casa dos irmãos Dagô e Pingo. 0 irmão de Marquinhos, o Paulão, outro cobra do basquetebol, também nasceu nessa rua, onde os dois viveram a infância e adolescência.

Quando o Tenente Nélson Fiuza Pessoa criou o Rex Basquete Clube convidou o pessoal do Grupo Carioca, para se integrarem à nova agremiação. 0 Rex ficava na esquina de Cândido Benício com Florianópolis, onde hoje é o Ponto Zero e o conjunto de lojas, residências e vilas. 0 Tenente Nélson era o dono do clube e morava nos fundos do terreno. As reuniões dançantes semanais eram o ponto alto da vida social, mas o basquete, com o pessoal do Grupo Carioca, também se destacava. 0 Rex durou do inicio de década de 1930 até o final da de 1940. Nesse período, no final dos anos de 1930, houve uma grande crise interna.

A persistência do Tenente Nélson em manter o Rex como estava, criou desavença com um grupo de associados, que, entre outras coisas, queria a ampliação da sede. 0 pessoal do basquete, inclusive, já tentara outros lugares, como o Clube Progressista, na antiga Estrada Rio - São Paulo (atual Estrada Intendente Ma-galhães). A experiência, porém, não deu certo, pois o Progressista, igual ao Rex, também tinha um dono: o Presidente Egídio. Depois, a turma do basquete ainda fundou o Futurista, que teve efêmera duração. 0 ambiente no Rex estava bastante agitado. Na assembléia-geral de março de 1939, após debates acirrados, ocorreram as divergências, que ocasionariam o surgimento do Jacarepaguá Tênis Clube. Os dissidentes foram: Waldemar Fernandes Cunha, Darcy Diógenes de Souza, Walter Viana, Jorge Viana, Péricles Muniz, José Neto, José Mendonça, Mário Ascarruz, Álvaro Porto Guimarães, Paulo Costa e Inácio Guerra.

0 Jacarepaguá Tênis Clube foi fundado em 14 de julho de 1939 na residência do José Muniz (pai do Péricles Muniz), na Praça Barão da Taquara, onde hoje é a Igreja Batista. Nessa reunião, o José Muniz foi eleito, por unanimidade, o primeiro presidente. Os dissidentes, por serem estudantes, procuraram pessoas de recursos e receberam apoio do Dr. Armando Mesquita e dos comerciantes Arthur Gouveia, João Pena Bastos e Otávio Lodi Knack. Depois, a primeira providência foi comprar dois terrenos do loteamento da Companhia Territorial Riachuelo, no Beco Mário Pereira. As administrações seguintes aumentaram bastante a área do clube. Os lotes que dão frente para a Rua Cândido Benício foram adquiridos pelos presidentes Agostinho Alves da Costa (a esquina com o Beco Mário Pereira) e Nélson Antunes (a Vila Marden).

0 clube começou a crescer na época do Presidente Armando Mesquita, que aumentou bastante o número de associados e inaugurou , em 1941, com a presença da Baronesa da Taquara, a primeira sede própria. Em 1952, o Presidente Rubens Yung construiu um grande galpão junto a essa sede. Mas o melhor período foi na administração do Presidente Victor Dias Ribeiro e do Diretor de Patrimônio Sebastião de Oliveira, de 1959 a 1963, quando o clube ganhou quase a feição atual, com a edificação da sede nova, piscina e o prédio anexo, onde fica a sauna. As obras do ginásio foram iniciadas em 1966, com o Presidente Joaquim de Oliveira Júnior.

0 Jacarepaguá Tênis Clube foi um dos fundadores da Federação de Fute-bol de Salão. Logo após esse esporte ter sido inventado (início da década de 1950) já era praticado na quadra de basquete do clube entre muitos associados, como o Zandelmo, Zanézio, Sérgio Escola, Arnaldo, Miltinho, Fred, Heraldo e Mano. Inclusive, o Jacarepaguá venceu o primeiro torneio de futebol de salão, cujo time, sob e comando do Júlio Newton de Carvalho, formou com Zandelmo; Sérgio e Zeca; Heraldo, Miltinho e Fernando Consul. Em 1968, na gestão do Presidente Renato Léo Ferreira Braga, o clube foi campeão carioca de futebol de salão infanto-juvenil. 0 diretor de esportes era Paulo Pinto Go-mes e o sub-diretor, Ywalmar Cerqueira Correia. Os garotos campeões foram os seguintes: Alberto Farias, Alexandre, Carlos Alberto, Cláudio, Jorge Luiz Fernandes, Jorge Luiz Severino, Léo da Silva, Reinaldo, Sérgio Luiz, Sérgio Tobias e Marquinho, o artilheiro de campeonato. 0 técnico foi Mário Moura.

A maior proeza do futebol de salão do JTC, porém, aconteceu em 1970, quando conquistou invicto o campeonato carioca principal, na presidência de Sebastião de Oliveira. Os jogadores campeões foram: Nílton, Nonato, Francisco, Lúcio, Rubinho, Zé Carlos, Ademar, Calunga, Peixoto, Nilo, Fernando e Marquinho. 0 tênis de mesa também deu titulo carioca ao Jacarepaguá Tênis Clube, em 1962, no biênio do Presidente Victor Dias Ribeiro, quando, sob o comando de Nerval Gomes de Matos, conquistaram o Campeonato Carioca de Estreantes por Equipe os seguintes atletas: Jurandir, Ézio Torres, Luís Carlos de Carva-lho Nora e Armando Manteiga. (22)

A região da Praça Seca também foi importante centro do ciclismo do Rio de Janeiro. Desde a década de 1930, já existiam excelentes ciclistas, com destaque para José Nascimento, que venceu diversas corridas na Rua Pinto Teles, promovidas pelo Sete de Setembro. Em 1937, o Nascimento também ganhou a prova organizada pelo Parames Esporte Clube e supervisionada pelo Sebastião Mota. A primeira agremiação especializada nesse esporte, na região, foi o Clube de Ciclismo de Jacarepaguá, com sede na Rua Anália Franco, cujo presidente foi Ricardo Pinto Moreira. Mais tarde, o Ricardo fundou o Velo Clube de Jacarepaguá, que durou de 1951 a 1954 e ficava na Rua Dr. Bernardino número 559, onde hoje é uma academia de ginástica. 0 Velo Clube tinha projeção no Rio é era filiado à federação de ciclismo. Seus melhores velocistas foram o Nélson Carvalho (Nelsinho) e Nico. 0 Nelsinho, inclusive, venceu o Circuito da Gávea de 1952. 0 Esporte Clube Luís Beltrão também tinha setor de ciclismo, cujo Presidente Freitas, dono de loja de bicicletas em Marechal Hermes, era um grande incentivador. 0 Nelsinho e o Hener Simões foram os cobras do Luís Beltrão. 0 Hener chegou a correr de igual para igual com o campeão brasileiro da época, o Massari.

No inicio da década de 1960, a situação do Esporte Clube Parames não se definia, pois ninguém sabia ao certo se o terreno pertencia ao clube ou a família Parames. Surgiu, então, séria cisão interna, quando alguns associados iniciaram diretrizes para fundar um clube social, independente e estabelecido em imóvel próprio. 0 grupo procurou o leiloeiro Afonso Nunes em sua mansão na Rua Florianópolis e falou sobre a idéia. Combinou-se, então, que Afonso Nunes venderia o terreno da praça Seca por 13 milhões de cruzeiros. Esse dinheiro seria arrecadado em 300 títulos de sócios proprietários, e o próprio Afonso Nunes comprou o titulo número l. Assim, em 28 de março de 1963, era fundando o Country Clube de Jacarepaguá. Os dissidentes do Parames e fundadores do novo clube foram: Afonso Nunes Velasquez, Rizeiro Michel, José Gonçalves Portugal, Joaquim Cunha Júnior, Acácio Teixeira Costa, Éden Mantel, Júlio Barbosa da Silva, Leônidas Pereira Gomes, José Monteiro (o Zeca da Padaria Olga), Rubem Alvim, Alfredo Marques Leão, Francisco Lamboglia, Dílson de Morais Gonçalves, Hercílio Valente do Couto Santos, Valentim Barros, José Abrantes e Antônio da Silva.

O primeiro presidente do Country Clube de Jacarepaguá foi Rizeiro Michel, com Júlio Barbosa da Silva na vice-presidência. Na sua administração, vendeu rapidamente os 300 títulos iniciais e, assim, pagou a divida com o Afonso Nunes. No terreno, havia duas casas: uma nos fundos, que foi sede de certa corporação de guardas-noturnos; e a outra, numa das laterais, em que re-sidia o empregado do Afonso Nunes, o Ramalho, que continuou morando e trabalhando no clube. A casa dos fundos foi demolida, logo no inicio do clube. Na frente, construiu-se enorme barracão de madeira, que passou a ser a primeira sede do Country. Em 1968, na administração do Presidente Orlando Zózimo, o clube comprou parte do terreno do polonês (que muitas pessoas sempre pensaram que fosse alemão) Anatoly Polidsky, inclusive, a servidão ao lado da residência do Polidsky, na Rua Baronesa, que atualmente é a agência de automóveis Barauto (23). As obras do ginásio prolongaram-se por vários anos. A principio, para o carnaval de 1967, somente ficaram prontas a cobertura e o piso. Na presidência do Major Antônio Augusto Reis de Medeiros, de 1974 a 1982, edificou-se praticamente o atual ginásio. 0 Country Clube de Jacarepaguá já possuiu uma das melhores quadrilhas da roça do Estado, dirigida por Amauri Val da Silva Ribeiro, Maurith José de Morais e Henrique Mota Lima. Em 1967, o clube foi campeão absoluto do Torneio de Quadrilha da roça do Estado da Guanabara. Em 1968, vice-campeão.

Também nos anos de 1960, no dia 28 de agosto de 1964, foi criado o Clube 28 de Agosto, na Rua Barão, pertencente ao condomínio do conjunto dos Bancários. Atualmente, a antiga sede do clube está ocupada pela Legião Brasileira de Assistência, mas os moradores lutam, na justiça, para recuperá-la. 0 Planalto foi outra agremiação surgida na década de 1960. Era localizado no topo do Morro da Chacrinha, que é circundado pela Rua Cândido Benício e Estrada Comandante Luís Souto. 0 Planalto chegou a abrir pequena entrada até o pico do morro, onde foi levantado um barracão, com uma churrascaria. 0 clube, porém, morreu no nascedouro. Em 1974, a Associação dos Funcionários do Touring construiu, na Rua Guarapes número 97, quase esquina da Rua Quiririm, a sua sede campestre, no antigo sítio da Dona Nadir Figueiredo, que foi comprado pelo então presidente da Associação do Touring, Joel José Dir.

Na década de 1930, o carnaval da região da Praça Seca era praticamente nas ruas. Mesmo quando surgiram os clubes sociais, a folia de rua continuou sendo o ponto alto, como, por exemplo, as batalhas de confetes da Rua Albano dos anos 1940, organizadas pelo Galdino José da Silva, com o apoio do comér-cio e moradores. A primeira escola de samba do bairro foi Corações Unidos, fundada em 1932 por Wenceslau, Catuca e Agenor, que simbolizavam os três corações unidos. 0 Agenor era esposo da Dona Dica (Domentila Calixto da Silva), irmã da Dona Tita, e foi em sua casa, perto da Estrada do Macaco (hoje Rua Quiririm), que aconteceu a fundação. Quando Agenor adoeceu, João Nepomuceno, o João Polícia, assumiu a direção da escola e transferiu a sede para a esquina da Rua Bruges, iniciando o tempo de Dodô, João Pingola, Augusto Metralha e João Português. Em 1955, os Corações Unidos e Paz e Amor de Bento Ribeiro venceram empatados o desfile do Grupo II, na Praça Onze. Naquele ano, o Império Serrano ganhou o Grupo I.

Outra escola de samba do carnaval antigo de Jacarepaguá foi o Vai Se Quiser, que surgiu de uma dissidência da Caravana Unida, um grande bloco da Rua Albano, na década de 1930, que era organizado pelo Sargento Carlinhos, a esposa Mariquinhas e o sambista Ari. 0 nome da nova escola de samba foi pelo fato dos líderes da cisão ao chamarem os outros componentes da Caravana Unida não os obrigavam a vir, o carnavalesco viria se quisesse. 0 Vai Se Quiser foi fundado em 1937 na casa do Deusdete José Santos, o Linda, na Rua Itapuca (atual Gastão Taveira). Outros fundadores foram: Isaú Russo, Mário Santos e Araripe Ferreira. A Dona Iaia (Aurora Jesuína da Conceição Santos), que faleceu em 10 de junho de 1984 aos 113 anos de idade, teve uma família completamente dedicada ao Vai Se Quiser. Ela foi mãe do Linda, dos dois Catraias, do Mário e da Clotilde (Induca). Esta era mãe de nove filhos, inclusive, do famoso compositor Catoni, que começou, ainda menino, no Vai Se Quiser.

Em 15 de novembro de 1956, surgiu o Grêmio Recreativo Esporte e Samba União de Jacarepaguá, resultado da fusão dos Corações Unidos e Vai Se Quiser. Aloísio Domingos da Cruz era o presidente dos Corações Unidos, e Júlio Pinto (o Pimenta), do Vai Se Quiser. Aloísio, que era casado com Dona Tita, foi aclamado presidente da nova escola de samba, e a primeira sede ficou sendo na residência do casal, na Rua Bruges número 62. Além da Rua Bruges, a União de Jacarepaguá ensaiou num terreno na Rua Cândido Benício quase esquina da Rua Capitão Menezes, onde hoje é o Supermercado Leão (24); no Esporte Clube Parames; no Clube 28 de Agosto; nos campos do Nova América e Rio - São Paulo; e, atualmente, na Estrada Intendente Magalhães número 445. 0 pessoal da União também se reúne, aos domingos, pela manhã, no Bar da Bebel, na Praça Seca (25).

Nos primeiros anos, a União de Jacarepaguá participou do carnaval do grupo I, com as grandes escolas de samba. Em 1963, com o enredo "Mestre Valentin", samba de Catoni, chegou empatada com a Portela no quarto lugar, quando o mestre-sala Elias Turcão e a porta-bandeira Ilma receberam nota 10. Muitos nomes famosos começaram no samba na União, por exemplo, Paulinho da Viola, Joaquim Casemiro da Silva (o famoso Calça Larga do Salgueiro), o mestre-sala Ari da Portela, o mestre André da Mocidade Independente (na época bateria da União era a melhor da cidade), o passista Jerônimo da Portela e Davi do pandeiro do Império Serrano.

Em 20 de janeiro de 1957, houve outra fusão no samba de Jacarepaguá: Império de Jacarepaguá, cujo presidente era Moacir Cláudio da Silva; e o Unidos do Marangá, dirigido por Sebastião Teles, o Didico, campeão de futebol em 1945 pelo Parames. 0 Império de Jacarepaguá foi fundado por Moacir Cláudio da Silva em 1953, e a sede era na Estrada Pau Ferro, no Pechincha.

0 Marangá, como seu homônimo do futebol, nasceu na casa da família da Dona Luiza Bebiana Guedes, na Rua Japurá, quando, em 1944, os seus filhos (Sebastião, João, Genésio e Nélson Teles) fundaram o bloco, que, em 1950, passou a ser escola de samba. Um grande expoente dos Unidos do Marangá foi Jair Fiuza, o Bilico. Na fusão de 1957, surgiu o atual Império do Marangá, cujo presidente foi Moacir Cláudio da Silva. A sede continuou sendo a mesma dos Unidos, na Rua Carlos Gross, quase esquina da Rua Dias Vieira. Em 1966, foi para a Cândido Benício com Capitão Menezes, no terreno do Quincas do Super-mercado Leão. A sede atual é na Rua Maricá (26). 0 Império do Marangá teve na sambista Tia Ilda e no dirigente Jacy Gonçalves das Neves os mais importantes personagens dos primeiros anos. Em 1986, Décio Marculino Teles (ex-jogador profissional do São Cristóvão) assumiu a presidência e melhorou o nível da escola. Seu excelente trabalho deu frutos, pois o Império do Marangá foi campeão do Grupo 4 no carnaval de 1986.

Parte 7

O primeiro cinema de Jacarepaguá foi inaugurado em 1911, no recém construído prédio assobradado do Gastão Taveira, na Rua Cândido Benício. 0 "cínematographo", como era chamado na época, ocupou a loja que mais tarde seria a Padaria Olga (não confundir com o novo local da padaria onde hoje é a Drogasmil. 0 cinema era onde hoje é o BANERJ, mas sem o recuo). Essa ação pioneira na Praça Seca acompanhou o grande ritmo de instalações de salas de espetáculos na cidade do Rio de Janeiro, no início do século, quando outra novidade fabulosa, a energia elétrica, dava realidade ao cinema. Apesar de antes de 1911 o Rio já possuir bom número de cinematógrafos, nas adjacências da região da Praça Seca só havia um, em Cascadura, na Rua Nerval de Gouveia. Mais tarde, apareceu outro (o Cine Rex), onde é atualmente o Cine Baronesa (27). Esse cinematógrafo pegou fogo, e, no local, surgiu um armazém. Era época do filme mudo. 0 único som era do pianista colocado bem junto da tela. Os habitantes da década de 1910, entre outras fitas, assistiam as comédias do francês Max Linder, precursor do Carlitos.

Em 1929, ainda no tempo do cinema mudo, inaugurou-se, na Praça Seca, o Cine Ipiranga, onde hoje é o Supermercado Três Poderes. No local, na década de 1910, existia o estábulo do Francisco José de Souza, que era dono do botequim na esquina de Cândido Benício com Barão. 0 Chico criava ali cabras e vacas leiteiras. Depois, armou-se no mesmo lugar o Circo Ipiranga, que emprestou o nome ao cinema. 0 terreno pertencia ao Coronel Virgílio Viana, antigo morador da Rua Barão. Gerôncio Sá, um dos primeiros moradores da Rua Albano, foi quem comprou o terreno do Coronel Virgílio e, com o primo Heitor Silva, edificou o Cine Ipiranga, que, na época da inauguração, em 1929, era o mais confortável do subúrbio e bastante útil à população de Jacarepaguá. Num bairro essencialmente rural, na época, seus habitantes vinham de lugares distantes montados a cavalos, que ficavam amarrados em espaços especiais, enquanto os donos assistiam o filme.

0 Gerôncio, que faleceu na própria Rua Albano em 1981, vendeu o cinema, em 1935, para o Américo Bebiano. Este convidou para gerente o Efraim Lifehitz, que, com muita experiência no setor bancário, dinamizou a tal ponto a firma que o Américo lhe deu sociedade na década de 1950. 0 Américo também possuía um terreno na Praça Seca, onde hoje tem o edifício com seu nome, ao lado do Country Clube, que ele pretendia construir o Cíne-Teatro de Jacarepaguá, mas, com o advento da televisão, desistiu da idéia. No meio desse terreno, havia um barraco, onde morava o velho José, porteiro do cinema. Na década de 1940, o Efraim foi obrigado a passar o José para a parte da tarde. Por causa do seguinte fato: o Efraim notou que na última sessão sempre saia mais gente do que entrara. Então, resolveu observar e, assim, descobriu tudo. A rapaziada da praça ficava na espreita em frente ao Bar do Bernardino e, todos os dias, quando o "seu" José começava a cochilar, penetravam um a um nas pontas dos pés.

0 Efraim vendeu o cinema em 1969, alguns anos depois da morte do Américo Bebiano. O estabelecimento foi comprado pelos antigos sócios do cinema Haddock Lobo: José Francisco Cupello, José Simão e Francisco José Meimberg. Em 1976, o ci-nema foi novamente negociado e demolido para dar lugar ao Supermercado Três Poderes (28). 0 Cine Ipiranga foi responsável indireto pela transferência da minha família para a Praça Seca. É que minha mãe, a Dona Lina, trabalhou lá de 1944 até 1976. Em 1949, viemos morar na nua Rua Baronesa, que ficava mais perto do Ipiranga do que nossa antiga residência em Marechal Hermes.

0 Cine Baronesa foi inaugurado em 23 de outubro de 1950, com a presença da Baronesa da Taquara. 0 construtor e dono de todo o prédio foi o engenheiro Handelino Almeda Bonfim, que poucos conheciam como Almeda. A população o chamava de Almeida, apesar dele não gostar muito. Com base no seu idealismo, criou um cinema de dependências avançadas para a época, inclusive, com palco para exibições teatrais, que, infelizmente, nunca chegou a ser usado para tal finalidade. 0 Almeida foi mais longe ainda no seu ideal: na loja onde hoje é o Chopão (29), ele instalou, também em 1950, moderna lanchonete americana, com mesas e cadeiras de vime na calçada e cafezinho em pé no balcão (isso atualmente pode ser normal, mas., durante os anos de 1950, o café tradicionalmente era servido nas mesas). A iniciativa revolucionou o bairro, já que em toda a Zona Norte não existia estabelecimento daquele tipo, que poderia ser visto em filmes americanos ou em poucos pontos da Zona Sul. Para uma noção do vulto do empreendimento, lembramos que a primeira loja do Bob"s foi aberta pelo americano Robert Ealkenburg, na Rua Domingos Ferreira, em Copacabana, em abril de 1951, meses depois da lanchonete do Almeida.

Talvez, por causa de ser muito avançada no tempo, a lanchonete da praça teve vida transitória e foi desativada. A loja ficou fechada até 1954, quando o Almeida a vendeu para o Banco de Crédito Territorial, que, durante muitos anos, manteve uma agência no local. Mais tarde, o banco transferiu-se para o prédio que construiu, onde é o Bob"s. Depois de alterar o nome para Bamerindus, tornou-se a mudar para a atual agência na Praça Seca (30). Em 1958, o banco vendeu sua antiga loja do prédio do Cine Baronesa para os primeiros comerciantes do Chopão, os irmãos José e Jerônimo Fernandes, que continuam donos do imóvel.

Após a inauguração do Baronesa, o Ipiranga passou a ser chamado carinhosamente de "poeirinha". 0 Cine Baronesa era elegante, com funcionários implacáveis de uniformes vistosos cheio de botões metálicos enormes. Em 1951, um acontecimento chegou a sair nos jornais: o vereador Acióli Lins, dentro da sala de projeção, não quis apagar o cigarro ao ser interpelado pelo "lanterninha", alegando que um parlamentar não poderia ser chamado atenção. No tumulto que se seguiu, o vereador tentou agredir um guarda. No Cine Ipiranga, era difícil ocorrer esses casos. Além dos seus porteiros (Neco, Mackione e Rubens) não se vestirem com toda aquela pompa, tinham mais. experiência no contato com o público. 0 Ipiranga, aliás, possuía um varandão lateral, onde as espectadores, mesmo fumando, assistiam o filme, pois as portas de acesso ao salão de projeção ficavam sempre abertas. 0 primeiro gerente do Baronesa foi o Darci, mas logo veio o Zé Paulista, que ficou na gerência por longo período .

Em 1965, com muitos problemas, o Almeida fechou o cinema, que não funcionou durante um ano. Em 1966, Waldir Montenegro, Carlos Barbosa e José Conçalves compraram o prédio, com exceção da loja do Chopão, que, na época, pertencia ao Banco Bamerindus. Os três eram sócios da Casa do Construtor, na Rua Cândido Benício; e do Cine Taquara. 0 Ronald Montenegro, irmão do Waldir, ficou sendo o gerente. Amantes da cinematografia, promoveram excelentes sessões de filmes artísticos, nas décadas de 1960 e 1970. Logo que adquiriram o imóvel, eles abriram a Sorveteria Baronesa, atual Baronesa Lanches na mesma loja onde funcionou, a partir de 1950, a Sapataria da Praça, fundada por Expedito Silva Perez. Em abril de 1958, após a construção do Edifício Baronesa, a Sapataria da Praça mudou-se para lá, onde se encontra até hoje. Em 1972, Carlos Barbosa e José Gonçalves desfizeram a sociedade, e o Waldir ficou sozinho com a firma. 0 Carlos Barbosa, atualmente, é dono do Cine Cisne (31), na Freguesia. 0 Waldir, logo depois, vendeu a sorveteria. Mais tarde, em 1979, também negociou o Cine Baronesa para a CIC - Companhia Internacional Cinematográfica, subsidiária da Metro Goldwin Mayer, atual proprietária (27).

Na década de 1950, existia um cinema ao ar livre na Rua Cândido Benício entre as ruas Ana Teles e Pinto Teles, que passava bons filmes. 0 dono do cineminha era o Sebastião de Oliveira, que sempre estava de olho no tempo, pois se chovesse não havia sessão. Recentemente, em 29 de agosto de 1979,Arnélío Tinoco inaugurou o atual Jacarepaguá Auto Cine (mais conhecido como drive-in), no Mato Alto, ao lado do conjunto do IPASE. 0 Tinoco também é dono do Ilha Auto Cine, na Praia de São Bento, na Ilha do Governador.

A região da Praça Seca também serviu de cenário para filmagens. A mais importante foi em 1954 com o filme "Matar ou Correr", na Rua Barão. Na mansão do Armindo da Fonseca, na mesma Rua Barão, realizaram-se tomadas para duas fitas: "Paraíba, Vida e Morte de um Bandido", com Jece Valadão, Darlene Glória e Rosana Ghesa; e "Os Campeões", filme sobre corridas de automóveis, com Jardel Filho e Sadi Cabral. Na mansão do Afonso Nunes, na Rua Florianópolis, nos anos de 1960, a TV Globo gravou diversos seriados. A própria TV Globo, recentemente, filmou duas novelas na Praça Seca. Uma foi "Feijão Maravilha", em 1979, na vila número 595 da Rua Pedro Teles. A outra, "Guerra dos Sexos", em 1984, na Vila Astrogilda, na Rua Dr. Bernardino número 56.

De todas as produções cinematográficas a que mais sensibilizou o povo da Praça Seca foi a comédia a Atlântida dirigida por Carlos Manga: "Matar ou Correr". As filmagens foram na Rua Barão, onde hoje é o conjunto dos bancários. Numa elevação plana, atualmente com diversos blocos, Carlos Manga montou a sua City Down, cidade imitando as dos filmes de far-west norte-americano, somente com os cenários da frente para as tomadas externas, pois as interiores foram no estúdio da Atlântida. Era a época das chanchadas no cinema nacional, com a Atlântida sempre ironizando as fitas americanas. "Matar ou Correr" satirizava o western "Matar ou Morrer" de Fred Zinnemann, com Gary Cooper no papel principal.

A região da Praça Seca em 1954 ainda guardava vestígios do passado rural. Embora sua população já fosse bem acentuada, estava longe de ser igual as dos dias atuais. Os habitantes aglomeravam-se em volta dos cenários e viam de perto os artistas da produção: Oscarito, Grande Otelo, John Herbert, José Lewgoy, Renato Restier, Inalda de Carvalho, Wilson Grey e Wilson Viana. Este, que mais tarde interpretou o Capitão Asa na TV, freqüentou a Praça Seca. Ele e o irmão Édson Viana fizeram parte da rapaziada da praça nos anos de 1940 e começo dos anos de 1950. Trabalhar em cinema naquela época era verdadeira aventura, e os artistas não dispunham sequer de instalações para uso pessoal. A atriz principal, Inalda de Carvalho, por exemplo, utilizava a residência da Lazir, na Rua Marangá (casas da Light), para trocar de roupa. As filmagens eram realizadas com a luz do Sol, mas muitas vezes foram noturnas. Na manhã do dia 24 de agosto de 1954, interrompeu-se o trabalho, quando soube-se da morte do Presidente Getúlio Vargas. Grande Otelo, que fazia cena bem cômica naquele momento, não agüentou a emoção e chorou copiosamente.

Se algum artista do "Matar ou Correr" retornasse ao lugar da City Down ficaria estupefato com a nova paisagem. Em 30 anos, aquele trecho (uma garganta nas vertentes dos morros da Reunião e Inácio Dias, no final das ruas Florianópolis, Barão e Baronesa, atualmente conhecido como Santa Casa), se transformou dos campos verdes de outrora em aglomerado urbano com cerca de 12 mil habitantes, além das pessoas atendidas diariamente pelo INAMPS e INPS. 0 movimento cresceu tanto que o terminal de duas linhas de ônibus passou para lá: 0 284, Praça Seca-Tiradentes, cujo ponto antigo era em frente à bilheteria do Cine Baronesa; e o 952, Penha-Praça Seca, que era em frente ao Country Clube.

0 único conjunto que já existia na época do filme era o da Light, com casas de frente para as ruas Barão, Marangá, Florianópolis e as vilas, que ficaram prontas em 1950. Na vila da Light, nasceu o compositor Paulo Sérgio Pinheiro, que foi marido da cantora Clara Nunes. Muito antes, em 1928, houve um prolongamento da Rua Barão em direção ao morro, a partir da Rua Marangá, a fim de permitir o loteamento de grandes áreas, que se transformaram em sítios e chácaras. Os bancários, construídos pela firma Carvalho Hosken Engenharia para o antigo IAPB - Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Bancários, foi inaugurado no dia 28 de agosto de 1964, com a presença da Secretária do Governo Carlos .Lacerda, Dona Sandra Cavalcânti. 0 nome do clube, que por muito tempo esteve vinculado ao condomínio, se chamou 28 de Agosto, em homenagem à data dessa inauguração. 0 conjunto tem 13 blocos, num total de 384 apartamentos. Depois do filme "Matar ou Correr" e antes da edificação dos Bancários, havia naquela área dois campos de futebol, ambos com balizas.

A Comunidade Residencial Aeronáutica, popularmente conhecida por Aerobitas, começou a ser habitada em julho de 1971, sendo que as obras dos 41 blocos tiveram início em 1967 e foram financiadas pelo Banco Nacional de Habitação. Em frente ao Aerobitas, dezessete blocos formam o Conjunto Monteiro Lobato, construído no antigo sítio da família Horácio da Matta e inaugurado no dia 3 de julho de 1971, pelo então Ministro do Interior José Costa Cavalcânti. 0 Conjunto Monteiro Lobato é uma realização da Cooperativa Habitacional Operária do BNH.

0 INPS (32) foi criado em 1964, absorvendo os antigos IAPs, com exceção do IPASE, que só entrou para o INPS em 1978. Por causa disso, o IAPB passou a englobar o INPS. Assim, em 1965, o posto médico (antigo SANDU), no IPASE do Mato Alto, foi transferido para o imóvel do IAPB, na entrada do conjunto dos Bancários. Em maio de 1983, o INPS ampliou essas instalações da Rua Barão, quando surgiu o posto de benefícios, inclusive com perícia médica, habilitação e concessão de auxílio doença. Ao lado do INPS, está situada a Escola Municipal Morvan de Figueiredo.

Em 1972, Domingos José Pereira Braga Júnior iniciou a venda do loteamento da Lagoa da Prata, que fica numa colina na vertente do Morro da Reunião, com a entrada pela Rua Marangá, esquina da Rua Florianópolis. Antes do Braga, as terras pertenciam a Matias José Ervens, que as adquiriu de Dona Emília Joana Fonseca Marques, filha do Barão da Taquara. A grande área ao lado, também na Rua Florianópolis, em frente aos Bancários e Aerobitas, é propriedade do Samuel Chadrik, que recebeu de herança do pai. A área do Chadrik vai até o outro lado do Morro da Reunião, na Estrada da Covanca. Ele possuí um caseiro, para impedir as invasões e manter aquela parte do morro ainda bastante verdejante.

Em 1930, realizou-se, em plena Praça Seca, grande quermesse, com a finalidade de angariar fundos para a construção do Hospital de Clínicas de Jacarepaguá. 0 líder do movimento foi o médico Manoel de Morais. 0 terreno seria doado por Dona Emília, mas, com a morte do Dr. Morais, o projeto não foi para frente. Anos depois, no mesmo local escolhido para ser o hospital, que ficava ao lado das terras do futuro Aerobitas, foi construído o Sítio Tupã, contemporâneo do filme "Matar ou Correr". Mais tarde, o sítio passou a ser um orfanato. Em 1956, foi instalada ali a Clínica Psiquiátrica Araújo Lima. A partir de 1965, começou a funcionar a atual Sociedade Hospitalar Clínica Monte Alegre.

A partir da década de 1920, tornaram-se posseiros de grande parte do Morro Inácio Dias os lavradores Manuel Pinto e João Pinto, que arrendavam as terras diretamente com a proprietária, a Dona Emília Joana. A lavoura do Manuel Pinto começava na vertente junto à Rua Capitão Menezes e terminava no marco de pedra, onde hoje está erigida a capela São José. As terras do Manuel, inclusive, desdobravam morro acima até o outro lado, onde atualmente existe a Escola XV de Novembro, da FUNABEM (33). A posse do João Pinto, que era primo do Manuel, estendia-se daquele marco de pedra até a Rua Florianópolis, e, a partir daí, atravessava o morro até a Estrada da Covanca, onde se localizava a sua casa.

Em 1925, aos 14 anos de idade, chegou ao Brasil o português Francisco de Abreu Ferro, que veio trabalhar na lavoura do Manuel Pinto. Aos 21 anos de idade, em 1932, o Chico Ferro comprou a posse do Manuel e se tornou o único arrendatário das terras. Pagava foro à Dona Emília e, depois, ao novo dono, a Companhia Territorial de Jacarepaguá. 0 Chico Ferro morreu nas fortes chuvas do dia 19 de fevereiro de 1967, carregado por uma avalanche, quando tentava abrir o chiqueiro, para salvar os porcos. Atualmente, suas terras vão da Rua Dr. Bernardino até a Rua Capitão Menezes. Dos seus seis filhos, o único que continua nelas é o Paulo Ferro. No final da Rua Baronesa, existe uma tendinha de propriedade de João Costa, conhecido como João Ferro, filho adotivo do Chico.

Grande parte da antiga lavoura do Chico Ferro, hoje em dia, é enorme favela, situada numa encosta do Morro Inácio Dias, que é chamado pelos moradores de Morro São José Operário, em virtude da existência no local da igrejinha do mesmo nome. Foi exatamente ao redor dessa capela de São José que começaram a surgir os barracos no morro, a partir de 1963, construídos pelos operários que trabalharam no túnel da adutora do Guandu naquele trecho. Anos antes, em 1958, a Companhia Territorial de Jacarepaguá vendeu toda a área para a Somotra Tratores, que, inicialmente, loteou a parte plana, com frente para a Rua Baronesa e Travessa Barão (hoje Rua Brício de Abreu). 0 loteamento da parte mais alta não foi aprovado pela Prefeitura. Então, na década de 1960, a Somotra não se interessou mais pelo projeto. Assim, proporcionou que toda aquela encosta fosse definitivamente ocupada de maneira desordenada. Todo esse complexo humano (conjuntos habitacionais, loteamentos, favelas e órgãos públicos) mudaram completamente o lugar bem bucólico da época do filme "Matar ou Correr", transformando a Rua Barão, com seu vai e vem de pessoas, numa das ruas mais movimentadas de Jacarepaguá.

Parte 8


Bem junto da praça na Rua Cândido Benício o ficava o 26º Distrito Policial, num prédio assobradado e ao lado da entrada da Vila Garcia, que ainda existe no número 1.668. 0 distrito veio do Tanque e instalou-se na praça em 1916, cinco anos após o Gastão Taveira ter construído o sobrado. Em 1955, retornou ao Tanque, pois o então proprietário do imóvel, Victor Parames Fortes, o pediu para obras, quando surgiu o atual edifício. No local onde era o Distrito Policial, passou a funcionar, no prédio novo, uma agência do Banco do Brasil, que, depois, também foi para o Tanque. Atualmente, ocupa aquele lugar o Laboratório Médico Dr. Eliel e Elielson Figueiredo (34). Com a saída do distrito do sobrado, a região da Praça Seca ficou dividida sob a jurisdição dos DPs: Tanque e Madureira. Em 21 de junho de 1979, foi inaugurada a 28a. Delegacia Policial, na Rua Cândido Benício esquina da Rua Pinto Teles, que passou a ser responsável por toda a região do Vale do Marangá.

Na época do 26º Distrito Policial, a praça mantinha o aspecto peculiar das cidades do interior, onde o delegado de policia é a pessoa mais conhecida da população. 0 vinte e seis teve grandes delegados, como, por exemplo, Edgar Martins, Paulo Lemos, Pedro de Freitas Regado, Pointer, Álvaro Nogueira, Sales Margiori, Nilo Raposo, Mozart de Almeida e Godofredo de Matos, além do comissário Geraldo Padilha, célebre pelas suas façanhas. 0 delegado Godofredo morou na Rua Dr. Bernardino e foi goleiro do Esporte Clube Parames. Na década de 1930, com seu violão, ele estava sempre presente nas serestas improvisadas nos bancos da praça. Além de policial notável, o Godofredo também foi importante na música popular, com o nome adotivo de César Moreno, marcando época no apogeu dos programas de auditório do rádio brasileiro, quando acompanhou cantores famosos.

Outro expoente da música que residiu na região foi o compositor Carlos Alberto Ferreira Braga, o Braguinha, que, nas décadas de 1930, 1940 e 1950, era conhecido pelo pseudônimo de João de Barro. Ele veio para a Praça Seca em 1929, quando o pai, Jerônimo José Ferreira Braga Neto, mudou-se para a Rua Cândido Benício esquina da Rua Pinto Teles, numa casa antiga que foi demolida, para dar lugar à 28a. Delegacia Policial. Outros filhos do velho Jerônimo foram: Renato Léo Braga, que foi presidente do Jacarepaguá Tênis Clube em três períodos; Abelardo Braga, antigo e forte enxadrista do mesmo clube; Aristides Braga, já falecido; e Ilka Braga, casada com um dos monstros sagrados da radiofonia: Henrique Foréis Domingues, o Almirante, intitulado como a maior patente do rádio. 0 Almirante, inclusive, morou com a família Braga, na década de 1940, quando esta se transferiu da Rua Cândido Benício para um casarão na Praça Seca, esquina da Rua Barão, onde hoje se localiza o Supermercado Leão (35).

Dalva de Oliveira, cantora de grande sucesso nas décadas de 1940, 1950 e 1960, foi outra habitante da localidade. Após a separação com o compositor Herivelto Martins e já vivendo com o empresário e compositor argentino Tito Clement, ela veio morar na Rua Albano, onde criou os seus fílhos com o Herivelto: Peri Ribeiro e Ubirajara. Dalva de Oliveira gostava muito do bairro e freqüentava seus locais de lazer. Ela viveu na Rua Albano até o dia da sua morte em 1972.

Na Rua Barão, ao lado da Indústria Swing, residiu a estrela do cinema nacional, Rosana Ghesa, que era assídua participante das atividades sociais dos clubes da região. Foi no Clube dos Amigos de Armindo da Fonseca, onde dançou quadrilha da roça, que ela despontou para o estrelato, após vencer o concurso Miss Objetiva, representando o clube. Na região da Praça Seca, também morou o maestro César Guerra Peixe, na Travessa Pinto Teles, que teve grande projeção na época áurea do rádio. 0 Guerra Peixe é parente da família Faya. 0 seu sobrinho, o Antônio Faya, criado na Rua Barão, tornou-se técnico em sonoplastia e foi, por muitos anos, o principal responsável pelo som da TV Globo. Um morador ilustre da Rua Pedro Teles foi o compositor e saxofonista Pixinguinha, cujo nome era Alfredo da Rocha Viana Filho. Pixinguinha era assíduo freqüentador do Bar Chopão, na Praça Seca.

Na Rua Cândido Benício, atualmente ocupado pelo Supermercado Sendas, existiu um casarão chamado de Vivenda Gurgel do Amaral. Lã morou o médico José Matias Gurgel do Amaral, desde o início do século até sua morte em 1944. A filha do Dr. Gurgel do Amaral, Dona Maria da Conceição, foi casada com o arquiteto Moacir Paranhos Barbosa, irmão por parte de pai do Geremário Dantas. Na década de 1960, a mansão do Dr. Gurgel foi derrubada, para a construção do Supermercado Mar e Terra, que se transformou no atual Sendas. Outro médico célebre da região foi o Dr. Manuel de Morais, que era inquilino da família Carneiro, durante os anos de 1920 e 1930, na casa da Rua Cândido Benício, onde hoje ê o Edifício Charlie Chaplin.

Outro nome tradicional da localidade foi o Dr. Mário Martins Ribeiro, cuja residência era na Rua Florianópolis número 1.360, ao lado do terreno onde atualmente há uma carpintaria. A família do Dr. Mário era numerosa, com sete filhos, todos conhecidos no bairro: Jhan, Ubirajara, Paraguaçu, Caramuru, Jurupará, Marina e Nílton. A Paraguaçu casou-se com o político Nélson Antunes. Após o casamento, eles moraram num apartamento do prédio da Rua Barão número 933, em frente à praça. Depois, foram para um palacete, na mesma rua, esquina de Caiubi, atual Rua Interlagos, hoje ocupado pela Igreja Missionária Evangélica Maranata.

