História - O melhor do bairro de Méier, Zona Norte, Rio de Janeiro, RJ

HISTÓRIA DO BAIRRO

 

A ocupação da Região Grande Méier começou quando Estácio de Sá doou aos jesuítas a extensa Sesmaria de Iguaçu. Esta Sesmaria englobava uma vasta extensão de terras que incluía os atuais bairros do Grande Méier e de outras Regiões, como Catumbi, Tijuca, Benfica e São Cristóvão. No entorno do atual bairro do Méier, os padres instalaram três engenhos de açúcar: Engenho Velho, Engenho Novo e São Cristóvão.
Os jesuítas utilizavam grande número de escravos em seus empreendimentos, o que impulsionou a ocupação territorial e a expansão demográfica da área. A colonização teve início nos territórios do Engenho Velho e do Engenho Novo, estendendo-se posteriormente aos núcleos que se formavam no entorno dos templos construídos pelos religiosos, como a Igreja de São Francisco Xavier (1625).

A construção, em 1720, da capela dedicada a São Miguel e N. Sa. da Conceição, no Engenho Novo, impulsionou o crescimento da área que ia do Engenho Novo e Benfica até o atual bairro Engenho de Dentro.

Em 1759, quando o Marquês de Pombal expulsou os jesuítas, as terras passaram às mãos de Manuel Gomes, Manuel da Silva e Manuel Teixeira. Com o objetivo de explorar a madeira e, posteriormente, para o cultivo de frutas e hortaliças, os três devastaram as matas ainda existentes, formando os grandes espaços vazios que atraíram posseiros e foreiros e permitiram a ocupação do solo.

Os escravos forros construíram barracos no Morro dos Pretos Forros, estendendo a ocupação ao entorno dos núcleos nascidos devido à influência religiosa. Mais tarde, a colonização foi acelerada com a descoberta de ouro nas proximidades da atual rua Frei Fabiano, adensando-se nas encostas do conhecido Morro do Vintém, assim chamado popularmente em função do pagamento, com poucos vinténs, pelo trabalho de escravos e homens livres pobres, no garimpo de ouro.

Em 1783, foi criada a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Engenho Novo. Pode-se dizer que os subúrbios cariocas nasceram no Engenho Novo, pois foi a partir daí que o progresso se acentuou. Dois outros bairros tiveram também grande importância para o crescimento da Região: Engenho de Dentro e São Francisco Xavier. Do século XVIII até o Segundo Império, a Região adensou-se gradativamente, tendo sido ocupada por chácaras e sítios. O comércio foi se desenvolvendo no entorno dos antigos engenhos, capelas foram implantadas e núcleos sub-urbanos surgiram com mais intensidade. Um desses locais de comércio, a Venda do Mateus, deu origem ao atual bairro do Lins de Vasconcelos, entre Engenho Novo e Engenho de Dentro.

A família Duque-Estrada Meyer teve um papel relevante no desenvolvimento da Região. Inicialmente, através da atuação do comendador Miguel João Meyer, português de origem alemã e um dos homens mais ricos da Cidade, no final do séc. XVIII. Posteriormente, já no Império, através das iniciativas de seu filho, o camarista Augusto Duque Estrada Meyer.

Por suas funções e qualidades pessoais, o camarista tornou-se um nobre com grande influência junto ao Imperador Pedro II. Tendo herdado jóias do pai, estas lhe possibilitaram tornar-se grande proprietário de terras na Região. E sua visão progressista transformou a área, que perdeu o aspecto tipicamente sub-urbano do Segundo Império para assumir uma feição urbana.

Com seus extensos campos, a Região tornara-se importante para o crescimento da Cidade, no início por atender ao transporte coletivo - carruagens e bondes à tração animal - e mais tarde, por abastecer as tropas na Guerra do Paraguai. A partir da segunda metade do século XIX, quando começaram a circular os trens da Estrada de Ferro Pedro II, em 1858, os subúrbios foram definitivamente ocupados, ao longo da linha férrea e no entorno das estações.

Ainda não havia estação no Méier, apenas uma parada na cancela em frente à Chácara do Bastos, conhecida como Perna de Pau por causa do canceleiro, que tinha apenas uma perna. Marco definitivo da expansão do Méier, a estação só foi criada em 1888, em terrenos doados pelos filhos do camarista, que morreu em 1882.

A partir daí, as terras foram loteadas e as ruas pantanosas foram sendo saneadas. Os bairros surgiam agora com uma feição mais urbana: Lins, Engenho Novo, Engenho de Dentro e Piedade, entre outros. Os nomes muitas vezes eram homenagens a importantes proprietários de chácaras na Região.

A Linha Auxiliar (E. F. Rio Douro) incrementou a ocupação em outro sentido e de forma mais irregular, permitindo o aparecimento dos atuais bairros do Cachambi, Maria da Graça e Del Castilho, os dois últimos integrados atualmente à vizinha Região Leopoldina.

Em 1903, com o desmembramento do Engenho Novo, acelera-se o desenvolvimento da Região. Liderando o processo estava o bairro do Méier. Ali se implantaram importantes e precursoras casas de negócios e magazines: a Casa Marques e a Casa Lopes, a Foto Quesada e as famosas e chiques confeitarias Moderna e Japão, que atraíam pessoas de toda a Cidade.

Três grandes projetos ajudaram a valorizar a Região: a construção da Basílica do Imaculado Coração de Maria, única em estilo mourisco da Cidade, projetada pelo arquiteto Morales de los Rios, no início do século XX; o prédio do Quartel do Corpo de Bombeiros, em 1914, e o Jardim do Méier, construído pelo prefeito Paulo de Frontin em 1919, com projeto de seu antecessor, Azevedo Sodré.

A Região sempre foi berço de personalidades de destaque na cultura e história da Cidade e do País. Entre elas destacam-se os escritores Lima Barreto e Arthur Azevedo, o jornalista Dias da Cruz, os médicos Lins de Vasconcelos e Arquias Cordeiro, o ator e jornalista Eduardo Magalhães, o ministro General Dionísio Cerqueira (conhecido como Dignificador dos Subúrbios Cariocas) e a sambista Araci de Almeida. Foi ainda pioneira em tecnologia industrial em aço e papel fino, desenvolvida pelo industrial José T. de Carvalho, e teve também seu jornal local, o Subúrbio, impresso no começo do século XIX no bairro Sampaio..

Entre 1937/45 a vida noturna tornou-se intensa e, na década de 1950, o bairro do Méier passou por grandes transformações, principalmente no eixo da rua Dias da Cruz. Durante muito tempo a galeria do Cine Imperator foi um dos pontos de grande movimentação cultural da Cidade. Em 1996, com as obras municipais do Rio-Cidade, a Região ganhou um novo impulso e vitalidade.


FONTES BIBLIOGRÁFICAS:

Oliveira, Kátia Cavalcanti de, Monografia: Bonsucesso, um bairro em renovação,1982.
Universidade Gama Filho, Um bairro chamado Piedade: Memória de um subúrbio carioca.
Abreu, Maurício de Almeida, Evolução urbana do Rio de Janeiro, 1997, 3a edição, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro.