História - O melhor do bairro de Belenzinho, São Paulo, SP

Ano de 1899. Surge um novo bairro que foi desmembrado do bairro do Brás por decreto do presidente Dr. Fernando Prestes Albuquerque. Seu nome? Belém. Ou melhor, como o próprios moradores antigos corrigem: Belenzinho. Dois anos antes era inaugurada a paróquia São José do Belém, que pertencia a Igreja Bom Jesus do Brás, em 15 de agosto de 1897. Neste mesmo dia foi realizado o primeiro batismo na paróquia; a criança era Izolina, filha de José de Augusto da Rocha e Rosa Garcia Passos. O primeiro casamento ocorreu em 4 de setembro deste mesmo ano entre Dário Francisco Chaves e Antônia de Castro.

Pelo fato da região ser cercada por chácaras, pomares e ar puro era procuradíssima pelas ricas famílias de São Paulo. Em 1909, o bairro ganha sua primeira escola: Grupo Escolar do Belenzinho, posteriormente chamado de Amadeu Amaral. Quem hoje entra no colégio que foi tombado pelo patrimônio histórico, se surpreende com a conservação da sua estrutura, mantida pelos seus dirigentes. No ano de 1908, a população do Belenzinho chega a 10.000 habitantes. Já em 1910, os belenenses ganham seu primeiro lazer: o Cine São José de Belém. Dentro em pouco, aparecem as fábricas que iriam impulsionar o desenvolvimento na região, começando pelas vidrarias. Como diria Jacob Penteado, autor do livro "Belenzinho 1910", eram chamadas pomposamente de cristalerias. Entre elas: a Germânia, a Multividros, a Barone e a Lusitana. Depois vieram as tecelagens, Santista, Matarazzo, Lanifício Inglês, Fileppo, Gasparian e Varan.


Os moradores: memória viva

Muitos belenenses vivem e trabalham há muito tempo no mesmo local. Vários deles fizeram a história do bairro, como Manoel Pitta, 71 anos, presidente da Sociedade dos Amigos do Belém, desde 1971, e diretor do Clube dos Lojistas, desde 1967. Ele nasceu exatamente na loja onde trabalha na rua Silvia Jardim esquina com a rua Herval. Já Manoel Ferreira dos Santos, 73 anos, barbeiro, atendia os funcionários do Moinho Santista (hoje Sesc Belenzinho) cortando seus cabelos e aparando barbas. O salão permanece no mesmo local, na Rua Serra de Bocaína, 355, desde 1959. Ou como Nicolau Cassia, 73 anos, que depois do falecimento do sogro, administra uma farmácia no Largo São José do Belém, desde 1952; o mecânico Kakito, 74 anos, que conserta automóveis há 54; o alfaiate Antônio Ferrari, que com 74 anos, 40 de experiência, continua produzindo ternos e roupas no seu ateliê na rua Padre Adelino. Aliás, rua que recebeu a primeira fábrica de rádios do Brasil, na década de 30: a Cacique. Foi nela também que Gabriel Simão, 81 anos, instalou em 1960 a "Gabriel Simão e Cia", fábrica que produz até hoje tubos de fenolite para bobinas eletrônicas, a princípio para rádios e posteriormente para TVs. Foi uma das indústrias pioneiras deste ramo no País.


Pelas ruas e avenidas

Ao comentar sobre as instalações da Febem, na Avenida Celso Garcia (que erroneamente chamamos de Febem do Tatuapé), Nicolau Cassia lembra: "No meu tempo não era Febem, era o Instituto Disciplinar Modelo. Aos domingos via-se aqueles garotos internos de uniforme branco com botões dourados, de botas lustrosas, bem distante da realidade de hoje". A Celso Garcia foi a artéria do bairro. Nela instalavam-se grandes famílias e seus casarões. Nesta via estabeleceu-se a Fábrica de Tubetes Pinus. Primeiramente denominada de Tubetes Pinto, levando o sobrenome do proprietário, Evaristo Rodrigues Pinto.

Nesta empresa Simão conseguiu seu primeiro emprego aos 13 anos, em 1935. Os moradores relembram saudosos esta época. Um exemplo disso é a declaração de Antônio Serveira Quintas Filho, 73 anos: "Lembro-me dos bondes, onde o ponto final ficava na Avenida Álvaro Ramos (...) O vai e vem no Largo São José do Belém. Tudo isso era maravilhoso", referindo-se aos passeios em volta do Largo, quando moças e rapazes da década de 40 e 50 aproveitavam para paquerar seus pretendentes. Outro palco de muitas recordações da região é o restaurante "Formiga". Situado no Largo São José do Belém, desde 1922, recebeu várias pessoas ilustres como: Luiz Gonzaga (cuja mesa preferida era a de número 19), Nelson Gonçalves e Moacir Franco.


Belenzinho hoje

Atualmente o bairro enfrenta dificuldades. Com o passar dos anos, muitas indústrias foram embora deixando enormes galpões desativados. As mansões da Celso Garcia transformaram-se em cortiços.
Falta lazer em toda extensão do bairro. Não há cinemas, shoppings e lojas âncoras na região, além do agravante de ter dois cadeiões próximos a Febem. O comércio enfraqueceu, como atesta Manoel Pitta: "Seu grande concorrente são os shoppings em bairros vizinhos". A construção da Avenida Alcântara Machado (Radial Leste) dividiu o bairro ao meio.
Sendo que estas partes são ligadas através do Viaduto Guadalajara. Apesar disso, os próprios moradores tentam reverter o quadro.

A Sociedade Amigos do Belém, juntamente com o Clube dos Lojistas e o Conseg conseguiram instalar há 3 anos uma cabine comunitária da Polícia Militar no Largo São José do Belém.
Ela foi a primeira do gênero, na cidade de São Paulo e hoje é considerada modelo, contando com 12 guardas divididos em 3 turnos; câmeras; telefones e computador.
Diminuiu o número de furtos e não há índices de homicídios. Mas, o grande problema que aflige os moradores é a Febem, pois a instituição implantou o regime semi-aberto.
Mas a boa notícia vem com o decreto assinado pelo governador Geraldo Alckmin, que vai desativá-la, e no local será construído o Parque Estadual do Belém.
O ramo imobiliário tem voltado seus olhos para a região. Isso porque ela tem pontos a favor. Entre eles, a estação do Metrô Belém (inaugurada na década de 80) e os bons colégios.
Recentemente o bairro recebeu o Sesc, inicialmente com o nome de Tatuapé. A Sociedade Amigos do Belém lutou para que ele fosse rebatizado como Sesc Belenzinho.
Nada mais justo, pois ele está localizado na Av. Álvaro Ramos, no Belém.
Esse é o Belenzinho...com seu jeito de cidade do interior. Onde ainda sobra um tempinho para uma prosa com o vizinho ou uma jogada de cartas com os velhos conhecidos.


Crédito da matéria: Revista IN Online