Na década de 1930, veio para a região da Praça Seca o então proprietário do Estaleiro Caneco, Raul Caneco. A casa, com enorme terreno, habitada por ele e família, ainda existe, na Cândido Benício número 597, quase esquina de Pinto Teles. 0 Raul e seus irmãos Álvaro e Horácio herdaram o estaleiro do pai, Vicente Santos Caneco, que o fundou em 1886. Em 1946, o Raul cedeu os direitos do estaleiro para o atual proprietário, o empresário Artur João Donato, que conservou a empresa com o nome primitivo. No ano seguinte, também vendeu a mansão da Rua Cândido Benício e foi morar em Cascadura. Seu descendente direto, o Raul Caneco Filho, nas décadas de 1930 e 1940, foi um dos poucos moradores da região que possuíam motocicleta. Por isso, era muito conhecido. Depois de se transferir com o pai para Cascadura, o Raul Filho retornou, em 1955, para a Rua Cândido Benício número 76, uma vila perto do Largo do Campinho, onde faleceu em 1978.

0 fundador do Jornal dos Sports, Argemiro Bulcão, também residiu na região na década de 1930, na Rua Baronesa quase esquina da Rua Itapuca (atual Gastão Taveira). Essa casa, depois, habitada pelo Afonso Nunes, era situada exatamente onde hoje existe um esqueleto de concreto, vestígio de obra que nunca chegou a ser concluída. 0 Argemiro Bulcão já possuía a mansão na época da fundação do jornal, o qual, mais tarde, vendeu para o Mário Filho. 0 Argemiro era casado com D. Alzira. O Waldir Miragaia, irmão do Argemiro Bulcão, foi jornalista do Jornal dos Sports e muito ligado ao Jacarepaguá Tênis Clube. Os filhos do Bulcão (Acir, Air e Aírton) e as filhas (Aila e Airta) foram criados na Praça Seca.

Na Rua Barão, nas décadas de 1930 e 1940, o engenheiro da Light Alfredo Maia possuía um sítio, conhecido pela população como a "Chacrinha do Dr. Alfredo". Depois da sua morte, os herdeiros venderam a propriedade, em 1955, para o industrial Armindo da Fonseca. Quando este comprou o imóvel, a Rua Japurá terminava na Rua Baronesa. Foi o próprio Armindo que prolongou a Japurá até a Barão, na linha divisória da sua área com os terrenos do Damásio dos Santos (lado da Rua Baronesa) e Antônio Tennyson Garcez (lado da Rua Barão). Com isso, os moradores podiam atingir mais rápido a Rua Florianópolis, aproveitando outro trecho novo chamado de Travessa Adelaide (atualmente Rua Desembargador Gastão Macedo), que une a Barão com Florianópolis.

A mansão do Armindo da Fonseca ocupa um espaço de cerca de 20 mil metros quadrados. Ele a transformou em casa cinematográfica, inclusive, dois filmes já foram rodados nos seus limites. A piscina imita um piano de cauda e a sauna é um navio. Todo esse paraíso é ornamentado com plantas raras. Muitos animais, inclusive, um leão. 0 grande lago da residência recebe água diretamente de nascente do próprio terreno. Esse lago, além de cisnes e garças, é habitado por cerca de mil irerês (uma espécie brasileira de marreco d"água) que não dormem na mansão. Todos os fins de tarde, os irerês imigram para lugar ignorado, e, durante a madrugada, voltam aos bandos. Filantrópico por natureza, o Armindo e a esposa, D. Dina da Fonseca, receberam, durante sua vida, diversas homenagem de organizações sociais. Atualmente, há a Fundação Armindo da Fonseca, para crianças pobres, na Rua Comendador Pinto.

Na década de 1960, o Armindo da Fonseca promoveu, em sua residência, festas juninas famosas, freqüentadas por gente de todo o Rio, principalmente da Zona Sul. Existia até um clube interno, com ampla sede nos fundos do terreno: o Clube dos amigos de Armindo da Fonseca, que possuía excelente quadrilha da roça. A quadrilha era dirigida por Amauri Val da Silva Ribeiro e Maurith José de Morais, sendo que o futuro jornalista Carlos Alberto Arruda de Matos era o relações públicas. 0 clube participou, com mérito, do concurso oficial de quadrilhas da roça do Estado da Guanabara. Em 1962, foi o quarto colocado; em 1963, campeão; e vice-campeões nos anos de 1964 e 1965.

Em 1936, Joaquim de Oliveira veio de Anchieta para Jacarepaguá e inaugurou, na esquina das ruas Cândido Benício e Ana Teles, o armazém Portas-de-Aço. Depois, em 1945, abriu filial na esquina da Rua Capitão Menezes, onde hoje existe a loja de automóveis Autódromo (36). Esses dois armazéns Portas-de-Aço deram a partida para se chegar à rede de Supermercado Leão. Em 1954, seu filho, Joaquim de Oliveira Júnior, o Quincas, assumiu a direção da empresa, imprimindo velocidade ainda maior no seu crescimento. Após a compra da Mercearia Phenix, o Quincas transformou a venda pelo sistema tradicional em de auto-serviço até atingir o Leão, uma das empresas mais bem organizadas do setor de alimentação. Ele também ocupou a presidência da Associação dos Supermercados dos Estado do Rio de Janeiro. 0 Quincas foi criado na região da Praça Seca. Morou na Rua Ana Teles e na Rua Dias Vieira número 279. Quando solteiro, nos anos de 1950, fez parte da rapaziada da praça. Na década de 1960, foi Presidente do Jacarepaguá Tênis Clube.

0 Gerard Rocha Duarte, o Azinho, foi outro morador da região especialista no comércio de comestíveis. Ele possuía um frigorífico em Madureira e vendia carne por atacado. Seus filhos, que foram criados na Praça Seca, tinham ate apelidos peculiares à profissão do pai: Ulisses "Olho de Boi" e Quinzinho "Alcatra". Na Rua Cândido Benício número 1.538, onde hoje é a Clínica de Repouso Valência, morou até a década de 1930 o distribuidor de banha Januário Cunha, casado com uma das filha do Dr. Bernardino e conhecido como "Rei da Banha", que construiu a casa ainda existente na clínica em 1919. 0 Nélson Antunes, antes de casar com a Paraguaçu, foi garçom do Café e Bar Recreio da Praça, que era do seu pai nos anos de 1930. 0 Bar Recreio da Praça, depois, passou para o Albino, deste para o Artur, que transferiu o negocio para os irmãos José e Aníbal Louro. A loja antiga da Padaria Olga antes foi cinema. Quem a transformou em padaria foi o Rivera, na década de 1920, que deu o nome de Olga em homenagem à filha. Em 1946, Antônio Monteiro tornou-se dono do estabelecimento, conservando o nome de Padaria Olga. Depois da demolição do prédio que ocupava, onde hoje é o BANERJ, a padaria foi para outra loja no edifício novo, onde atualmente está a Drogasmil. A Padaria Olga marcou tradição no bairro, principalmente como ponto de reunião do pessoal do Esporte Clube Parames. Por esse motivo, o Antônio Monteiro, a esposa Dona Dolores e os filhos (Rubens, Paulo, Arthur e Zeca) tornaram-se bastante conhecidos na região.

0 prédio antigo, com uma série de lojas, na Rua Cândido Benício esquina da Rua Dr. Bernardino, foi construído na década de 1940 por José Maria Carlos Osório, que se instalou no comércio de ferragens, na esquina, e alugou as demais lojas. 0 Osório veio para a Praça Seca em 1918, quando se estabeleceu no antigo sobrado do Gastão Taveira com um armazém. Mais tarde, comprou as terras da Rua Dr. Bernardino. Ele faleceu em 30 de janeiro de 1980, e os imóveis pertencem, atualmente, aos herdeiros. Na década de 1940, na esquina oposta ao prédio do Osório, onde hoje existe o Edifício Lunar, havia um botequim e, ao lado, o sapateiro João Lopes, pai do goleiro Jonas.

A grande pedreira desativada em 1982, na Rua Maricá esquina com a Rua Pinto Teles, foi explorada na pedra do Ludovico. Essa enorme pedra era muito linda e dava ao morro visual bem diferente dos dias de hoje, inclusive, também desapareceu a nascente em sua base. Na época da pedra do Ludovico, o Tenente Nélson realizava ali exercícios de tiro. Após os treinamentos, os meninos das redondezas guardavam as balas para, depois, brincar com elas. 0 dono de toda a área da pedreira era Pedro Ferreira Vieira, que morava num casarão na Rua Maricá e arrendava o serviço de extração da pedra para terceiros. 0 primeiro locador foi o Evaristo, e, depois, o Cipliano Pereira.

0 Ministro da Guerra do Governo de Rodrigues Alves, General Francisco Paula Argolo, na década de 1920, morou na Rua Pinto Teles, num castelinho que ainda existe. Na época, todas as terras ao redor pertenciam ao general. Mais tarde, em 1939, foi aberta uma rua na entrada do castelinho, na Rua Pinto Teles, que se chamou Abadia. Em 1946, essa rua passou a ser denominada Comandante Simião, em homenagem ao herói da II Guerra Mundial. Um político da República Velha que residiu na região da Praça Seca foi Mendes Tavares, senador no período do Presidente Artur Bernardes. A residência do Senador Tavares era na Rua Japurá, onde atualmente funciona um asilo da Santa Casa da Misericórdia, o Repouso Santa Maria e São Manuel. Essa casa de assistência social foi inaugurada em 8 de dezembro de 1964 pelo Provedor Ministro Afrânio Antônio Costa.

0 Barão da Taquara foi praticamente o primeiro político de Jacarepaguá. Ele pertenceu ao Partido Conservador, pelo qual foi vereador da Imperial Câmara Municipal. Apesar de monarquista, prestigiou muitos nomes para cargos do poder legislativo, durante a República. 0 Cândido Benício da Silva Moreira teve o apoio do Barão nas eleições de 30 de outubro de 1892, quando por grande diferença de votos elegeu-se representante de Jacarepaguá ao primeiro Conselho Municipal do Distrito Federal. 0 próprio filho do Barão, Francisco Pinto da Fonseca Teles, no início do século XX, foi eleito intendente municipal (intendente corresponde hoje ao cargo de vereador). Na mesma época, Geremário Dantas também cumpriu mandato, outorgado pelo povo do bairro, na intendência municipal. Na década de 1920, outros dois habitantes da região da Praça Seca foram intendentes municipais: Nélson de Almeida Cardoso e Carreiro de Oliveira, que foram cassados na Revolução de 1930. 0 Carreiro de Oliveira morou na Rua Baronesa número 887. 0 Nélson Cardoso, cuja antiga Estrada da Taquara recebeu seu nome em 1947, residiu numa casa que existia no Mato Alto, na Rua Cândido Benício. 0 Nélson era irmão do Dr. Orlando Cardoso, e também nos anos de 1920, foi dono da farmácia Santa Cecília, na Praça Seca, atualmente uma das metades do Supermercado de Carnes Sol da Nave (37).

Na década de 1930, o grande líder político de Jacarepaguá foi Ernâni Cardoso, intendente municipal, deputado federal, professor, proprietário e fundador do Colégio Arte e Instrução. 0 seu assessor eleitoral era o Galdino José da Silva, tradicional morador da Rua Albano. 0 Galdino nasceu em 22 de abril de 1887 e faleceu em 6 de agosto de 1969. Ele foi funcionário do Senado Federal, aqui no Rio e em Brasília, quando a capital foi transferida para a nova cidade. Filho de criação do Senador Lauro Müller, recebeu como herança parte das terras do senador na Rua Albano. 0 Galdino foi cabo eleitoral de outros políticos, inclusive, do Álvaro Dias. 0 Aristides de Paula Ribeiro, antigo morador da Rua Florianópolis, foi um dos muitos colaboradores do Galdino na política.

0 Breno da Silveira, que tinha um sítio na Rua Albano, despontou na política, após a ditadura de Getúlio Vargas, quando, em 1947, foi eleito vereador pelo antigo Distrito Federal. Depois, elegeu-se Deputado Federal em diversos mandatos até 1964. Atualmente, reside no Recife. Na eleição de 1950, foram eleitos vereadores os políticos Índio do Brasil, que morava na Rua Pinto Teles esquina da Rua Comandante Simião; e Álvaro Dias, que já era vereador desde 1947. Foram também candidatos nesse ano: Armando de Mesquita, que foi Presidente do Jacarepaguá Tênis Clube; e Osmar Correia D"Avíla, pracinha da Força Expedicionária Brasileira. Álvaro Dias tornou-se famoso na região como médico e político. Na época de solteiro, viveu na Rua Albano. A partir de 1931, quando se casou com D. Marina, neta de D. Emília Joana e bisneta do Barão da Taquara, morou na Rua Cândido Benício, no Mato Alto, numa casa na entrada para a Vila Albano, há muito tempo demolida, que também foi residência do Nelson Cardoso. Depois, ele foi para a Rua Florianópolis e, a seguir, para o Tanque, numa casa antiga onde hoje ê a sede da XVI Região Administrativa. 0 Álvaro Dias clinicou em diversos lugares na Praça Seca. Em 1940, ele inaugurou a Maternidade de Jacarepaguá, na esquina das ruas Cândido Benício com Godofredo Viana. Em 1956, vendeu essa casa de saúde, porque foi nomeado para Ministro do Tribunal de Contas da União, do qual se aposentou em 1974.

Nas eleições legislativas de 1954, o escritório eleitoral do candidato a vereador pelo PTB, Amando da Fonseca, que ficava na Rua Baronesa número 774 em frente à Rua Pedro Teles, marcou época na região. Era na casa do Camacho, que possuía enorme terreno, com frondosa mangueira na entrada. Naquela época em que a televisão engatinhava no Brasil, e que pouquíssimas residências possuíam aparelhos receptores, o Amando instalou um no terreno do escritório. À noite, uma multidão aglomerava-se para assistir aos programas da Tupi, que era o único canal do Rio. Muito ligado ao setor artístico, pois era casado com a atriz Josete Bertal, o Amando promoveu também shows, com a presença de cantores famosos e do Chocolate, do Circo Olimecha, que dava ritmo cômico ao espetáculo.

0 principal assessor do Amando da Fonseca foi Cândido Narciso Camacho Gomes, que havia trabalhado na campanha do Dr. Armando de Mesquita, nas eleições de 1950. A casa do escritório eleitoral, inclusive, era de propriedade do Camacho, que morava ao lado no número 782, onde hoje é o Serviço de Raio X do Dr. Ribeiro. 0 Camacho era getulista e, em 24 de agosto de 1954, no dia da morte de Getúlio Vargas, armou uma bancada em frente ao escritório, fotos e outras lembranças do estadista, inclusive, a carta-testamento.

As eleições de 1958 foram as que mais apresentaram candidatos a vereadores moradores da região da Praça Seca: Paulo Durães, Czalberto São Paulo, 0távio Pitanga (Vivinho), Nélson Antunes, Capitão Sílvio Soares Brasil, Gabriel Capistrano Júnior, Victor Hugo de Albuquerque, o farmacêutico José Miranda, Alvinho Humberto (Vaca Brava), além do Waldir Moura, morador da Taquara, mas assíduo freqüentador da Praça Seca. Anos depois, em 1970, o seu filho Jorge Moura foi eleito Deputado Federal.

Um cabo eleitoral importante na região foi o Sebastião de Oliveira, o Tião, que dirigiu as campanhas do Carlos Lacerda em Jacarepaguá, tanto nas eleições para Deputado Federal como nas para governador do novo Estado da Guanabara, em 1960. 0 Tião morou em vários locais da região da Praça Seca, inclusive, onde também residiu o Vereador Rivadávia Correia Maia, na Rua Cândido Benício número 901. Na década de 1950, ele tinha um cineminha ao ar livre, num terreno na Rua Cândido Benício. No início da década de 1960, no cargo de Diretor de Patrimônio, foi o responsável pelas grandes obras no Jacarepaguá Tênis Clube, onde depois ocupou a presidência. Sebastião de Oliveira faleceu aos 57 anos de idade, no dia 19 de dezembro de 1973, num desastre de automóvel, no qual o seu filho Cláudio sobreviveu.

Com a criação do Estado da Guanabara, foram eleitos para a Assembléia Estadual: José de Souza Marques, em 1960; Afonso Nunes, em 1964; Léo Simões, em 1964; Heitor Furtado, em 1966; e Sebastião Meneses, em 1966. 0 Professor Souza Marques foi diretor e proprietário do colégio que leva seu nome, na Avenida Ernâni Cardoso. Léo Simões, apesar de nunca ter morado na região, freqüentou o Jacarepaguá Tênis Clube, no qual foi, durante anos, presidente do Conselho Deliberativo. 0 leiloeiro Afonso Nunes foi tradicional morador da Praça Seca. Primeiro na Rua Baronesa, onde realizou famosas festas juninas; e, depois, numa mansão de cerca de seis mil metros quadrados na Rua Florianópolis número 1.560, que ainda existe. Heitor Furtado residia no Tanque, mas, na década de 1950, estava sempre na Praça Seca e fazia parte da sua rapaziada. 0 Léo Simões e Heitor Furtado continuaram com sucesso na política. Souza Marques e Afonso Nunes já faleceram. 0 Sebastião Meneses foi Deputado Estadual de 1966 até 1978. Filho de Jonas Nascimento Meneses, conhecido farmacêutico da região, ele foi criado e estudou na localidade. Morou por muitos anos na Rua Cândido Benício. Na própria Praça Seca, casou-se com a filha do Álvaro Dias, a Dona Mirian. Sebastião Meneses também foi médico obstetricista da Maternidade do Álvaro Dias.

Na década de 1970, o líder político da região da Praça Seca passou a ser Mesquita Bráulio, dono do educandário SUSE, que foi vereador em 1974 e deputado estadual em 1976 e 1978. Mas perdeu a liderança nas eleições de 1982 para o Vereador Rivadávia Correia Maia. Outro eleito para vereador em 1982 foi Gérson Guilherme Ortiz Sampaio, que jogou futebol no Esporte Clube Parames, na década de 1940. Em 1985, as bases para a tentativa de fundação do Partido Social Trabalhista foram lançadas na Praça Seca, cujos líderes Gilberto Campos e Hélio Matos (ambos falecidos) foram antigos moradores da região.

Parte 9

A Praça Barão da Taquara possuía encanto silvestre na década de 1940, com jardins floridos e extensos gramados. Os caixeiros levavam, na cabeça, as compras do armazém até às residências. A população e o comércio tinham significativo elo, e todos conheciam os nomes dos comerciantes da praça nos anos 1940. Do lado par da Rua Cândido Benício, nas lojas do prédio assobradado do Parames: 26º Distrito Policial, Igreja Batista, serralharia do Francisco Lamboglia, loja de ferragens do Damião e Eduardo, armarinho do Manuel Carreiro (em cima, consultório do Dr. Edmundo), açougue do Eduardo Botelho (tinha uma porta que sublocava para o Jorge Sapateiro), quitanda do José Vieira (tinha uma porta que sublocava para o Foto Mallet), Padaria Olga do Antônio Monteiro (em cima, o Salão Cléia do Sr. Ruas), armazém do Pena Bastos (em cima, a sinuca do Tenente Nélson). Nas lojas do Garcez: armazém do Barros, Café Recreio da Praça do Albino e Padaria Marangá do Costa, já na esquina da Rua Baronesa.

A Marangá foi a primeira panificadora da região da Praça Seca, inaugurada em 1908. Um dos primeiros negociante foi o Morgado. Depois, vieram o Costa, o Alberto e o Antônio. 0 Roberto foi seu empregado mais tradicional, pois trabalhou desde 1941 até ela ser derrubada, a fim de ser construído o atual restaurante Bola Branca. Mas continuemos com a descrição da praça nos anos 1940. Do lado ímpar da Rua Cândido Benício, a partir da esquina da Rua Baronesa: Armazém Jacaré do Arnaldo (onde hoje é o Cine Baronesa) (38), Leiteria e Bar dos Sports do Ataliba (atual Bar da Bebel) e açougue também do Ataliba, que depois foi do Álvaro (39).

Na praça do lado par (o do coreto), da Rua Baronesa em direção a Rua Barão: residência e consultório do Dr. Fiuza, Escola Honduras, Edifício Nair, residência do Coronel Brazini Fabriani, residência do Joaquim Mesquita (pai do atual delegado de polícia Ricardo Mesquita (40). Na década de 1950, eles moraram no Edifício Nair), residência da família do compositor Braguinha, onde hoje é o Supermercado Leão (41). Do outro lado da praça, o lado ímpar, na mesma direção: terreno baldio, residência da família da Dona Zilda Barbosa, residência da família de Hermínio Pessoa, terreno do Américo Bebiano (dono do Cine Ipiranga), residência da família Montenegro Cairrão, posto de saúde escolar e Cine Ipiranga (hoje o Supermercado Três Poderes) (42).

A partir da esquina da Rua Barão, a continuação do lado par da Rua Cândido Benício: armazém do Pena Bastos (depois, foi a casa de móveis do Jacó e Henrique. Hoje, é o Sorvetão), barbearia do Mário, loja do Álvaro (bombeiro hidráulico), sapateiro Luciano (atualmente (1986), o mais antigo comerciante da praça, estabelecido desde 1936), consultório do Dr. Faure, armarinho do Chimeli, farmácia do Miguel Archanjo de Oliveira, loja de ferragens do Verdial, residência do Gurgel do Amaral e casa de móveis do Davi (pai do Israel Gimpel Szmaizer, jornalista esportivo, que ainda reside naquele local) (43).

Lado ímpar da Rua Cândido Benício até a Rua Barão: alfaiataria do Aniz Abraão (atual Sapataria Primorosa), Café Brasil (que tinha uma pequena sinuca), botequim e salão de sinuca dos irmãos Bernardino e José (já na esquina da Rua Barão), açougue do Salvador Aielo, armazém do Antônio, depósito de pão e sorveteria do Benício Soares, barbearia do Pepito (que foi juiz de futebol da federação e apitou muitos jogos no Parames) e quitanda do Nicolau Matera (pai do Moacir, o Caneta, que jogou futebol na região).

Na primeira metade do Século XX, o jogo de bilhar (mais conhecido como sinuca) foi o passatempo mais contagiaste da juventude. Eram sinucas geralmente da fábrica Tujague. Mesa grande com tampo de ardósia, recoberto por pano de cor verde muito fino e bem esticado, com o rebordo reforçado por tabelas de borracha. As bolas, coloridas conforme os valores, eram de marfim, ao contrário das sinuquinhas de hoje, com bolas de matéria plástica especial. A sinuca viveu seu apogeu de 1930 até meados dos anos de 1950, com centenas de bilhares nos botequins da cidade. Na Praça Seca, existiam três salões.

0 mais antigo foi no bar do Bernardino, na esquina da Rua Barão, onde hoje é a Lanchonete Ramalhense. 0 Bernardino dos Reis e o irmão José dos Reis ficaram com o botequim, após a morte do cunhado, Francisco José de Souza. Depois, em 1946, eles compraram também o imóvel da herdeira e filha do antigo dono, Dona Ester de Souza Almeida. Mas, na década de 1930, os dois construíram a sinuca ao lado do botequim, onde existia uma casa do tipo antigo em que as janelas e porta davam direto para a calçada, na qual o Bernardino morou, quando casou com Dona Carminda. A sinuca acabou em 1956. Em 1958, foram realizadas obras no local, quando surgiram as atuais lojas Bel-Dete e relojoaria (44). Ao lado do Bernardino, também na Rua Cândido Benício, onde hoje é o Big Bar, havia outro salão, no então Café Brasil, que era conhecido como sinuca do Mau Cheiro. Após o fim da sinuca, o Big Bar teve vários donos. Um deles, o Manuel Pipoqueiro, foi quem construiu o prédio novo ao lado, na Rua Cândido Benício número 2.009, onde localiza-se a Sapataria Zoraide Modas (45). Naquele local, na década de 1930, existia a carvoaria do João Simões.

Os sinuqueiros que mais se destacavam eram chamados de taquinhos. Os principais da sinuca do Bernardino e do Mau Cheiro foram: Horácío, Augusto, Ulisses "Olho-de-Boi", Chiquinho (sobrinho do Bernardino) e Ferrinho. Mais tarde, ainda na década de 1940, surgiram outros cobras do mesmo nível: Edson Escovão, Raimundo, Hélio Matos e Cléber. Também eram excelentes jogadores o João Coca-Cola, Gilberto Papa-Rola, Geraldo Louro, Sérgio Escola e o Cleomar. No recinto do botequim, onde ficavam as mesas, não podiam permanecer menores, pois o jogo só era permitido por lei para maiores de 18 anos. 0 Ataíde, filho do Coronel Brazini Fabriani, que morava onde hoje é a Igreja Batista, deu muito trabalho ao Bernardino e ao garçom Nazário, pois o pai não queria que ele jogasse sinuca. Diversas vezes, o coronel vinha ao bar de madrugada para levar o Ataíde para casa. Certa vez, trancou o rapaz dentro do seu quarto. De vez em quando, ia observar se a porta continuava fechada. Ficou tranqüilo ao ouvir o filho escutando música e foi dormir descansado. Porém, o Ataíde já há muito tempo estava jogando sinuca. Antes de pular a janela do quarto, não se esqueceu de ligar o rádio, a fim de ludibriar o pai.

A terceira sinuca da praça era no sobrado do Victor Parames, em cima do armazém do Pena Bastos, que ficava ao lado da atual Drogaria Musa. A sinuca pertencia ao Tenente Nélson Fiuza Pessoa. Antes, aquele mesmo local foi sede do tiro de guerra do próprio Tenente Nélson. Os tiros de guerra eram corporações militares da época da ditadura de Getúlio Vargas para funcionários públicos, comerciários e estudantes, que, ao concluir o tiro de guerra, não precisavam servir o exército. 0 povo chamava seus integrantes, em virtude do uniforme e espingarda, de caçadores de rolinha. A sinuca do Tenente Nélson era a maior das três da praça. Possuía sete mesas tujagues e mais duas de bilhar francês (pequena mesa sem caçapa com três bolas, cujo objetivo é carambolar, ou seja, com uma bola acertar as outras duas na mesma tacada). Quem tomava conta da sinuca era o velho Miranda, ajudado pelo Nena. De um modo geral, os taquinhos do Bernardino e Mau Cheiro também o eram na sinuca do tenente. 0 Hélio Matos, entretanto, foi quem proporcionou as partidas mais brilhantes do sobrado. 0 Antônio "Panela", jogador de sinuca profissional, estava sempre na praça e no salão, porém, quase não jogava ali. Seu reduto foi na sinuca de Cascadura, onde era considerado o melhor jogador do subúrbio da Central. A sinuca do Tenente Nélson foi a última a terminar, no final da década de 1950. Depois disso, alguns sinuqueiros da Praça Seca passaram a jogar no Campinho, no botequim do Alvarino.

O ambiente na praça na década de 1940 era propicio às brincadeiras a rapaziada. Após a ditadura de Getúlio Vargas e a promulgação da nova Constituição Brasileira em 18 de setembro de 1946, realizaram-se no antigo Distrito Federal, atual município do Rio de Janeiro, as eleições municipais em 1947. Na Praça Seca, surgiram diversos candidatos verdadeiros e um fictício: o Sapo. Figura folclórica da praça, o Sapo era caixeiro do armazém do Arnaldo, situado onde hoje é o Cine Baronesa (38). Ninguém o conhecia pelo verdadeiro nome, Altamiro. Morava com os pais, Dona Maria e Aniceto, num barraco nos fundos de um terreno baldio, onde atualmente existe o prédio número 727 da Rua Baronesa, quase em frente à Academia Corpus.

A galhofa de fazer o Sapo um falso candidato a vereador partiu dos motoristas de táxi da época, liderados pelo Manduca, Heitor e Russo do Marangá; Toda a população aderiu à sátira, e houve até animados comícios no coreto. Lá em cima, o Sapo fazia pose e discursava. Atrás dele, uma pessoa murmurava: e ele repetia tudo: "sou candidato a varredor e se for eleito vou fazer jorrar cachaça do chafariz da praça". 0 encerramento da campanha foi digna de qualquer candidato verdadeiro, com até desfile de carros. Muita gente levou a sério, e, quando abriram as urnas, apareceram muitos votos para o Sapo. Quase nessa mesma época, os motoristas da praça bolaram um concurso de feiúra entre o Sapo e o Barão , que terminou empatado (o Barão também era caixeiro e trabalhava no armazém do Barros. Morou na Rua Baronesa número 856). 0 Sapo morreu logo depois das eleições de 1947. Sua figura bastante feia, porém, bondosa e sempre disposta a cooperar com a brincadeira, angariou simpatia da população. Por isso, teve cortejo fúnebre nunca visto. 0 carro funeral já estava no Largo do Tanque, e a fila de automóveis que o seguiam terminava na Praça Seca. 0 Barão morreu anos depois, já na década de 1950, atropelado em frente à quitanda do Vieira.

Na primeira metade da década de 1950, as pessoas vinham à praça comprar jornais e revistas, pois o único jornaleiro da região ficava ao lado da Padaria Marangá. Nos anos de 1950, o movimento na Rua Cândido Benício era bastante reduzido. Os poucos automóveis europeus e americanos (a indústria automobilística brasileira ainda não havia sido implantada) tornavam o trânsito suave e permitiam aos pedestres atravessarem em fração de segundos, apesar de não existir sinal em toda a extensão da Cândido Benício. Para o abastecimento, o veiculo tinha que ir fora dos limites da Praça Seca. As duas bombas de gasolina mais próximas, movidas por alavanca manual, eram no Largo do Campinho e na loja do Jacó e Milieme, no Tanque. Na época, os jovens não dirigiam carros. Haviam exceções, como era o caso do Pedro Vieira, filho do dono da pedreira da Rua Maricá; e dos irmãos Hélio e Paulo Matos, que usavam o automóvel do pai.

O Darci era o único mecânico da região, com oficina no local da atual vila atrás do edifício do Bradesco (que já foi loja do Bob"s). Ele atualmente reside nos Estados Unidos , onde prosperou, por causa da experiência em mecânica de carros americanos, adquirida com os anos de trabalho na Praça Seca. Na entrada para a oficina do Darci, exatamente onde é o Bradesco, naqueles tempos, existiam duas casas geminadas, nas quais moravam o Lucas e o Álvaro do açougue. 0 Lucas foi quem fundou a Ótica Marli em 1951, que, inicialmente. ocupou meia-porta do antigo Foto Mallet, no sobrado do Parames. Em 1956, a ótica mudou-se para a loja atual.

A mais famosa brincadeira da rapaziada da praça, durante a década de 1950, foi a de atirar colegas no lago. Cada dia, um estava escalado e, após o banho involuntário, descobria que foi o escolhido. Certa feita, o Ricardo, hoje delegado de policia (40) foi jogado no lago. Como morava na própria praça, foi para casa, trocou de roupa e voltou limpo. Aproximou-se da turma e, com um sorriso, comentou esportivamente o fato. Foi lançado novamente ao lago. Outra vez foi para casa, retornando com novo traje, mas caiu pela terceira vez dentro d"água. Então, o pessoal prometeu que a brincadeira já havia terminado. 0 Ricardo foi e voltou arrumado, porém, muito desconfiado. Quando tentaram agarrá-lo, desvencilhou-se e correu. Chegou até a porta do Cine Ipiranga e pediu ao gerente Efraim para entrar. 0 próprio Efraim foi quem o salvou, impedindo que os outros o seguissem já no interior do cinema.

Um fato interessante, também sobre o lago, aconteceu com o Antônio "Panela". Tudo surgiu na sinuca do Tenente Nélson, quando disseram para o Ivan do Tanque que o Panela era bicha e para o Panela que o Ivan queria jogar sinuca com ele. A principio, o Panela acreditou na estória, mas, depois, descobriu que tudo era gozação. Então, fingiu que era mesmo afeminado, a fim de dar uma lição ao Ivan. Convenceu-o a descer e, dizendo que o lago estava cheio de peixinhos dourados, o levou até a sua proximidade. Chegando na beira, deu um empurrão, e o Ivan caiu na água de terno e gravata. 0 Panela se divertia criando casos insólitos. Certa vez, um grupo, cansado das suas brincadeiras, o amarrou numa árvore, escrevendo a palavra "ladrão" e o deixou sozinho na praça. 0 Panela, porém, só ficou alguns minutos preso, pois convenceu a um transeunte a soltá-lo. Logo que ficou livre, correu para o banheiro do botequim do Bernardino, enchendo uma folha de jornal com merda. Pegou um lotação e pediu ao motorista para diminuir a velocidade junto à turma que o amarrou, que descontraída caminhava pela Rua Cândido Benício. 0 Panela saltou de surpresa e lambuzou de merda os rostos de todos. A turma das brincadeiras do lago parava muito no lado da praça, onde fica o Cine Baronesa (38). Seu principal ponto de reunião era na antiga Leiteria e Bar dos Sports do Ataliba, que nessa época, década de 1950, era o botequim do Aníbal Gordo, que trouxe de Portugal, para trabalharem ali, o Arão, Mário e Zé. Na década de 1960, esse bar passou a pertencer ao Antônio e Dona Isabel. A sinuca do Tenente Nélson era outro lugar de reunião dessa rapaziada, que, às vezes, também ia ao botequim do Bernardino, do outro lado da praça, a fim de confraternizar-se com o grupo de lá. A turma do Bernardino era a mais antiga, com alguns remanescentes até da década de 1930.

A turma do lago, com intuito de seu próprio entretenimento, formou um time de futebol. 0 nome escolhido foi Champanhota, tirado de um termo muito usado pelo colunista Ibrahim Sued e popularizado num samba cantado por Jorge Veiga. A idéia do Champanhota vingou, e surgiram equipes rivais. Assim, o próprio Champanhota, liderado pelo Geraldo Louro, organizou, em 1955, um torneio de futebol, disputado à noite no Parames, exclusivamente para as diversas turmas da praça. 0 torneio foi o grande acontecimento da época, com a participação de 13 times. Alguns, além do Champanhota, tinham os nomes vinculados ao samba de Jorge Veiga, como era o caso da Dama de Preto e Depois Eu Conto. Outros, possuíam nomes pitorescos, como os Onze Sinuqueiros, Gravatinhas, Agrião, Canavial e Camarões. O principal favorito era a equipe dos Onze Sinuqueiros, com ótimos jogadores, entre os quais, o Gilberto Gin, Manoel Português, Amauri Cuca e João Bagulho. A Dama de Preto, formada por garotos do Jacarepaguá Tênis Clube, também era um dos favoritos, com os cobras Miltinho e Heraldo, além do gordo Iwalmar, que, por causa do volume do corpo, jogava parado no meio campo, mas só dava passe certo no pé do companheiro.

Ninguém acreditava no Champanhota, pois criou-se em torno da turma uma idéia estereotipada de bagunceiros, farristas e brincalhões. Mas o pessoal do Champanhota também sabia jogar futebol. 0 Joaquim (professor) e o Maquinho (Max Noronha) eram excelentes jogadores (o Maquinho, inclusive, na década de 1940, jogou pelo Marangá). Outras virtudes do time, que surpreenderam os adversários, foram: o preparo físico do Zé Perereca, o potente chute do Paulo Matos e o goleiro Orlando Careca (que jogou no Vila Albano). 0 Champanhota acabou terminando em primeiro lugar, junto com a Dama de Preto. Só que nunca houve decisão extra, e a turma do Jacarepaguá Tênis Clube jamais viu a taça destinada ao campeão. 0 time do Champanhota era formado com Orlando; Geraldo Louro e Amauri Coqueiro; Cadete, Zé Perereca e Tininho Louro; Édson Viana, Joaquim, Paulo Matos, Maquinho e Hélio Matos. A Dama de Preto com Zandelmo; Zeca e Paulo Cavina; Léo Migon, Ywalmar e Gilberto Bordalo; Gilson Bordalo, Arlindo Ricon, Antônio Faya (o Boneco), Miltinho e Heraldo.

O pessoal da Praça Seca freqüentava a praia do canal e quebra-mar, únicos lugares da Barra da Tijuca onde existiam habitações nos anos de 1950. A partir de uns 300 metros do quebra-mar até o Recreio não havia ninguém, nem aos domingos de verão, parecendo a um Brasil pré-cabraliano (o loteamento do Recreio dos Bandeirantes surgiu no início dos anos de 1960. E a Barra da Tijuca somente começou a crescer a partir da década de 1970). 0 canal da Barra e a praia junto ao quebra-mar eram, na década de 1950, quase exclusivamente usados pelos habitantes de Jacarepaguá. Na década de 1960, é que começaram a aparecer por ali turmas do bairro da Tijuca. A rapaziada da Praça Seca tinha seus cobras na natação, como o Marialvo, Tininho Louro, Zé Perereca e, mais tarde, já na segunda metade da década de 1950, juntaram-se a eles, o Hélio Colored e o Paulo Pintado.

No sábado de aleluia de 1958, na esquina do Cine Baronesa, houve um verdadeiro festival de judas, com quinze bonecos pendurados nos postes, simbolizando os candidatos a vereadores moradores da Praça Seca. Na hora da malharão, o movimento de pessoas foi tão grande que parou o trânsito. Outro tipo de brincadeira da rapaziada era a colocação de faixas fictícias, conclamando o povo para shows com artistas famosos do rádio, como, por exemplo, Caubí Peixoto e Ângela Maria. A finalidade era trazer muita gente para a praça nos dias mortos de meio da semana, principalmente atrair as moças.

0 famoso baile do Havaí foi idealizado na Praça Seca. Foi criado por Cíd Bob Nélson e Mato Grosso, que, no final da década de 1950, organizaram o primeiro no Jacarepaguá Tênis Clube, cujo salão foi ornamentado imitando àquela ilha do Pacifico. A idéia foi tão boa, que, mais tarde, diversos clubes realizaram também esse evento. Atualmente, a Noite do Havaí faz parte da programação do carnaval carioca, mas quase ninguém sabe que sua origem aconteceu na Praça Seca e que os bailes iniciais do Jacarepaguá Tênis Clube eram no meio do ano ao invés do carnaval.

0 Bar Maracangalha foi o ponto de reunião da rapaziada, durante todo o período em que funcionou, de 1958 a 1968. 0 estabelecimento ocupou a loja do antigo armazém do Antônio, ao lado do açougue do Aielo. Hoje, essas duas lojas são partes do Supermercado de Carnes Sol da Nave. 0 Maracangalha não tinha sequer porta e ficava aberto às 24 horas do dia. Durante a madrugada, vinham pessoas de bairros adjacentes, como foi o caso da Zaquia Jorge e outros artistas, que, após os espetáculos do Teatro Madureira, terminavam a noite no bar. 0 proprietário do Maracangalha era o Paulo Monteiro, filho do dono da Padaria Olga. Seus métodos de trabalho facilitavam o contato com uma freguesia muito heterogênea. Certa vez, o Barral (uma das figuras que foi para o folclore da praça) discutia com um empregado que não pagaria o sanduíche de queijo, pois não era verdade que o tinha comido. 0 Paulo se aproximou do Barral, que continuou negando. Então, com sua calma peculiar, pegou um palito. Pediu ao Barral para abrir a boca e, como se fosse um odontologista, tirou entre os dentes um resíduo do queijo. 0 Barral ficou sem graça e acabou confirmando que tinha comido realmente o sanduíche, mas que não tinha dinheiro. 0 Paulo não se perturbou, apanhou um papel e mandou o Barral assinar um vale para acertar depois.

Outro lugar tradicional dos anos de 1960 foi a Lanchonete Rajah, que, inicialmente, pertenceu ás baianas. Antes de abrir esse bar, que ficava ao lado da Ótica Marli, as duas baianas faziam ponto em frente aos cines Ipiranga e Baronesa. Depois das baianas, o proprietário foi o Paulo do Maracangalha. No meado da década de 1960, o bar possuía mesas na calçada, embaixo de cobertura metálica, quando foram donos o Betinho e; depois, o Geraldo das batidas.

Na década de 1960, a turma da praça costumava-se reunir, no final da noite, no caramanchão em frente â garagem da prefeitura. Ali se jogava xadrez, damas, pregobol (tipo de futebol num tabuleiro cheio de pregos) e sueca. 0 jogo de sueca (atualmente existente um frente ao supermercado e outro em frente à Prefeitura) é mais recente, pois começou a aparecer, apôs a reforma da praça em 1977. Nos anos de 1960, a turma do Champanhota participou do "boom" imobiliário da Zona Sul, pois o Júlio Bogoricin, quando iniciou na corretagem de imóveis: formou sua equipe com o pessoal da Praça Seca.

0 romantismo da praça começou a desaparecer no inicio da década de 1970. A formação de grandes industrias, a edificações de enormes conjuntos residenciais e loteamentos em várias regiões de Jacarepaguá tornaram a Rua Cândido Benício, local de passagem obrigatória para todos os pontos do bairro, com um movimento de carros cada vez maior. Quando a rua recebeu o nome de Cândido Benício, na década de 1890, a população total de Jacarepaguá era, de apenas 16.070 habitantes. Menos de cem anos depois, na década de 1970 atingiu 232.726 habitantes. No censo de 1980, chegou a 332.345 habitantes. A estimativa para 1986 ê de 385.418 habitantes. Em 1975, a Cândido Benício tornou-se mão única na direção do Campinho à Praça Seca. A direção Praça Seca ao Campinho passou a ser pelas ruas Baronesa, Pedro Teles, Maricá, Teles e Francisco Gifoni (46). 0 trânsito continua crescendo, principalmente no verão, quando o fluxo de pessoas que procuram a faixa litorânea aumenta consideravelmente. Assim, a Praça Seca transformou-se do lugarejo bucólico e pitoresco, afastado do centro da cidade, em uma cidade própria com todos os seus problemas.

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